Reino Unido caminha para desigualdade do século 19
Em 2030, 0,1% mais bem pago terá 14% dos salários
DE LONDRES
Estudo encomendado pelo governo do Reino Unido expõe o crescimento da desigualdade social no país, com alta considerável da diferença entre os salários dos executivos de grandes empresas e os do britânico médio.
Hoje, o 0,1% mais bem pago leva para casa o equivalente a 5% da soma de salários do país, mesmo percentual do início dos anos 40.
A partir daquela década, as coisas começaram a mudar. Profissões que exigiam menos qualificação passaram a ser mais bem remuneradas, e houve um achatamento no "andar de cima".
Como resultado, em 1979 o mesmo 0,1% mais bem pagos ficava com 1,3% do total de salários do país, o que denotava maior igualdade.
Mas a década de 80, dos yuppies e do início da ciranda financeira, fez tudo mudar outra vez, e os supersalários voltaram, principalmente pela inclusão de bônus.
Agora, projeções apontam que o 0,1% irá abocanhar 10% do conjunto dos salários em 2025 e 14% em 2030. Isso, dizem os especialistas, era o retrato do Reino Unido na era vitoriana (1837-1901), quando a rainha Vitória era a chefe de Estado e o país não consolidara uma classe média.
O estudo considera supersalários os superiores a 350 mil libras/ano (R$ 929 mil). Já o salário médio é de 17,1 mil libras (R$ 45,4 mil).
Cerca de 47 mil pessoas estão entre os super-remunerados. Um terço deles trabalha no setor financeiro, o mesmo que causou a crise de 2008.
Nesse setor, há presidentes de banco cuja soma de salário mais bônus ultrapassa 3,4 milhões de libras/ano (R$ 9 milhões). Para atingir esse valor, o britânico médio deve trabalhar quase 200 anos.
A organizadora do estudo, Deborah Hargreaves, afirma que o crescimento da desigualdade é um problema mais econômico que moral.
Para ela, é muito difícil retomar o crescimento da economia quando os salários só de alguns disparam, enquanto o da maioria nem acompanha a inflação. A grande massa, com menos dinheiro, reduz as compras, o que emperra a volta do crescimento.
É o que tem acontecido. O salário da média da população subiu 7,2% de 1998 a 2008. O dos mais ricos, 64%.
O estudo mostra ainda que a desigualdade não tem coloração política. Nos 13 anos de governo do Partido Trabalhista (1997-2010), ela aumentou, apesar de o partido ter discurso mais à esquerda e ser ligado aos sindicatos.
HEREDITARIEDADE
Nos EUA, uma pesquisa feita sobre riqueza e mobilidade social no Reino Unido mostrou em números o que sempre foi uma obviedade: há um componente de hereditariedade na riqueza.
O estudo, conduzido por Gregory Clark, professor de economia da Universidade da Califórnia, mostra que pessoas com sobrenomes ligados à elite no século 19, como Percy, Darcy ou Mandeville, continuam mais ricas hoje que aqueles com sobrenomes que remontam a artesãos (Smith, Carpenter).
Os de sobrenomes nobres também vivem mais, em média três anos. Mas não foi sempre assim, afirma o estudo. Segundo Clark, a mobilidade social era muito mais intensa antes da Revolução Industrial do que é agora.
(VAGUINALDO MARINHEIRO)
Em 2030, 0,1% mais bem pago terá 14% dos salários
DE LONDRES
Estudo encomendado pelo governo do Reino Unido expõe o crescimento da desigualdade social no país, com alta considerável da diferença entre os salários dos executivos de grandes empresas e os do britânico médio.
Hoje, o 0,1% mais bem pago leva para casa o equivalente a 5% da soma de salários do país, mesmo percentual do início dos anos 40.
A partir daquela década, as coisas começaram a mudar. Profissões que exigiam menos qualificação passaram a ser mais bem remuneradas, e houve um achatamento no "andar de cima".
Como resultado, em 1979 o mesmo 0,1% mais bem pagos ficava com 1,3% do total de salários do país, o que denotava maior igualdade.
Mas a década de 80, dos yuppies e do início da ciranda financeira, fez tudo mudar outra vez, e os supersalários voltaram, principalmente pela inclusão de bônus.
Agora, projeções apontam que o 0,1% irá abocanhar 10% do conjunto dos salários em 2025 e 14% em 2030. Isso, dizem os especialistas, era o retrato do Reino Unido na era vitoriana (1837-1901), quando a rainha Vitória era a chefe de Estado e o país não consolidara uma classe média.
O estudo considera supersalários os superiores a 350 mil libras/ano (R$ 929 mil). Já o salário médio é de 17,1 mil libras (R$ 45,4 mil).
Cerca de 47 mil pessoas estão entre os super-remunerados. Um terço deles trabalha no setor financeiro, o mesmo que causou a crise de 2008.
Nesse setor, há presidentes de banco cuja soma de salário mais bônus ultrapassa 3,4 milhões de libras/ano (R$ 9 milhões). Para atingir esse valor, o britânico médio deve trabalhar quase 200 anos.
A organizadora do estudo, Deborah Hargreaves, afirma que o crescimento da desigualdade é um problema mais econômico que moral.
Para ela, é muito difícil retomar o crescimento da economia quando os salários só de alguns disparam, enquanto o da maioria nem acompanha a inflação. A grande massa, com menos dinheiro, reduz as compras, o que emperra a volta do crescimento.
É o que tem acontecido. O salário da média da população subiu 7,2% de 1998 a 2008. O dos mais ricos, 64%.
O estudo mostra ainda que a desigualdade não tem coloração política. Nos 13 anos de governo do Partido Trabalhista (1997-2010), ela aumentou, apesar de o partido ter discurso mais à esquerda e ser ligado aos sindicatos.
HEREDITARIEDADE
Nos EUA, uma pesquisa feita sobre riqueza e mobilidade social no Reino Unido mostrou em números o que sempre foi uma obviedade: há um componente de hereditariedade na riqueza.
O estudo, conduzido por Gregory Clark, professor de economia da Universidade da Califórnia, mostra que pessoas com sobrenomes ligados à elite no século 19, como Percy, Darcy ou Mandeville, continuam mais ricas hoje que aqueles com sobrenomes que remontam a artesãos (Smith, Carpenter).
Os de sobrenomes nobres também vivem mais, em média três anos. Mas não foi sempre assim, afirma o estudo. Segundo Clark, a mobilidade social era muito mais intensa antes da Revolução Industrial do que é agora.
(VAGUINALDO MARINHEIRO)
Notícia da Folha de São Paulo, de 7 de junho de 2011.
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