No contexto da crise econômica reaparecem as divisões internas e as antigas tribulações dos países da zona euro. Na França, estimulada pelo declínio da popularidade do governo Hollande e irritada pelo voto no Parlamento da legislação que autoriza o casamento gay, a extrema-direita católica voltou às ruas.
Trata-se de um movimento que sempre existiu na França e que teve seu momento de glória no governo do marechal Pétain (1940-1944), durante a ocupação nazista.
Atiçada pela crise, partidários deste movimento manifestam nas ruas, alegando que o atual governo é uma "ditadura" e que o país caminha para uma "guerra civil".
Num editorial recente, o jornal "Le Monde" atacou "esta direita conservadora e quase sempre reacionária" que se revolta contra as instituições democráticas do país.
Na Espanha, onde a crise é bem mais profunda, as manifestações contra o governo vem da esquerda e visam agora a própria monarquia. Como se sabe, o regime republicano espanhol foi eliminado pela ditadura de Franco, na sequência de um sangrento golpe de Estado e guerra civil que arrasou a Espanha (1936-1939).
Sem sucessores diretos, no meio das pressões da Europa democrática, Franco manobrou para entronizar Juan Carlos como rei da Espanha no final da ditadura. No poder desde 1975, após a morte de Franco, Juan Carlos ajudou a garantir a transição democrática espanhola.
Mas o sentimento republicano nunca desapareceu. Tanto na Espanha como fora dela, entre os ex-exilados do franquismo e os partidários dos republicanos.
Há pouco tempo em Paris foram inauguradas placas comemorativas relembrando fatos pouco conhecidos: os primeiros blindados que entraram em Paris em 1944, no corpo das tropas aliadas que expulsavam os nazista, eram comandados por republicanos espanhóis e tinham a bandeira da República Espanhola.
Agora a bandeira republicana aparece de novo nas manifestações . O prestígio do rei Juan Carlos e da família real espanhola degringolou nesses últimos anos e a monarquia é cada vez mais rejeitada no país.
No octagésimo segundo aniversário da proclamação da constituição da República republicana espanhola (14 de abril de 1931), houve uma grande manifestação republicana em Madri. O jornal londrino "The Telegraph" registrou a declaração de uma manifestante, uma professora de 45 anos : "a monarquia nos foi imposta pela ditadura e nós a consideramos ilegal. Além do mais, nós consideramos anacrônico o fato de não possuirmos um chefe de Estado eleito, isso não é democrático".
Texto de Luiz Felipe de Alencastro para o UOL.
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