Essas palavras já estão de tal modo incorporadas ao nosso cotidiano que não exigem mais destaque em itálico ou entre aspas. Todo dia, a gente diz ou ouve com a maior naturalidade frases assim:
– Não deixa de me mandar o link.
– Tranquilo. A nossa live vai bombar.
Quase nunca bomba, mas se toma mate amargo durante o evento. É link e live o tempo todo. A conversa pode tomar rumos curiosos.
– Qual o aplicativo? Streamyard?
– Não, vai ser no Meet.
– Ainda usando o Mano.
– Nunca ouvi falar. Eu usava muito o Hangout.
Rola. As pessoas se entendem. Os mais deslumbrados tiram uma onda. Usam aquela condescendência que os faz dormir maravilhados:
– Sabe o Webex? Se não sabe, eu te mostro. É bem simples.
Só não participa de live quem está morto. Em geral, de medo de não corresponder à expectativa. O mate roda e a conversa prossegue:
– Qual a plataforma do curso online?
– Vimeo.
– E da live?
– Vamos pagando o Streamyard para ter multiplataforma: Twitter, Facebook e Youtube. Só não dá pra jogar no Insta. É uma limitação.
Insta, claro, é o Instagram para os íntimos. E quem não é íntimo? Com as redes sociais só não vai quem se atrasou. Dizer que está fora é se condenar ao desprezo da sociedade por cem anos. Na educação, o Zoom deita e rola. O que mais se ouve é “tipo assim”:
– Te mando o link.
– Vou poder compartilhar a tela?
– Óbvio. Compartilhar a tela, gravar e usar tradução simultânea.
– Tu serás o anfitrião?
– Sim. Te ponho como “co”.
– Sextou.
Vez ou outra, dá rolo. A moça ficou indignada. Falava ao celular, de máscara, enquanto atravessava a rua com o sinal fechado:
– Me mandaste o link errado. Não era a fala da Greta Thumberg.
– Puxa! Que houve?
– Entrei na sala errada.
– Quem estava falando?
– O Steve Bannon.
É um mundo novo no qual tudo envelhece rápido, especialmente os usuários. Numa live sobre nostalgia um cara pediu o e-mail do outro:
– E-mail? Que negócio é esse?
– Correio eletrônico, pô!
– Isso não é do tempo do fax?
Noutra live, que nada acontece fora das lives, a menina falou com uma candura que me fez pensar nos tempos da inocência presencial:
– Tem cripto?
– Claro. Totalmente segura.
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