terça-feira, 27 de agosto de 2013

Diminui otimismo internacional acerca do futuro da Índia

Diminui otimismo internacional acerca do futuro da Índia
Por GARDINER HARRIS e BETTINA WASSENER

NOVA DÉLI - Nos últimos dez anos, a Índia vinha dando a impressão de estar prestes a assumir seu lugar ao lado da China como uma das potências econômicas e estratégicas dominantes da Ásia. Sua economia estava crescendo, suas Forças Armadas se fortaleciam e seus líderes ganhavam destaque no cenário mundial.
Mas um verão repleto de problemas prejudicou a confiança do país, e um coro crescente de críticos começa a indagar se a ascensão da Índia não poderá demorar anos ou décadas para se completar -muito mais tempo do que alguns esperavam.
"Existe um senso crescente de desesperança, especialmente entre os jovens", disse Ramachandra Guha, um dos principais historiadores do país.
Três fatos recentes vieram cristalizar esses novos receios. No último 14 de agosto, um dos mais avançados submarinos indianos, o Sindhurakshak, explodiu e afundou em seu ancoradouro em Mumbai.
No dia 16 de agosto, um general indiano de alto escalão anunciou que a Índia matou 28 pessoas nas últimas semanas na área da linha de controle na Caxemira, nos piores combates travados entre Índia e Paquistão desde um cessar-fogo acordado em 2003.
No mesmo dia, o índice Sensex, da Bolsa de Mumbai, caiu quase 4%. Nenhum dos fatos teve qualquer relação com os outros, mas, vistos em conjunto, traçam o retrato de um país que está rapidamente perdendo sua confiança.
As dificuldades econômicas indianas talvez sejam o fator mais problemático. "Hoje a Índia é o doente da Ásia", comentou Rajiv Biswas, economista-chefe para a Ásia-Pacífico da provedora de informações financeiras IHS Global Insight.
Alguns dos problemas vêm de longa data: burocracia sufocante, infraestrutura superada e aparente incapacidade para implementar mudanças urgentemente necessárias. Os investidores fizeram vista grossa para esses problemas durante anos, atraídos pelo potencial de um mercado de 1,2 bilhão de pessoas. O dinheiro fluiu para a Índia, permitindo ao país disfarçar seu deficit crônico de conta corrente e proporcionando certo grau de comércio externo e investimentos.
Mas, após mais de uma década de tentativas, em grande parte vãs, de chegar ao mercado interno da Índia e de usar a mão de obra do país para manufaturar produtos de exportação, muitas empresas estrangeiras estão começando a perder a paciência. Justamente no momento em que elas começam a desanimar, a recuperação da economia americana vem levando investidores a tirar recursos dos mercados emergentes e redirecioná-los aos EUA.
Analistas temem que o aumento da inflação, a desaceleração do crescimento, a desvalorização da moeda e o enfraquecimento da confiança dos investidores possam gerar um círculo vicioso.
A explosão do submarino destacou mais uma vez os desafios estratégicos que enfrentam as Forças Armadas da Índia e até que ponto elas estão atrasadas em relação à China. A Índia ainda depende da Rússia para mais de 60% de suas necessidades de equipamentos de defesa, e seu Exército, Força Aérea e Marinha têm equipamentos que, em muitos casos, datam de décadas atrás.
Além disso, analistas dizem que é pouco provável que a Índia ganhe peso no palco mundial se não chegar a algum acordo com o antigo rival Paquistão.

Gardiner Harris escreveu de Nova Déli e Bettina Wassener de Hong Kong

Reportagem do The New York Times, reproduzida na Folha de São Paulo

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