Quando Concepción Martínez parou na última estação de metrô, a multidão na plataforma, incluindo algumas pessoas com trajes do começo do século 20, se pôs a aplaudir.
Os flashes iluminavam os túneis enquanto os passageiros faziam suas últimas viagens nos vagões -com seus bancos de madeira, luminárias de vidro fosco e portas de latão- da primeira linha de metrô da América do sul.
"Esta é uma espécie de despedida", disse Martínez.
Os vagões belgas, um símbolo da riqueza portenha no começo do século 20, foram tirados de operação neste ano, e sua aposentadoria é um exemplo pungente da dificuldade da cidade em preservar sua história enquanto parte dos seus ícones e da sua infraestrutura desmoronam. O metrô de Buenos Aires foi o primeiro da América Latina e é mais velho que o de Madri, Tóquio e Moscou. Uma auditoria feita no ano passado alertou para a perigosa deterioração do "Subte" e recomendou a desativação da sua linha mais antiga.
A reação contra a aposentadoria dos trens La Brugeoise, carinhosamente conhecidos como Las Brujas (as bruxas), alimentou o debate.
"Querem modernizar e ampliar, mas não levaram em conta como os trens tocam as pessoas emocionalmente", disse Gerardo Gómez Coronado, encarregado da proteção arquitetônica no departamento municipal de planejamento.
Muitos edifícios históricos foram demolidos após o colapso econômico argentino de 2001. Preservacionistas dizem que as demolições ilegais, a carência crônica de investimentos e a arquitetura sem imaginação que substitui os prédios históricos ameaçam apagar a herança da cidade que foi meca de imigrantes europeus, que chegavam àquele que era um dos países mais ricos do mundo.
"A Argentina prometia ser um país importantíssimo", disse a artista Teresa Anchorena, integrante da Comissão Nacional de Museus, Monumentos e Lugares Históricos. "A promessa descumprida da Argentina se reflete em seus edifícios."
O mau estado de incontáveis casas portenhas outrora imponentes é um testemunho dos anos de instabilidade política e econômica, segundo Anchorena. "O que aconteceu com esses edifícios é um pouco o que aconteceu com a Argentina", afirmou.
Os vagões de metrô agora jazem em um terreno baldio. Alguns foram vandalizados, com pedaços sendo arrancados e vendidos pela internet. Mas Alberto Rosenblatt, que há anos toca violino na mais antiga estação de metrô de Buenos Aires, disse não sentir saudades dos velhos trens.
"Eles já têm cem anos", disse. "Essa é uma abertura para outros cem anos, mas de progresso, não de regressão. Não vamos ficar para sempre olhando para trás."
Reportagem de Emily Schmall, para o The New York Times, reproduzido na Folha de São Paulo.
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