quarta-feira, 15 de junho de 2011

Nova arca, problemas modernos

Nova arca, problemas modernos
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Por JOHN TAGLIABUE

DORDRECHT, Holanda - Se Noé tivesse enfrentado alguns dos obstáculos modernos que Johan Huibers vem encarando, o reino animal poderia ser muito diferente nos dias de hoje.
Huibers, 60, o proprietário de uma empresa de construção, se dedicou, nos últimos anos, a construir uma arca, idêntica no tamanho àquela que Noé, segundo a Bíblia, construiu: 300 cúbitos (unidade de medida antiga, sendo que cada cúbito equivale a 50 cm) em comprimento ou 135 metros; 30 cúbitos de altura e 50 cúbitos, ou cerca de 23 metros, de largura.
Ele está construindo a arca usando como matéria-prima a madeira do pinheiro sueco, pois versões do livro sagrado afirmam que Deus ordenou o uso de "resina de madeira" a Noé.
Huibers diz que tal resina pode ser encontrada no pinheiro citado.
"Nós devemos terminar a construção na metade de julho", disse, enquanto levava um visitante para conhecer o convés da embarcação. "Talvez, um pouco depois disso", completou.
Diferentemente de Noé, Huibers tem de seguir as medidas de segurança contra incêndio da legislação holandesa. Por isso, é obrigado a pintar a arca, por dentro e por fora, com três camadas de verniz capaz de retardar a ação do fogo.
Para piorar, ainda há o problema dos vizinhos.
"O navio tira nossa visão", reclamou Gerrit Kruythoff, 65, que vive há 42 anos no local onde está a embarcação que Huibers, com a ajuda de dois dos seus três filhos e de vários amigos, está construindo. "Nós costumávamos ter uma visão de todo o entorno do rio", continuou Kruythoff.
Nem todos os vizinhos são contrários. "Eu já perguntei a ele se posso fazer parte da viagem de estreia", disse Annie van der Luytgaarden.
Sob o ponto de vista do dilúvio, Dordrecht, localizada na confluência de três rios, é o lugar ideal para uma arca. A cidade foi inundada diversas vezes, incluindo a pior de todas em 1421, tragédia que recebeu o nome de "St. Elizabeth", e a mais recente em 1995.
Huibers começou a sonhar com uma arca em 1992. Sua mulher, Bianca, uma agente de polícia, se opôs, desde o princípio, à ideia.
"Ela disse não, mas, em 2004, eu havia construído uma arca pequena para velejar pelos canais holandeses", ele disse. Isso fez sucesso. Ele cobrava dos visitantes adultos US$ 7 para embarcar.
"Mais de 600 mil pessoas vieram em cerca de três anos", ele disse. Arrecadou cerca de US$ 3,5 milhões com lucro de US$ 1,2 milhão. Mas não objetiva dinheiro com a arca.
"É para mostrar às pessoas que a Bíblia existe", disse. "E, ao abrir o livro, há Deus".
Quando a arca estiver pronta, exposições vão contar a história de Noé, e animais vão trazer o cenário à vida. Duas salas de conferência receberão 1.500 pessoas.
Huibers vê as viagens da arca para além de Dordrecht. Enviou carta para Londres pedindo permissão para entrar com a arca na região dos Jogos Olímpicos. Investidores do Texas pedem que ele leve o barco para Galveston.
Huibers, até mesmo, conversou sobre a arca com homens de negócio vindos de Israel, país onde sua empresa de construção está sediada. "Os israelenses são curiosos", ele disse. "Eles dizem que não é uma arca cristã, mas judia".


Foto de Michel de Groot, para o The New York Times.

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