JERUSALÉM - O documentário "The Gatekeepers" [Os guardiões], indicado ao Oscar, entrelaça as lembranças e reflexões de seis ex-chefes do Shin Bet, o serviço israelense de segurança interna, numa perturbadora narrativa da ocupação feita por Israel nos territórios palestinos desde 1967. Nos EUA, as confissões desses implacáveis caçadores de terroristas alimentaram críticas de judeus liberais ao governo de Israel.
No entanto, um dos personagens do filme, Ami Ayalon, receia que o documentário não tenha muito impacto em Israel. Ele dirigiu o Shin Bet de 1996 a 2000. "Quando é duro demais, a forma mais fácil de lidar com o problema é fechar os olhos e tapar os ouvidos."
A grande questão é se "Gatekeepers", um filme de 97 minutos que custou US$ 1,5 milhão, irá mudar isso. Ele já conseguiu chamar a atenção: pelo menos dez críticos cinematográficos americanos o colocam na lista das melhores produções de 2012, e a chancelaria israelense recebe consultas quase diárias das suas embaixadas sobre como lidar com a reação nos países onde ele será exibido.
Aqui em Israel o filme recebeu críticas positivas, mas não chegou a iniciar uma revolução. As questões abordadas não figuraram, por exemplo, na recente campanha eleitoral. Até 20 de janeiro, cerca de 22 mil pessoas haviam visto o filme -bastante para um documentário, mas muito pouco numa população de quase 8 milhões de pessoas.
A mensagem de "The Gatekeepers", forjada pela sabedoria coletiva dos seis ex-chefes do Shin Bet ainda vivos, é a seguinte: a ocupação é imoral e -o que é talvez mais importante- ineficaz. Israel deveria deixar a Cisjordânia, como fez em 2005 na Faixa de Gaza. A perspectiva de uma solução com dois Estados para o conflito palestino diminui diariamente, ameaçando o futuro de Israel como uma democracia judaica.
O diretor do filme, Dror Moreh, 51, disse recentemente que a força do documentário não reside tanto na sua mensagem, mas sim nos seus mensageiros. Os seis chefes do Shin Bet falam com um misto de orgulho e vergonha sobre as letais operações e os brutais interrogatórios. Um deles refere-se a um assassinato específico como "muito limpo e elegante".
"Eles sabem melhor do que ninguém da situação", disse Moreh. "Eles estiveram lá, fizeram o trabalho. Qualquer israelense que não esteja ideologicamente corrompido terá que ouvir o que eles estão dizendo."
O que eles estão dizendo?
"Na guerra contra o terror, esqueça a moralidade." Esse é Avraham Shalom, que renunciou desonrosamente em 1986, após mandar matar dois palestinos que haviam sequestrado um ônibus.
"Não se pode fazer a paz usando meios militares", diz o hoje ministro Avi Dichter, que comandou a agência de 2000 a 2005.
Um porta-voz do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu disse que ele ainda não viu "The Gatekeepers" e nem pretende fazê-lo.
Moreh disse que Netanyahu tampouco lhe mandou uma mensagem de congratulações pela indicação ao Oscar.
Mas e se ele ganhar o prêmio?
"Não estou esperando que ele me ligue", disse Moreh. "Eu lhe pediria para ir ver o filme e pensar no que é dito ali pelos principais responsáveis pela segurança do Estado de Israel."
Destaque do blogueiro.
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