segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A invisibilidade dos palestinos


A invisibilidade dos palestinos
Gush Etzion, Cisjordânia

Outro dia, eu estava sentado em um café chamado English Cake em um shopping center neste grupo de assentamentos perto de Jerusalém. Os colonos israelenses -muitos não gostam desse termo- bebiam café turco, paquerando enquanto comiam doces e desfrutavam o sol da tarde. A cena era descontraída, como é a vida geralmente hoje em dia. O conflito, pelo menos na Cisjordânia, está presente, mas não é premente.
A poucos metros de mim, um menino palestino segurava uma escada para seu pai, que estava sobre nossas cabeças consertando o toldo, uma inversão da situação geral que coloca os palestinos fracos embaixo dos poderosos israelenses. Os israelenses ao meu redor não tomaram conhecimento de suas presenças. O menino e seu pai estavam invisíveis.
Essa é cada vez mais a situação dos palestinos para os israelenses: invisibilidade. Não é a barreira de separação que serpenteia sobre os morros que garante isso, embora tenha tido uma influência. Não é o esgotamento dos sonhos de paz, duas décadas depois de Oslo, embora isso também tenha influenciado. Eu acho que é o acúmulo de 45 anos de dominação nos territórios ocupados que levou à conclusão israelense de que essa é uma situação inevitável e que, seja qual for o desconforto causado por essa opressão, é melhor ignorá-la através da cegueira seletiva.
A maioria das pessoas em Gush Etzion nem sequer pensa em si mesmas como vivendo além da Linha Verde. Israel certamente reclamaria a área em qualquer acordo de paz.
Nos shoppings de Tel Aviv, onde uma nova afluência israelense é palpável (a desigualdade de renda é crescente aqui, como em outros lugares), o conflito parece ainda mais distante. A cada ano, os mundos habitados por palestinos e israelenses divergem cada vez mais. Aqui não há a fábula da tartaruga e da lebre. A tartaruga palestina continua mergulhada em um pântano desordenado. A lebre israelense disparou para a modernidade tecnológica. Parece que a corrida já terminou.
A eleição israelense no mês passado foi notável por ser a primeira em que a questão palestina quase não apareceu e por dar destaque político a um ex-âncora de televisão, Yair Lapid. Ele parece simpático, razoável e moderado -um homem comum de boa aparência para um país que quer ser normal-, mas suas opiniões e suas políticas continuam imprecisas. Seus temas, até onde entraram em foco, foram domésticos. Ele pediu que os ultraortodoxos sejam recrutados pelo Exército e defendeu a classe média espremida sob o slogan: "Onde está o dinheiro?". Ele desviou-se dos assentamentos e do conflito.
Mas é claro que o enfoque de Lapid para as questões internas não está tão distante do conflito ou da cena em Gush Etzion quanto poderia parecer. As boas rodovias, os longos túneis e as barreiras elaboradas que acompanham a vida dos colonos na Cisjordânia custam caro. Consomem verbas, assim como o enorme orçamento da Defesa de Israel. Fui a um posto avançado na constelação de Gush Etzion cujos trailers estavam sob a proteção do Exército e tinham sido conectados à rede elétrica. É aí que está o dinheiro. Pelo menos onde está grande parte do dinheiro. O dinheiro em Gush Etzion, é claro, não está disponível para construir jardins de infância em Tel Aviv.
Antes de começar o governo, que quase certamente será chefiado por um Binyamin Netanyahu enfraquecido, Lapid precisa deixar clara sua posição sobre a expansão dos assentamentos. Isso também vai esclarecer sua posição sobre as negociações de paz para dois Estados. Novos assentamentos não preparam o terreno para um Estado palestino, eles desgastam essa possibilidade. Se Lapid quiser fazer parte de uma coalizão mais moderada que retome as negociações com os palestinos, ele não pode substituir imprecisão por política.
A tranquilidade atual é um pouco mais frágil do que parece. Três jovens palestinos já foram mortos neste ano em incidentes na Cisjordânia. A reação israelense ao protesto palestino não violento muitas vezes é agressiva. A Autoridade Palestina está sem caixa, em parte porque Israel não transferiu a receita fiscal. Os salários não são pagos, os professores estão em greve. Todas as reformas na Cisjordânia liderada pelo primeiro-ministro Salam Fayyad -reformas que aumentaram drasticamente a segurança dos israelenses- deveriam levar à criação de um Estado, mas isso não aconteceu. Em consequência, o humor palestino está azedo.
Israel é um milagre de criatividade, de determinação e de força. Mas não pode transformar a anormalidade em invisibilidade. Os palestinos na Cisjordânia estão lá, tão próximos quanto o homem pendurado acima daqueles animados olhares israelenses que não o veem.


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