Sai a tortura, entram os assassinatos assépticos praticados por robôs aéreos operados à distância, os drones.
Há, por trás de ambos, algumas coisas em comum:
1) Nomes que contornam a lei internacional, como "técnicas duras de interrogatório" e "assassinatos seletivos" ou "signature strikes" (cujo alvo é escolhido por comportamento-padrão).
2) A ideia de que o presidente dos EUA pode matar quem quiser, quando e onde quiser, para defender o país da ameaça terrorista. A definição de "ameaça" é elástica.
3) Reconhecimento de que a tática em questão é controversa, mas seu uso se valida ao dar aos EUA vantagem ímpar sobre o inimigo. A ética dúbia dessas execuções extrajudiciais que muitas vezes matam mais do que a intenção inicial ("danos colaterais", no jargão), porém, serve aos terroristas ao recrutar.
4) Falta de clareza sobre alvos válidos: líderes terroristas, ameaças iminentes, ou até mesmo soldados rasos?
5) Cooperação velada de governos cujo apreço pelos direitos humanos é questionado em fóruns globais, mas raramente em Washington.
Por isso, as operações com drones deste governo americano são cada vez mais visadas por organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas, pela mídia e por grupos civis.
Mesmo na lógica de defesa da tática, sua eficácia é incerta. Assim como torturados morriam ou a violação de direitos não se traduzia em informações de peso, robôs erram o alvo.
Micah Zenko, um estudioso do Council on Foreign Relations dedicado ao tema, estima, com base em relatos jornalísticos, que ao menos 401 civis tenham morrido entre os 3.430 assassinatos por drones desde 2000 -ou 12%.
Se o número pode soar baixo na mesa de decisões militar, ele causa estardalhaço em campos de recrutamento, como bem captou a ficção na premiada série "Homeland".
Para especialistas em política, Obama arrisca: o impacto sobre a imagem e o poder dos EUA de inspirar pode se tornar para seu governo o que virou a tortura para Bush.
Hoje, 1 em cada 3 americanos se opõe aos drones. Não há apoio majoritário em nenhum outro dos países pesquisados pelo Centro Pew.
Nenhum comentário:
Postar um comentário