Ontem eu peguei o Emgality. ME-NI-NA, para tudo! Ele tá no Brasil? Sim! Chegou! Me conta! Calma, rolou só uma vez. Mas e aí? O que você tá sentindo? Quero de-ta-lhes! Deve ser psicológico, mas assim que injetei na minha barriga melhorei da enxaqueca. Nossa, que inveja! E você? Ainda tá com aquele que pegou no Carnaval do ano passado? O Depakote? Pior que sim. Nossa, mas a Bel, que tava com ele antes, ficou meio traumatizada, lembra? Tirou do Instagram todas as fotos da época em que estavam juntos. Não, a Bel pegava o tio. Eu pego o Sprinkle, que é mais novinho e divertido. Você não está se enganando? É, sei lá, quando eu mais preciso, ele me deixa confusa, falando sozinha. Ai, Ju, te entendo tanto. Me sinto uma idiota, mas lembra que antes eu estava com o Topamax? Muito pior! Vixe! Canceladíssimo! Pois é, ele acabou com a minha memória e a minha autoestima, não me deixava ler um livro. Eu fiquei burra e totalmente na mão dele, isso nunca mais! Chega! Não passarão! Não! Será que vamos ter que fazer um Me Too contra abusos de medicação? Boa ideia!
Mas me fala, se eu bem te conheço, duvido que você esteja pegando só o Emgality. Tá, não comenta, mas ando flertando com a galera dos antipsicóticos. O quê? Nossa, Gabi, sua família sabe disso? Xiiiu! Não comenta, Ju. Ninguém sabe. Nem meus pais nem a Bel. Tô contando só pra você, porque sei que você entende. Tá, mas qual dos irmãos? O Lura, o Olan ou o Rispe? Tô pegando a irmã, a Quetiapina! Aê, Gabi, quem diria, hein! Você é bi! Pois é, mas de leve. Nada assim tipo bipolar 1. Eu sei. E que tal a Queti? Olha, como nos vemos bem pouquinho por dia, ela me ajuda mais na concentração. Não é como a Bel, que na depressão saía com 300 mg, ou como o pai da Carol, que nas crises de esquizofrenia saía com 600 mg. Eu tiro só uma casquinha, sabe? Uma farrinha pra não pensar tanto. Eu penso demais, menina. E não consigo priorizar um pensamento. Você se sente assim? Com mil janelas abertas rondando a sua cabeça? Às vezes, mas daí eu viajo com a Lamotrigina e me sinto bem. Fomos duas vezes pra praia. Depois, se quiser, te passo o contato. Ela manja muito de angústia. Eu sabia!!! Você também é bi!!! Ai, amiga, não é à toa que a gente se dá tão bem, né? Que tu-do! Mas você não acha estranho que agora todo mundo é bi? Acho um pouco, sim. Mas, se o psiquiatra falou, quem sou eu pra discordar?
E o Miosan? Ai, falamos juntas! Ainda uso quando tô de bobeira em casa, sem sono de madrugada. Facinho, facinho! Você chama, ele vem, resolve rápido, e você dorme relaxada. Sim, vive comigo na cama. E sei que a Bel e a Carol também curtem. Esse aí tá rodado! Um putinho. Vai com todas. Baixinho safado. Outro dia dormi com um primo dele, o Mitrul. Gostei não. Ô preconceituosa! Só porque ele é mais barato? Nem é isso, na real é que… Fala! Estou querendo uma relação mais duradoura mesmo. Alguém pra chamar de meu todas as noites. Putz, voltou a sair com o Lyrica, né? Voltei. Eu sa-bi-a!!! Ele é tão poético, não aguento. Já chega fazendo versos pra mim. Isso no começo, amiga. Você sabe como é. Nas primeiras semanas a dor desaparece, mas depois ele só fica ali encostado em você, sem fazer porra nenhuma, e de desgosto a gente ainda engorda horrores. E pra terminar com o Lyrica? Nossa, impossível! Você tenta, mas a dor é tanta nos primeiros dias, que você volta. Daí tenta de novo. E não dá. Pior que casamento com filho pequeno. Pior!
Ai, Ju, tão bom falar com você, saber quem você anda comendo. Também achei, Gabi. Mas você é muito mais pegadora que eu! Para! Você que é, amiga!
Texto de Tati Bernardi, na Folha de São Paulo.
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