segunda-feira, 22 de abril de 2013

Luteranos mantêm igreja só para negros há 85 anos no Sul


Luteranos mantêm igreja só para negros há 85 anos no Sul
Canguçu (RS) tem duas congregações que permanecem separadas

Ladeado por plantações de fumo e milho, um distrito rural no extremo sul do país mantém a rara tradição de dividir os fiéis luteranos em duas igrejas, separadas por apenas um quilômetro. Uma delas é "dos negros" e a outra, "dos alemães".
A origem da divisão está na proibição, no início do século 20, de ex-escravos e seus descendentes frequentarem os cultos dos imigrantes que vieram da Europa.
Entrar em uma ou em outra igreja não é mais proibido. O costume de rezar em templos separados, porém, permanece em Canguçu, a 300 km de Porto Alegre.
A cidade tem o maior percentual de habitantes na zona rural do país (63%). A maioria dos agricultores é de descendentes de alemães ou de remanescentes de quilombos.
Folha visitou, em março, um culto da congregação Manoel do Rego, fundada em 1927. A maioria dos 28 presentes eram negros quilombolas.
Perto dali, andando por uma estrada de terra, chega-se à congregação Redentora, dos alemães. O pastor de ambas igrejas é Edgar Quandt, 62, descendente de europeus.
Os principais ramos luteranos no país, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e a Igreja Evangélica Luterana do Brasil --à qual pertence a Manoel do Rego--, não têm registros de outro grupo semelhante.
Segundo o professor Ricardo Rieth, da Universidade Luterana do Brasil, o caso de Canguçu é isolado, pois as igrejas luteranas não permitiam a entrada de negros.
Hoje, as duas congregações realizam festas conjuntas. "Não há discriminação, como às vezes parece de fora. Há uma integração muito boa em toda a nossa igreja", afirma o pastor Quandt.
A ideia de unificar as duas igrejas foi debatida, mas a decisão foi de manter "cada um na sua", diz o presidente da associação quilombola do local, Marco Antônio Matos, 40.


Reportagem da Folha de São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário