quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Bolsonaro fez com os generais o mesmo que Boninho com Karol Conká

 Nada do que vou relatar a seguir é ficção. Bolsonaro, desde a mais tenra idade, odeia o Exército. Seu sonho era ser jogador de futebol.

Foi seu pai que o obrigou a entrar no quartel. Lá, foi humilhado: um coronel reprovou a “falta de lógica, racionalidade e equilíbrio”, e outro condenou a “excessiva ambição em realizar-se financeiramente”.
Humilhado, tentou explodir quartéis. Seu plano foi descoberto pela imprensa. Condenado à reserva, ficou tarde pra tentar o futebol. Sobrou a política. Melhor assim.

O tempo livre permitiria que ele arquitetasse a vingança. Dedicaria a vida a demolir a instituição que moeu sua juventude e lhe roubou todos os sonhos. O povo precisava saber a verdade sobre o alto escalão do Exército brasileiro.

Quando Bolsonaro chegou à Presidência, os generais ainda gozavam de alguma popularidade —devido sobretudo à memória curta do povo brasileiro.

Palestravam na GloboNews como se não tivessem falido o país 30 anos antes. O novo presidente, no entanto, tinha um plano em mente: dar a eles cargo de confiança. Colocá-los em posições estratégicas. Distribuir ministérios e microfones. O resto, eles fariam sozinhos.

Dito e feito. O general Pazuello fez, de livre e espontânea vontade, um estrago maior para a imagem do Exército do que a esquerda em décadas de propaganda antimilitar.

Bolsonaro realizou o sonho de todo brasileiro: desmascarou a incompetência dos chefes em rede nacional.

Esta semana, um general no comando da Petrobras, mudo, fez ela perder mais de R$ 100 bilhões em valor de mercado.

​Bolsonaro fez com os generais a mesma coisa que Boninho fez com Karol Conká: cercou de câmeras e deixou o povo concluir sozinho.

A esquerda precisa reconhecer nele um aliado. O presidente está fazendo o que Lamarca não conseguiu. Destruiu qualquer chance de os militares voltarem ao poder no país. Sobretudo porque não haverá mais país depois dele.

Resta saber como é que um sujeito limítrofe conceberia um plano tão brilhante. Fácil: o plano pode não ter sido dele.

Ainda adolescente, Bolsonaro diz que ajudou os militares a encontrarem Lamarca. Aqui, e só aqui, entra uma especulação. O guerrilheiro, encurralado na floresta, encontrou o jovem Jair e lhe fez um pedido: “Jovem, falhei. Pode me entregar. Mas tenho um plano pra você. Será preciso paciência.”


Crônica de Gregório Duvivier, na Folha de São Paulo

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