quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Diploma universitário vira exigência mínima para conseguir emprego nos EUA



O diploma universitário está se transformando no novo diploma do ensino médio: é a nova exigência mínima para conseguir um emprego de baixo nível.

Considere o caso do escritório de advocacia Busch, Slipakoff & Schuh aqui em Atlanta, com 45 funcionários, um local que viu um crescimento tremendo na população com ensino superior. Como outras empresas por todo o país, o escritório só contrata pessoas com diploma universitário, mesmo para funções que não exigem formação superior.

Esse pré-requisito se aplica a todos, incluindo a recepcionista, assistentes administrativos e arquivistas. Até o "office-boy" da firma, que, por US$ 10 por hora, leva os documentos do escritório para o tribunal e vice-versa, fez um curso de quatro anos.

"As pessoas com formação universitária são mais voltadas para a carreira", disse Adam Slipakoff, o sócio do escritório. "Cursar uma faculdade significa que estão realmente comprometidos com seu futuro. Eles não estão apenas à procura de um contracheque."

Os economistas se referem a esse fenômeno como "inflação de diploma" e ele está se infiltrando cada vez mais no mercado de trabalho americano. Por todos os setores e áreas geográficas, muitos outros empregos que antes não exigiam diploma –posições como assistentes de dentista, agentes de carga e balconistas– cada vez mais exigem um, segundo a Burning Glass, uma empresa que analisa anúncios de emprego de mais de 20 mil fontes online, incluindo grandes agências de empregos e sites de empregadores de pequeno e médio porte.

Esse aumento das exigências está empurrando aqueles com menor formação ainda mais para baixo na cadeia alimentar, e ajuda a explicar por que a taxa de desemprego para trabalhadores com não mais do que o diploma do ensino médio é duas vezes maior do que para aqueles com diploma universitário: 8,1% contra 3,7%.

Alguns empregos, como o de gestão da cadeia de suprimentos e logística, se tornaram mais técnicos, de modo que exigem mais conhecimentos avançados do que no passado. Mas de forma mais ampla, como muito mais pessoas cursam uma faculdade atualmente, aquelas que não se formam são frequentemente vistas como pessoas menos ambiciosas ou menos capazes. 
"Quando você recebe 800 currículos para cada anúncio de emprego, é preciso selecioná-los de algum modo", disse Suzanne Manzagol, recrutadora executiva do Cardinal Recruiting Group, que caça talentos para posições administrativas na Busch, Slipakoff & Schuh e outras firmas na área de Atlanta.
De todas as áreas metropolitanas nos Estados Unidos, Atlanta foi a que contou com um dos maiores afluxos de pessoas com diploma superior nos últimos cinco anos, segundo uma análise dos dados do censo por William Frey, um demógrafo da Instituição Brookings. Em 2012, 39% dos anúncios de emprego para secretárias e assistentes administrativos na área metropolitana de Atlanta exigiam diploma superior, em comparação a 28% em 2007, segundo a Burning Glass.

"Quando comecei a recrutar em 2006, você não precisava de diploma superior, mas não havia tantos candidatos", disse Manzagol.

Mesmo que não apliquem o conhecimento aprendido nas aulas de ciência política, finanças e marketing, os jovens empregados pela Busch, Slipakoff & Schuh dizem que são gratos até mesmo pelo pior dos empregos de escritório que conseguiram.

"É melhor do que lavar carros", disse London Crider, 24 anos, o office-boy da firma.

Ele deve saber: passou vários anos, enquanto estudava da Universidade Estadual da Geórgia e nos meses após sua formatura, lavando sedãs na Enterprise Rent-a-Car. Antes de entrar para o escritório de advocacia, ele foi rejeitado em uma promoção para agente de locação na Enterprise –uma posição que também exigia diploma superior– porque a empresa disse que ele não tinha experiência suficiente em vendas.

Seus colegas com formação superior também enfrentam oportunidades de trabalho limitadas, trabalhando nos restaurantes da rede Ruby Tuesday ou como balconistas no varejo enquanto esperam pelo surgimento de um emprego melhor.

"Eu tenho mais de US$ 100 mil em dívida de crédito estudantil no momento", disse Megan Parker, que ganha US$ 37 mil como recepcionista da firma. Ela se formou pelo Instituto de Arte de Atlanta em 2011, com diploma de gestão de moda e varejo, e passou meses ajudando noivas em uma butique, entre outras lojas, enquanto preenchia solicitações de emprego.

"Eu provavelmente nunca verei o fim dessa conta, mas não estou pensando nisso no momento", ela disse. "Este é um ótimo lugar para trabalhar."

O risco de contratar pessoas com formação superior para cargos para os quais são exageradamente qualificados é o de partirem tão logo encontrem algo melhor, particularmente se a economia melhorar.

Mas Slipakoff disse que sua firma apresenta pouca rotatividade de funcionários, em grande parte por estar expandindo rapidamente. A empresa cresceu de cinco advogados em 2008 para mais 30 advogados, além do apoio de cerca de 15 funcionários, e as promoções são constantes.

"Eles esperam que você cresça e eles querem que você cresça", disse Ashley Atkinson, que se formou pela Universidade do Sul da Geórgia em 2009 com um diploma de estudos gerais. "Você não fica presa aqui sob algum teto de vidro."

Um ano após ser contratada como arquivista, por volta do Dia das Bruxas de 2011, Atkinson foi promovida duas vezes para cargos em marketing e gestão do escritório. Crider, o office-boy, recebeu trabalho adicional no mês passado, ajudando na cópia e faturamento dos casos. Ele disse que está aproveitando a oportunidade para aprender mais sobre o setor legal, já que planeja se matricular em um curso de Direito no ano que vem.

A maior história de sucesso da forma é Laura Burnett, que em menos de um ano passou de arquivista para assistente jurídica do setor de litígio da firma. Ela não pediu pela promoção, mas os sócios ficaram tão impressionadas com seu trabalho que acharam que ela seria capaz de assumir a nova função.

"Eles também me deram um aumento", disse Burnett, que se formou em 2011 pela Universidade do Oeste da Geórgia.

A posição típica de assistente jurídico, que tradicionalmente oferece um caminho para um emprego mais bem remunerado para trabalhadores com menor formação, não exige mais do que um diploma técnico, segundo o manual ocupacional do Departamento do Trabalho, mas ainda é um avanço em relação ao trabalho de arquivista. Das três filhas da família, Burnett reconhece que é aquela com o melhor emprego. Uma irmã, também formada pela Oeste da Geórgia, está processando pedidos de seguro; outra, que abandonou a faculdade, é uma das muitas pessoas jovens que não conseguem encontrar trabalho.

Além de gerar abertura para promoções, estabelecer um ambiente de realização universitária também cria uma atmosfera social de clube no escritório, disse Slipakoff, que cuida de grande parte das contratações da firma e é parcial na contratação de formados pela Universidade da Flórida como ele. Muitos discutem futebol universitário e os times uns dos outros, por exemplo. E a última árvore de Natal do escritório foi enfeitada com mascotes das faculdades –vespas, lobos, águias, tigres, panteras– com praticamente as escolas de todos os funcionários representadas.

"Se alguém chegar aqui apenas com um diploma colegial ou algo semelhante, eu posso ver como poderia se sentir ligeiramente deslocado na atmosfera social daqui", ele diz. "Há uma espécie de laço ou coesão no fato de todos aqui terem cursado uma faculdade." 
Reportagem de Catherine Rampell, para o The New York Times, reproduzida no UOL. Tradutor: George El Khouri Andolfato

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