Sítio nuclear soviético sob proteção dos americanos
Por ELLEN BARRY
Por ELLEN BARRY
KURCHATOV, Cazaquistão - Duas décadas depois da queda da União Soviética, e de dezenas de milhares de soldados terem abandonado seus postos neste sítio remoto no nordeste do Cazaquistão, as pegadas de outra grande potência -os EUA- estão cada vez mais visíveis.
O Departamento de Defesa dos EUA vem pagando por aeronaves não tripuladas e detectores de movimentos para localizar intrusos e evitar o furto do que os soviéticos deixaram para trás em áreas de terra e no labirinto de túneis que usavam para realizar testes atômicos: entre outras coisas, plutônio e urânio altamente enriquecidos que poderiam ser usados na fabricação de um artefato nuclear improvisado.
A Rússia está, com alguma hesitação, compartilhando materiais de arquivo sobre testes feitos na era soviética, e os EUA estão pagando para retirar materiais que poderiam ser usados na produção de armas ou para armazenar os materiais em segurança. O Cazaquistão está fornecendo a mão de obra, mas, pelo fato de não ser uma potência nuclear, suas autoridades são proibidas de saber exatamente o que é que estão protegendo.
"As pessoas me perguntam se estamos fazendo a coisa certa ao fechar o acesso aos túneis", disse Kairat K. Kadyrzhanov, diretor-geral do Centro Nuclear Nacional do Cazaquistão. "E eu digo que não sei o que há ali e não tenho o direito de saber."
Em 1948, na corrida para romper o monopólio americano sobre as armas nucleares, a União Soviética escolheu essa área para testar suas próprias armas. Com a queda da União Soviética, entre 20 mil e 30 mil soldados se retiraram de suas posições, deixando 500 soldados cazaques vigiando o sítio, contou Kadyrzhanov.
Desde então, o sítio de testes -ou os materiais físseis deixados no local- vem sendo motivo de preocupação para os EUA. Em 2003, autoridades cazaques contaram a um repórter da revista "Science" sobre a chamada Operação Marmota, na qual a terra contaminada por plutônio foi pavimentada com uma camada de dois metros de espessura de concreto reforçado com aço.
Telegramas divulgados pelo WikiLeaks, no ano passado, descrevem um esforço urgente para "impedir que materiais residuais nucleares caiam em mãos de terroristas", como disse um alto funcionário da Defesa em 2009.
Segundo o Instituto de Segurança de Radiação e Ecologia do Cazaquistão, depois de serem proibidos os testes sobre a superfície, os soviéticos detonaram 295 artefatos em 181 túneis sob os Montes Degelen. Cada explosão consumiu entre 1% e 30% do material físsil do artefato, deixando o combustível remanescente misturado com escombros e rochas derretidas no subsolo.
Depois da posse de Obama, os americanos pediram que o ritmo dos trabalhos fosse multiplicado por cinco, segundo Kadyrzhanov. De acordo com ele, a Rússia, que durante anos se recusou a compartilhar documentos soviéticos sobre o sítio, vem cooperando mais. "O perigo de a Rússia ocultar algo se reduziu", disse.
Com o colapso soviético, as atividades no sítio terminaram de modo tão repentino que um artefato nuclear que tinha sido colocado em um túnel, sendo preparado para um teste, ficou no local, sem ser explodido, até 1995, quando técnicos conseguiram destruí-lo sem criar uma reação nuclear, de acordo com o Centro Nuclear Nacional.
Enquanto isso, o sítio enorme estava desprotegido, e ladrões vasculhavam os túneis em busca de cabos de cobre que pudessem ser vendidos a comerciantes chineses.
Inicialmente, o problema parecia ser administrável. Em 1999, o senador Richard Lugar, republicano do Indiana, anunciou que o esforço financiado pelos EUA estava fechando definitivamente o último dos túneis. Mas ladrões locais usaram máquinas de terraplanagem e explosivos para reabrir os túneis. Em 2004, segundo o Centro Nuclear Nacional, 110 dos 181 túneis selados já tinham sido reabertos.
O esforço que teve início depois disso foi mais caro, mais urgente e mais sigiloso, em parte porque, depois do 11 de setembro de 2001, temia-se que materiais radioativos pudessem ser utilizados para a fabricação de bombas sujas. Em 2009, as autoridades americanas intensificaram a pressão sobre suas parceiras cazaques para que terminassem de selar os túneis no prazo de dois anos.
Kadyrzhanov disse que as cavidades estão sendo preenchidas com concreto que absorve resíduos de plutônio, de modo que "é mais fácil produzir plutônio a partir do zero em uma usina nuclear" do que extrair o material.
Se, disse Kadyrzhanov, algum político irresponsável tornar-se presidente do Cazaquistão e disser "'quero extrair plutônio daqui', ele teria um trabalho muito árduo pela frente. Estamos fechando o sítio de tal maneira que será praticamente impossível para gerações futuras extraírem o plutônio."
O Departamento de Defesa dos EUA vem pagando por aeronaves não tripuladas e detectores de movimentos para localizar intrusos e evitar o furto do que os soviéticos deixaram para trás em áreas de terra e no labirinto de túneis que usavam para realizar testes atômicos: entre outras coisas, plutônio e urânio altamente enriquecidos que poderiam ser usados na fabricação de um artefato nuclear improvisado.
A Rússia está, com alguma hesitação, compartilhando materiais de arquivo sobre testes feitos na era soviética, e os EUA estão pagando para retirar materiais que poderiam ser usados na produção de armas ou para armazenar os materiais em segurança. O Cazaquistão está fornecendo a mão de obra, mas, pelo fato de não ser uma potência nuclear, suas autoridades são proibidas de saber exatamente o que é que estão protegendo.
"As pessoas me perguntam se estamos fazendo a coisa certa ao fechar o acesso aos túneis", disse Kairat K. Kadyrzhanov, diretor-geral do Centro Nuclear Nacional do Cazaquistão. "E eu digo que não sei o que há ali e não tenho o direito de saber."
Em 1948, na corrida para romper o monopólio americano sobre as armas nucleares, a União Soviética escolheu essa área para testar suas próprias armas. Com a queda da União Soviética, entre 20 mil e 30 mil soldados se retiraram de suas posições, deixando 500 soldados cazaques vigiando o sítio, contou Kadyrzhanov.
Desde então, o sítio de testes -ou os materiais físseis deixados no local- vem sendo motivo de preocupação para os EUA. Em 2003, autoridades cazaques contaram a um repórter da revista "Science" sobre a chamada Operação Marmota, na qual a terra contaminada por plutônio foi pavimentada com uma camada de dois metros de espessura de concreto reforçado com aço.
Telegramas divulgados pelo WikiLeaks, no ano passado, descrevem um esforço urgente para "impedir que materiais residuais nucleares caiam em mãos de terroristas", como disse um alto funcionário da Defesa em 2009.
Segundo o Instituto de Segurança de Radiação e Ecologia do Cazaquistão, depois de serem proibidos os testes sobre a superfície, os soviéticos detonaram 295 artefatos em 181 túneis sob os Montes Degelen. Cada explosão consumiu entre 1% e 30% do material físsil do artefato, deixando o combustível remanescente misturado com escombros e rochas derretidas no subsolo.
Depois da posse de Obama, os americanos pediram que o ritmo dos trabalhos fosse multiplicado por cinco, segundo Kadyrzhanov. De acordo com ele, a Rússia, que durante anos se recusou a compartilhar documentos soviéticos sobre o sítio, vem cooperando mais. "O perigo de a Rússia ocultar algo se reduziu", disse.
Com o colapso soviético, as atividades no sítio terminaram de modo tão repentino que um artefato nuclear que tinha sido colocado em um túnel, sendo preparado para um teste, ficou no local, sem ser explodido, até 1995, quando técnicos conseguiram destruí-lo sem criar uma reação nuclear, de acordo com o Centro Nuclear Nacional.
Enquanto isso, o sítio enorme estava desprotegido, e ladrões vasculhavam os túneis em busca de cabos de cobre que pudessem ser vendidos a comerciantes chineses.
Inicialmente, o problema parecia ser administrável. Em 1999, o senador Richard Lugar, republicano do Indiana, anunciou que o esforço financiado pelos EUA estava fechando definitivamente o último dos túneis. Mas ladrões locais usaram máquinas de terraplanagem e explosivos para reabrir os túneis. Em 2004, segundo o Centro Nuclear Nacional, 110 dos 181 túneis selados já tinham sido reabertos.
O esforço que teve início depois disso foi mais caro, mais urgente e mais sigiloso, em parte porque, depois do 11 de setembro de 2001, temia-se que materiais radioativos pudessem ser utilizados para a fabricação de bombas sujas. Em 2009, as autoridades americanas intensificaram a pressão sobre suas parceiras cazaques para que terminassem de selar os túneis no prazo de dois anos.
Kadyrzhanov disse que as cavidades estão sendo preenchidas com concreto que absorve resíduos de plutônio, de modo que "é mais fácil produzir plutônio a partir do zero em uma usina nuclear" do que extrair o material.
Se, disse Kadyrzhanov, algum político irresponsável tornar-se presidente do Cazaquistão e disser "'quero extrair plutônio daqui', ele teria um trabalho muito árduo pela frente. Estamos fechando o sítio de tal maneira que será praticamente impossível para gerações futuras extraírem o plutônio."
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