terça-feira, 27 de agosto de 2013

Alemanha batalha contra redução populacional

Alemanha batalha contra redução populacional
Berlim luta contra queda da população

Por SUZANNE DALEY e NICHOLAS KULISH

SONNEBERG, Alemanha - À primeira vista, esta pequena cidade na região central da Alemanha parece próspera e bem cuidada. Mas o vice-prefeito Heiko Voigt pode apontar dúzias de casas desocupadas, que ele duvida que sejam vendidas algum dia.
A realidade é que a população alemã está encolhendo e que cidades como essa lutam para esconder seu vazio. Voigt já supervisionou a demolição de 60 casas e 12 prédios de apartamentos, estrategicamente criando áreas gramadas. "Estamos tentando manter a cidade com boa aparência", afirmou ele.
O interior alemão talvez seja o lugar ideal para testemunhar o impacto cada vez mais visível da forte redução das taxas de fertilidade europeias nas últimas décadas, problema com implicações assustadoras para a economia e a psique do continente.
A força de trabalho está envelhecendo rapidamente, e as linhas de montagem estão sendo redesenhadas para minimizar atividades que exijam curvar as costas e erguer peso.
No Censo mais recente, a Alemanha descobriu que havia perdido 1,5 milhão de habitantes. Até 2060, dizendo especialistas, o país pode perder mais 19% da população, ficando com cerca de 66 milhões de habitantes.
Demógrafos dizem que um futuro semelhante aguarda outros países europeus, mas que poucos estão em condições de fazer algo a respeito.
Até agora, embora gaste US$ 265 bilhões por ano em subsídios para famílias, a Alemanha só conseguiu provar como é difícil enfrentar o problema. Isso ocorre em parte porque a solução está em rever valores, hábitos e atitudes em um país que tem um conturbado histórico na aceitação de imigrantes e onde as trabalhadoras com filhos ainda costumam ser rotuladas como negligentes.
Para que a Alemanha evite uma grave escassez de mão de obra, dizem especialistas, ela terá de encontrar formas de manter os trabalhadores mais velhos nos seus empregos e precisará atrair imigrantes. Também precisará colocar mais mulheres na força de trabalho e convencê-las a ter mais filhos.
Vários estudos mostram que os índices de desemprego elevados -acima de 50% entre os jovens em países como Grécia, Itália e Espanha- estão desencorajando ainda mais os jovens a terem filhos. Segundo a União Europeia, o número total de nascidos vivos em 31 países europeus caiu 3,5% entre 2008 e 2011, de 5,6 para 5,4 milhões. Em 1960, cerca de 7,5 milhões de crianças nasceram em 27 países europeus.
Além do mais, há cerca de quatro trabalhadores para cada aposentado na União Europeia. Até 2060, a média cairá para dois trabalhadores por pensionista, segundo a UE. Críticos dizem que a Alemanha conseguiu poucos resultados por meio dos benefícios para filhos e mães que ficam em casa e com as isenções tributárias para pessoas casadas.
Há quem considere que um melhor investimento para a fertilidade seria ampliar as redes de creches e programas pós-escolares, ajudando mulheres que fazem malabarismos entre a carreira e a maternidade.
Mas é difícil reverter anos de subsídios para as famílias tradicionais. Melanie Vogel, 39, de Bonn, descobriu ao ter um filho que a tentativa de misturar trabalho e maternidade a deixaria solitária, desanimada e sem dinheiro. Nenhuma das suas amigas trabalha em tempo integral, e sua sogra deixou claro que desaprovava a tentativa de conciliar as coisas, assim como os clientes da empresa de recrutamento profissional que ela dirige com o marido."Antes de o meu filho nascer, eu era Melanie, uma mulher de negócios", disse Vogel. "Mas, depois que meu filho nasceu, para muita gente eu era apenas uma mãe."
O governo alemão também está elevando a idade de aposentadoria, de 65 para 67 anos. A participação de pessoas de 55 a 64 anos na força de trabalho subiu de 38,9% em 2002 para 61,5% em 2012.
A Volkswagen redesenhou sua linha de montagem para facilitar tarefas que exigem curvar o tronco e levantar os braços, tornando-as assim menos desgastantes para o corpo dos operários. Outras empresas estão oferecendo jornadas de trabalho flexíveis.
Diante dos índices de desemprego elevados em todo o sul e leste da Europa, a Alemanha está em boas condições de atrair talentos de seus vizinhos, e já começou a fazer isso. No entanto, com centenas de milhares de postos de trabalho qualificados em aberto, alguns executivos acreditam que a Alemanha deveria alterar suas leis imigratórias. Muitos líderes estão examinando a cultura alemã, ávidos por fazerem o que for necessário para tornar o país mais hospitaleiro.
Um recente estudo mostrou que mais de metade dos gregos e espanhóis que chegavam à Alemanha ia embora em menos de um ano. Muitos dos que chegam são jovens altamente qualificados que veem um mercado global para suas capacidades.
Reiner Klingholz, do Instituto de Berlim para a População e o Desenvolvimento, disse: "Acho que a resposta é que precisamos olhar para fora da Europa".


Reportagem do The New York Times, reproduzida na Folha de São Paulo.

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