A Comissão da Verdade pedirá mais prazo para apresentar seu relatório. Se o objetivo dos doutores é investigar os crimes da ditadura, desvendando mistérios de desparecimentos ou cenas de assassinatos, talvez seja o caso de se criar uma comissão permanente com esse propósito.
Desde sua criação, com algum barulho, a Comissão anunciou ter descoberto que, em 1971, antes de desaparecer, Rubens Paiva estivera no DOI. Ora, o Exército sempre disse que ele foi resgatado por um comando terrorista quando era conduzido, escoltado, numa diligência do DOI. Há 42 anos os comandantes sustentam, oficial e falsamente, que ele fugiu. Se o preso fugiu, preso estava. O que se pode descobrir é a identidade de seus torturadores e o nome dos oficiais que, no meio da noite, resgataram e sumiram com o cadáver. Um estaria morto. Uma comissão permanente poderia ficar com essa tarefa.
Outra coisa seria mostrar como a mutilação do Estado de Direito, do Congresso, do Judiciário, bem como a censura, o fim do habeas corpus e os estímulos dados pelos hierarcas do regime ao aparelho repressivo, transformaram policiais delinquentes em heróis e oficiais das Forças Armadas em assassinos. Expondo-se esse processo, previne-se sua repetição.
Para se chegar à verdade essencial do que ocorreu durante a ditadura, valeria a pena ouvir o que dizia o historiador francês Marc Bloch pouco antes de ser morto, em 1944: "Quando tudo estiver feito e dito, uma única palavra, compreender', será a luz que orientará nossos estudos". Deve-se buscar ossadas de guerrilheiros no Araguaia, mas é necessário compreender como uma elite militar que colocou o marechal Castello Branco no poder ordenou, a partir de outubro de 1973, o extermínio de todos os militantes do PC do B que estavam na mata. Inclusive aqueles que se renderam, atendendo a comunicados feitos em panfletos e transmitidos por alto-falantes colocados em helicópteros. Para isso, precisa-se de bastante reflexão e debate.
Trecho da coluna de Elio Gaspari, na Folha de São Paulo.
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