quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Soldado que vazou dados dos EUA ao Wikileaks é condenado a 35 anos de prisão


O ex-analista de inteligência do governo americano Bradley Manning foi condenado a 35 anos de prisão nesta quarta-feira (21) por ter vazado arquivos confidenciais ao site Wikileaks.

A sentença foi proferida pela juíza-coronel Denise Lind, no tribunal de Fort Meade -- uma base militar nos arredores de Washington --, por volta das 10h20 do horário local (11h20 horário de Brasília). Manning foi exonerado do serviço militar e perdeu todos os subsídios da carreira. Além da condenação, a Corte determinou que Manning seja afastado com "desonra" das Forças Armadas.   
O ex-analista de inteligência júnior, de 25 anos, foi declarado culpado por 20 acusações, entre as quais de espionagem e fraude eletrônica por ter vazado mais de 700 mil arquivos ao site de Julian Assange. No entanto, Manning poderá tentar a liberdade condicional em oito anos, levando em conta o cumprimento de um terço da pena, menos os anos já confinados.
A possível liberdade do soldado em menos de nove anos foi considerada uma "vitória estratégica" para o Wikileaks, que fez a declaração via Twitter.
David Coombs, advogado de Manning, deve falar sobre o veredicto na tarde de hoje.

Ativistas protestam

Após a sentença, Manning foi retirado rapidamente da corte aos gritos de "nós continuaremos lutando por você, Bradley" e "você é nosso herói" de apoiadores que estavam no tribunal.
Segundo a promotoria militar, o vazamento de dados promovido por Manning durante seu serviço no Iraque em 2010 colocou os Estados Unidos em perigo, assim como suas delegações civis e militares em vários países.
A promotoria militar já havia pedido que o soldado fosse condenado a 60 anos de prisão. A pena máxima a que ele poderia ter sido submetido era de 90 anos, embora já estivesse preso há três anos. A defesa brigou por 25 anos.
O complexo processo judicial começou com as vistas preliminares em dezembro de 2011, enquanto o julgamento começou em junho.
Colaboradores do site Bradleymanning.org, que fazia campanha para absolvição do soldado, convocaram uma vigília na base de Fort Meade e um protesto na Casa Branca nesta quarta-feira.
O jornalista Gleen Greenwald, que publicou uma série de reportagens sobre o esquema de espionagem da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos no jornal "The Guardian" ironizou a sentença de Manning em um post no Twitter:
"Os EUA nunca serão capazes de falar novamente ao mundo sobre o valor da transparência e da liberdade de imprensa sem causar um ataque de riso mundial."
A ONG norte-americana União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) declarou ser "muito errado" um soldado que compartilhou informações com o público ser punido "muito mais severamente do que outros que torturaram prisioneiros e mataram civis".
"Um sistema legal que não faz distinção entre vazamentos à imprensa de interesse público e traição à pátria não só produzirá resultados injustos, mas vai privar o público de informações importantes que é necessário para a responsabilidade democrática. Este é um dia triste para Bradley Manning, mas também é um dia triste para todos os americanos que dependem de denunciantes corajosos e de uma imprensa livre para um debate público informativo".
Anistia Internacional pediu ao presidente Barack Obama que considere o pedido de clemência e diminua a sentença de Manning.
"A Bradley Manning deveria ser dada clemência em reconhecimento de seus motivos para agir como fez, o tratamento que sofreu em sua primeira detenção pré-julgamento, e as deficiências do devido processo legal durante o julgamento", disse o AI Widney Brown. 
Birgitta Jonsdottir, parlamentar islandesa que trabalha com o Wikileaks, também criticou Obama e declarou que o julgamento de Manning "nunca foi justo".
"Apesar de ser um professor de direito constitucional, o presidente como comandante das Forças Armadas dos EUA - e Manning foi julgado em uma corte marcial - declarou Manning culpado preventivamente".

Maior vazamento da história

Na semana passada, Manning pediu desculpas e lamentou que seus atos tinham prejudicado as pessoas e os EUA. Durante o julgamento, a defesa destacou os problemas de identidade sexual na juventude, bem como sua difícil infância com pais alcoólatras.
Entre os vazamentos de Manning, estava o registro de um ataque aéreo de um helicóptero americano em um grupo de civis em Bagdá, incluindo jornalistas. O conteúdo filmado tornou-se uma bomba midiática ao ser revelado pelo WikiLeaks. O flagrante promoveu uma série de debates sobre a impunidade aos militares norte-americanos nos últimos conflitos armados.
O soldado, que realizou o maior vazamento de informação da história, foi absolvido no final de junho da acusação mais grave a que foi acusado, a colaboração com o inimigo, que por si só implicava uma sentença de prisão perpétua.(Com agências internacionais)

Reprodução do UOL Notícias

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