sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Mulheres etíopes denunciam a administração forçada de contraceptivos em Israel


"Se seu médico esconder de você os efeitos secundários do medicamento que está lhe receitando e você não tem outra maneira de averiguar, seu direito de decisão está sendo infringido", diz Orit Isaschar, porta-voz da Associação Israelense para os Judeus Etíopes. Orit coordena uma das ONGs de direitos humanos que há poucos dias enviou uma carta ao Ministério da Saúde exigindo a suspensão imediata da administração de injeções de Depo-Provera – um poderoso contraceptivo de longa duração – em mulheres de origem etíope, que supostamente desconheciam seus efeitos secundários (dores de cabeça, sangramento abundante e osteoporose) e que aparentemente não foram informadas sobre a existência de outros métodos alternativos. O uso extensivo do Depo-Provera "gera fortes suspeitas de que estamos falando de uma política deliberada para controlar a natalidade nesta comunidade", dizia a carta enviada às autoridades.
O escândalo veio a público quando cerca de trinta delas ofereceram seu depoimento em um programa de televisão que tentava dar uma resposta à queda de mais de 20% na taxa de natalidade desse grupo étnico, segundo um informe da organização Isha L’Isha. "Disseram para nós que pessoas que davam à luz muitas vezes sofriam. Tomávamos a injeção a cada três meses. Nós não queríamos", contou diante das câmeras uma das etíopes que chegou a Israel há oito anos.
A maioria dessas mulheres, que são acolhidas nos chamados "centros de absorção", já recebiam – de acordo com seus próprios testemunhos – o anticoncepcional injetável nos acampamentos que a Agência Judaica administra na Etiópia, passagem obrigatória antes do translado para Tel Aviv. "Descobrimos que 57% das mulheres que iam para as consultas para receber o Devo-Provera eram etíopes e que uma vez em Israel continuaram com as injeções", comenta Hevda Eval, porta-voz do Isha L’Isha. "Suspeitamos que havia motivações étnicas para reduzir seu número de filhos porque sua taxa de natalidade é maior que a do resto", diz.
O Ministério da Saúde de Israel e a Agência Judaica afirmam desconhecer a prática de injeções com Depo-Provera. Mas os ativistas não acreditam. "É impossível que não soubessem", denuncia Orit Isaschar. "Estamos falando de anos e de milhares de mulheres afetadas, como é possível acreditar que ninguém soubesse?", conclui a porta-voz da ONG.

Reportagem de Ana Garralda, para o El País, reproduzido no UOL . Tradução de Lana Lim.

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