Que o Big Brother nos leva à alienação não é nenhuma novidade. Mas, quando a informação só tem nos levado à raiva seguida de melancolia e pânico, como nos últimos tempos, qualquer forma de sair da realidade deve ser agarrada com força. A solução mais rápida é aderir ao ópio do povo brasileiro, a casa mais vigiada do Brasil.
Na edição anterior, o principal assunto foi o cancelamento. Se Andy Warhol disse que todos teriam 15 minutos de fama, não previu que esses 15 minutos viriam seguidos do cancelamento, que também duraria 15 minutos, já que o cancelamento foi cancelado.
Para esse Big Brother, a ordem do dono do joystick das emoções do brasileiro, Boninho, foi cancelar o cancelamento. Porém, o feitiço se virou contra o feiticeiro e o cancelamento do cancelamento também foi cancelado. Desde que entraram na casa, os participantes, estão cancelados e descancelados ao mesmo tempo, em um grande cancelamento de Schrödinger.
Fiuk, filho de Fábio Jr., por exemplo, foi cancelado logo no início por expor toda sua arte de falso sofredor que aprendeu na Cigano Igor's Actors School. Após alguns dias chorando, o público entendeu que o tom novelinha da "Malhação" é, de fato, sua personalidade e descancelou o quase-ator-cantor. Até a conclusão desta edição, permanece descancelado e descabelado.
Já a rapper curitibana Karol Conká, dona de hits como "Tombei", chegou à casa para cancelar, mas mal sabia que, fora dela, já tinha sido cancelada por cancelar contratos publicitários. Quando cancelou o ator Lucas, também foi cancelada pelo público, mas descancelada quando souberam que o ator foi cancelado e, em seguida, cancelada quando descobriram que a notícia era falsa.
Por ter sido cancelada, Karol teve seus shows fora da casa cancelados. Ela tentou descancelar seu cancelamento descancelando Lucas, porém, foi cancelada com ajuda de Juliette, que desmentiu seu descancelamento. Após a conclusão desta coluna que se perdeu no raciocínio, a rapper permanece cancelada.
Com tantos cancelamentos, alguns teóricos afirmam que o objetivo de Boninho é cancelar e descancelar os participantes tantas vezes a ponto de gerar uma espiral no espaço-tempo, até abrir um buraco da minhoca que nos levará de volta ao BBB 1. Assim viveríamos um eterno looping de Big Brothers.
Na atual conjuntura do país, não é uma má ideia.
Texto de Flávia Boggio, na Folha de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário