Maioria das mulheres é presa por tráfico
Elas esperam na fila por visitas, mas são esquecidas por companheiros
Antes de amanhecer, a calçada da avenida Roccio, no bairro Partenon, onde fica o Presídio Central, em Porto Alegre, já está lotada terças, quartas, sábados e domingos - dias de visita. Com sacolas de comida, roupas e materiais de higiene, mães, esposas, namoradas, filhas, avós e irmãs esperam os portões abrirem, às 7h30min, para dar um conforto aos encarcerados na penitenciária, considerada a pior do País.
Por semana, Elaine, 31 anos, gasta cerca de R$ 100 com dez itens - máximo permitido - para o marido de 46, preso há três meses por formação de quadrilha. "Quem come a comida da cadeia é porque não recebe visita", explica. Ela costuma ir ao local às quartas e aos domingos. Em um dos dias é possível levar R$ 50 e no outro, R$ 70. "Nem sempre trago todo esse dinheiro", revela. Os recursos vêm de um ferro-velho, de sua propriedade, em São Leopoldo, que também servem para sustentar os quatro filhos. O nome dela e o das outras mulheres foi trocado por fictícios para preservar suas identidades.
Aurora, 23 anos, frequenta o Presídio Central há seis meses, desde que o companheiro de 32 foi preso por furto. 'Agradável não é, mas, pelo amor, a gente vem', relata. Os dois se conheceram no trabalho, em um centro comercial, em Porto Alegre. 'Ele nunca me escondeu nada. Eu sabia do risco que estava correndo', comenta. As mulheres, normalmente, apoiam os maridos e os filhos presos. Algumas até se arriscam e levam drogas para dentro dos presídios.
Marlene, 43 anos, está há três na Penitenciária Feminina Madre Pelletier. Ela preferiu se entregar e ser presa a continuar carregando drogas para o Presídio Central. Na hora da revista, revelou que carregava entorpecentes nas partes íntimas. 'Fui forçada pelo meu marido a levar drogas', lembra. A mulher já havia sido detida pelo mesmo motivo alguns anos antes.
A irmã não a perdoou. Ninguém da família, além da filha de 9 anos, vai vê-la na cadeia. "Minha irmã cria a minha filha e, no dia da visita, leva a menina até o portão", diz. Em 2014, Marlene deve ser libertada e promete não se submeter outra vez às pressões masculinas.
"Há 15 anos convivo com o sistema penitenciário. No Complexo Penitenciário de Bangu, no Rio de Janeiro, 80% das mulheres estão presas por associação ao tráfico", relata o criminólogo do Centro de Estudos do Comportamento Criminal, Christian Costa. Segundo ele, em alguns casos, a pessoa que é temida mexe com o imaginário da mulher. "Existem criminosos com fãs clubes. O Maníaco do Parque, por exemplo, recebe diversas cartas", exemplifica o criminólogo Costa.
Para o psiquiatra forense Paulo Oscar Teitelbaum, as mulheres que se envolvem no crime forçadas por homens, geralmente têm características de personalidade muito submissas e dependentes. Ele adverte que cada caso é um caso, mas a tendência é de que mesmo depois de o homem ser preso, a mulher continue mantendo a ligação.
Amanhã, dentro da série de reportagens que relatam o drama de mulheres no crime, o Correio do Povo apresenta a questão da reincidência feminina e de que forma o trabalho na prisão ajuda na recuperação das detentas.
Anos de abandono
Nos três anos e oito meses que Luane, 33 anos, está presa por tráfico na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, somente conseguiu ver os filhos uma vez. Com 18, 9 e 4 anos, eles estão com o pai dela, em Montenegro. Separada, ela não recebe visita de ninguém. "Meu companheiro tinha deixado dinheiro e cocaína em casa", relata. Em 2015, Luane deve ser libertada e apenas então poderá encontrar os filhos.
Outro exemplo de abandono é o da presidiária conhecida como Vó, 60 anos. Ela está na Penitenciária Madre Pelletier há um ano e sete meses também por tráfico, sem receber visitas. Os dois filhos que estão em liberdade são doentes e o terceiro está preso. "Sempre ajudei todo mundo, mas pior do que está não fica", brinca. Segundo ela, o tempo de regime fechado já teria sido cumprido, em razão da progressão de pena, por conta do trabalho que desenvolve na cadeia. "Já pedi ajuda para a direção. Espero que me tirem daqui", afirma Vó.
Comércio no cárcere
Devido ao grande número de pessoas que se acumula na frente do Presídio Central, vários estabelecimentos fixaram-se na área. Um deles é o guarda-volumes de Madalena Weber, 48 anos. Ela cobra R$ 1 para cada item deixado. "Morava na frente e minha irmã teve essa ideia", conta. Com o dinheiro que recebe, sustenta praticamente toda a família.
Como convive com as mulheres dos presos, criou amizade com algumas delas e chega a aconselhar. "Tem umas que saem chorando, por eles não darem valor. Existem presos que se comportam como filhos únicos das mulheres e das mães. Querem o dinheiro da pensão somente para eles, a melhor roupa e a melhor comida", relata. Além do guarda-volumes, há padarias e bares nas imediações do Central.
No entanto, o mesmo não ocorre nos presídios femininos. Quando presas, as mulheres costumam ser abandonadas. Um ditado que se repete pelos corredores das penitenciárias é de que quando o homem é preso, a mulher contrata um advogado para tirá-lo do sistema, mas nos casos em que as esposas são enclausuradas, o marido contrata um advogado para se divorciar. "Ele costuma se separar e arruma outra mulher", descreve a coordenadora da Penitenciária da Mulher, Maria José Diniz.
Por semana, Elaine, 31 anos, gasta cerca de R$ 100 com dez itens - máximo permitido - para o marido de 46, preso há três meses por formação de quadrilha. "Quem come a comida da cadeia é porque não recebe visita", explica. Ela costuma ir ao local às quartas e aos domingos. Em um dos dias é possível levar R$ 50 e no outro, R$ 70. "Nem sempre trago todo esse dinheiro", revela. Os recursos vêm de um ferro-velho, de sua propriedade, em São Leopoldo, que também servem para sustentar os quatro filhos. O nome dela e o das outras mulheres foi trocado por fictícios para preservar suas identidades.
Aurora, 23 anos, frequenta o Presídio Central há seis meses, desde que o companheiro de 32 foi preso por furto. 'Agradável não é, mas, pelo amor, a gente vem', relata. Os dois se conheceram no trabalho, em um centro comercial, em Porto Alegre. 'Ele nunca me escondeu nada. Eu sabia do risco que estava correndo', comenta. As mulheres, normalmente, apoiam os maridos e os filhos presos. Algumas até se arriscam e levam drogas para dentro dos presídios.
Marlene, 43 anos, está há três na Penitenciária Feminina Madre Pelletier. Ela preferiu se entregar e ser presa a continuar carregando drogas para o Presídio Central. Na hora da revista, revelou que carregava entorpecentes nas partes íntimas. 'Fui forçada pelo meu marido a levar drogas', lembra. A mulher já havia sido detida pelo mesmo motivo alguns anos antes.
A irmã não a perdoou. Ninguém da família, além da filha de 9 anos, vai vê-la na cadeia. "Minha irmã cria a minha filha e, no dia da visita, leva a menina até o portão", diz. Em 2014, Marlene deve ser libertada e promete não se submeter outra vez às pressões masculinas.
"Há 15 anos convivo com o sistema penitenciário. No Complexo Penitenciário de Bangu, no Rio de Janeiro, 80% das mulheres estão presas por associação ao tráfico", relata o criminólogo do Centro de Estudos do Comportamento Criminal, Christian Costa. Segundo ele, em alguns casos, a pessoa que é temida mexe com o imaginário da mulher. "Existem criminosos com fãs clubes. O Maníaco do Parque, por exemplo, recebe diversas cartas", exemplifica o criminólogo Costa.
Para o psiquiatra forense Paulo Oscar Teitelbaum, as mulheres que se envolvem no crime forçadas por homens, geralmente têm características de personalidade muito submissas e dependentes. Ele adverte que cada caso é um caso, mas a tendência é de que mesmo depois de o homem ser preso, a mulher continue mantendo a ligação.
Amanhã, dentro da série de reportagens que relatam o drama de mulheres no crime, o Correio do Povo apresenta a questão da reincidência feminina e de que forma o trabalho na prisão ajuda na recuperação das detentas.
Anos de abandono
Nos três anos e oito meses que Luane, 33 anos, está presa por tráfico na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, somente conseguiu ver os filhos uma vez. Com 18, 9 e 4 anos, eles estão com o pai dela, em Montenegro. Separada, ela não recebe visita de ninguém. "Meu companheiro tinha deixado dinheiro e cocaína em casa", relata. Em 2015, Luane deve ser libertada e apenas então poderá encontrar os filhos.
Outro exemplo de abandono é o da presidiária conhecida como Vó, 60 anos. Ela está na Penitenciária Madre Pelletier há um ano e sete meses também por tráfico, sem receber visitas. Os dois filhos que estão em liberdade são doentes e o terceiro está preso. "Sempre ajudei todo mundo, mas pior do que está não fica", brinca. Segundo ela, o tempo de regime fechado já teria sido cumprido, em razão da progressão de pena, por conta do trabalho que desenvolve na cadeia. "Já pedi ajuda para a direção. Espero que me tirem daqui", afirma Vó.
Comércio no cárcere
Devido ao grande número de pessoas que se acumula na frente do Presídio Central, vários estabelecimentos fixaram-se na área. Um deles é o guarda-volumes de Madalena Weber, 48 anos. Ela cobra R$ 1 para cada item deixado. "Morava na frente e minha irmã teve essa ideia", conta. Com o dinheiro que recebe, sustenta praticamente toda a família.
Como convive com as mulheres dos presos, criou amizade com algumas delas e chega a aconselhar. "Tem umas que saem chorando, por eles não darem valor. Existem presos que se comportam como filhos únicos das mulheres e das mães. Querem o dinheiro da pensão somente para eles, a melhor roupa e a melhor comida", relata. Além do guarda-volumes, há padarias e bares nas imediações do Central.
No entanto, o mesmo não ocorre nos presídios femininos. Quando presas, as mulheres costumam ser abandonadas. Um ditado que se repete pelos corredores das penitenciárias é de que quando o homem é preso, a mulher contrata um advogado para tirá-lo do sistema, mas nos casos em que as esposas são enclausuradas, o marido contrata um advogado para se divorciar. "Ele costuma se separar e arruma outra mulher", descreve a coordenadora da Penitenciária da Mulher, Maria José Diniz.
Reportagem do Correio do Povo.
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