quarta-feira, 15 de junho de 2011

O espírito da guerra ainda agita o Sudão

O espírito da guerra ainda agita o Sudão

Por Frédéric Bobin

Nove de julho seria uma festa para o Sudão do Sul. Um dia histórico para comemorar o nascimento do 54º Estado africano --a capital: Jouba. Até poucas semanas atrás, o otimismo era geral. Saudava-se o espírito pacífico que havia cercado a realização do referendo sobre a autodeterminação, em janeiro. Foi surpreendente a boa vontade de Cartum em se inclinar diante da escolha quase unânime dos sul-sudaneses a favor da divisão daquele que continua sendo, por mais um mês, o país mais extenso da África.

Essa atitude conciliadora do presidente Omar Al-Bashir não era algo esperado. Com a independência do Sul, o homem forte de Cartum está dando adeus a uma região que encerra três quartos das reservas nacionais de petróleo. Mas o Norte, que dispõe da infraestrutura (oleoduto, refinarias, terminais de exportação), parecia ter em mãos cartas o suficiente para negociar em sua vantagem um novo acordo de distribuição da renda do petróleo.

Infelizmente, Cartum escolheu a força para atingir seus objetivos. Aproveitando-se da preocupante impotência dos capacetes azuis da ONU enviados à região, no final de maio o exército nortista assumiu o controle da cidade de Abyei, um minúsculo enclave, mas eterno pomo da discórdia entre o Norte, árabe e muçulmano, e o Sul, povoado de negros cristãos ou animistas. O exército de Cartum também saiu de seus quartéis nos Estados de Kordofan Sul e do Nilo Azul, na antiga linha de frente durante a guerra civil entre o Norte e o Sul de 1983 a 2005. A região de Darfur voltou a se inflamar. Os ex-rebeldes sulistas no poder em Jouba, capital do Sudão do Sul, acusam Cartum de atiçar diversas insurreições entre eles.

Os conflitos armados se tornaram tão frequentes que um especialista avaliou recentemente que a região estaria novamente à beira de uma guerra.

Claro, os ex-rebeldes sulistas têm sua parte de responsabilidade na escalada da violência. Mas a comunidade internacional deve parar de ficar em cima do muro na questão: as violações mais graves do acordo de paz de 2005 são atribuídas a Cartum, seu exército, suas milícias.

Acusado pelo Tribunal Penal Internacional pelos crimes cometidos em Darfur, o presidente Bashir se lançou em um tudo ou nada mortífero para se manter no poder a qualquer custo, agora que em suas fronteiras tem soprado o vento das revoltas árabes.

Como evitar que a situação se degenere? A nova política americana, mais conciliadora em relação a Cartum, mostrou seus limites. Talvez a esperança venha da China, principal investidora na indústria petrolífera sudanesa. Rompendo com seu habitual silêncio sobre as questões internas sudanesas, Pequim pediu moderação ao Norte e ao Sul. Uma pressão conjugada dos dois deverá trazer Bashir de volta à razão para que ele respeite um acordo de paz que foi tão difícil de obter. Antes que seja tarde demais.

Tradução: Lana Lim


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