quinta-feira, 9 de junho de 2011

O lugar onde um deus morreu - sobre Sathya Sai Baba e a cidade de Puttaparthi, na Índia

O lugar onde um deus morreu

Uma cidade indiana que dependia de um líder espiritual
Por JIM YARDLEY

PUTTAPARTHI, Índia - Sri Sathya Sai Baba, que se declarou um "deus vivo" e passou décadas montando um império espiritual, permeia todos os cantos desta pequena cidade indiana.
Ele a transformou de uma aldeia com choças de barro em um centro de fé com aeroporto privativo, universidade, dois grandes hospitais, torres de condomínios e um estádio -um legado que, hoje, impõe uma pergunta a seus seguidores: o que acontece quando um deus morre?
Quando Sai Baba morreu em abril aos 84 anos, o país fez uma pausa em reverência, embora misturada com ceticismo.
Cerca de 900 mil pessoas prestaram homenagem em seu velório e funeral, que foram transmitidos ao vivo para todo o país. Os críticos o rotularam de fraude e lamentaram a predisposição indiana para empresários religiosos.
Sai Baba era um líder espiritual, mas também o chefe de um império avaliado em bilhões de dólares. Empresários estão se perguntando se os fiéis continuarão vindo; as obras pararam subitamente em várias torres residenciais.
As instituições médicas, educacionais e filantrópicas de Sai Baba, de repente, ficaram sem um líder. E, para os crentes, não há questão de quando e de que forma ele será reencarnado.
"Não sentimos que eles nos deixou", disse Poonam Khialani, 52, um devoto que veio de Cingapura no mês passado, em visita. "Apenas sentimos que sua forma física não esteja mais aqui."
Em maio, a população de Puttaparthi ainda parecia atordoada, mas também se dizia otimista de que a cidade continuará prosperando como local de peregrinação.
Em 1940, então com 14 anos, Sai Baba se declarou a reencarnação de um antigo homem santo hindu, Sai Baba de Shirdi, que morreu em 1918.
Enquanto se espalhava a notícia sobre esse pequeno guru de volumosa cabeleira crespa, os fiéis começaram a aparecer em Puttaparthi.
A organização de Sai Baba era inigualável em escala, com grupos de serviços em todos os Estados e grandes cidades indianas, além de ashrams em mais de 126 países. O ashram principal aqui funciona como uma pequena cidade independente.
Assim como outros homens-deuses autoproclamados, Sai Baba foi denunciado como fraude por muitos céticos, que zombavam dos "milagres" que ele realizou -produzir cinzas sagradas dos seus dedos ou relógios Rolex do seu cabelo.
Também houve polêmica sobre alegações de pedofilia contra meninos, acusações negadas por sua organização. Nenhuma denúncia foi registrada. Sai Baba construiu grandes hospitais para os pobres e supervisionou projetos voltados para o abastecimento de água.
Em Puttaparthi, os empresários já estão vendo mudanças. Se antes os devotos vinham para passar semanas ou meses perto do guru, eles, hoje, fazem viagens curtas a seu túmulo.
Quase toda a economia local dependia dele: cerca de 10 mil trabalhadores nas construções e centenas de aldeões vendedores de frutas e legumes para os visitantes.
A maioria dos devotos tem certeza de que a atração de Sai Baba só vai aumentar.
Circulam, entre os fiéis, histórias sobre "milagres" testemunhados em todo o mundo desde sua morte: cinzas sagradas que apareceram sobre uma foto dele em Uganda; cinzas que saem do nariz de uma estátua do guru na Rússia; e devotos que o viram materializar-se.
Sai Baba se descrevia como a segunda encarnação de uma trindade e previa que a terceira nasceria no Estado vizinho de Karnataka. Mas muitos creem que voltará como ele próprio.
"Pensamos que ele voltará mesmo nessa forma", disse Sai Prakash, um devoto criado no ashram. "Existem sinais."

Colaborou Hari Kumar


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