quinta-feira, 28 de junho de 2012

Quem tirou Lugo


Quem tirou Lugo

A falta de explicação convincente por parte da repentina aliança parlamentar que derrubou Fernando Lugo tem, ela própria, explicação simples. E íntima das relações comerciais verdadeiras entre o Brasil e o Paraguai.
É óbvio que não foi o choque de lavradores e polícia o motivador, em apenas 30 horas, da união repentina dos congressistas paraguaios e da derrubada do presidente.
Polícia e lavradores são indígenas contra indígenas, situação historicamente incapaz de provocar qualquer comoção ou atitude no Congresso do Paraguai.
Fernando Lugo, muito pouco ativo quanto a muitos dos seus compromissos de campanha, cumpriu um deles sem concessão: não criou oportunidades para a corrupção e não fomentou a produção e o comércio ilícitos. Rompeu assim com a tradição das presidências locais e dos apoios parlamentares, sociais e judiciais que lhes permitem existir.
As fábricas de produtos falsificados estão, sem mascaramentos, na própria capital Assunção, como pelo Paraguai todo.
Os nossos carros roubados destinam-se, em grande parte, à receptação permitida e estimulada no Paraguai, onde podem trafegar mesmo com a placa brasileira. Os cigarros e tantos outros produtos brasileiros que chegam ao Paraguai beneficiados, no preço, pelas isenções para exportação, voltam ao Brasil como contrabando e enchem o comércio de rua e inúmeras lojas de nossas cidades.
O pequeno Paraguai é o maior centro conjunto de falsificação e comércio ilegal de produtos. Nos últimos anos, uma inovação constatada: com os produtos que transitam pelo Paraguai e entram no contrabando para o Brasil, muito da produção falsificada no próprio Paraguai traz o registro "made in China".
É incalculável o custo, para o Brasil, do contrabando e da receptação de carros e motos roubados aqui, o que está obrigando à criação de uma nova rede policial-militar de proteção da fronteira.
E ainda há o narcotráfico. A Bolívia e a Colômbia ficam com a culpa toda, mas o Paraguai não é menos fornecedor que ambas, com suas rotas de contrabando, e é provável que já seja o maior canal de entrada de drogas variadas.
O pequeno Paraguai é, proporcionalmente, o maior centro de receptação de roubo, produção de falsificados e contrabando. Com participação importante no narcotráfico.
No país de maioria tão pobre, quem possui e quem controla o sistema imenso dessas atividades ilegais? Quem pode fazê-lo sem preocupação alguma com problemas de ordem legal? E quem são os políticos, os congressistas desse país triste e infeliz?
Um dos seus compromissos com o eleitorado, Fernando Lugo cumpriu-o: não se pôs a serviço dos donos do ilegal Paraguai. À primeira oportunidade, caiu.



As leis


As leis

Egito e Paraguai não têm muita coisa em comum, a não ser a fragilidade de suas democracias. Eis países que gostariam de se ver caminhando em direção à consolidação democrática, mas que descobrem como tal caminho pode ser atrapalhado, vejam só, pelas leis.
Certamente, uma afirmação dessa natureza será rapidamente contraposta pelos ditos defensores do Estado democrático de Direito.
Na verdade, tais defensores querem nos fazer acreditar que as leis que temos devem sempre ser respeitadas, sob o risco de entrarmos em situações de puro arbítrio nas quais o mais forte impõe sua vontade. Eles esquecem como, muitas vezes, criamos leis que visam permitir que grupos interfiram e fragilizem os processos democráticos. Ou seja, leis que são, na verdade, a mera expressão da vontade dos grupos sociais mais fortes.
Isso explica porque a democracia, muitas vezes, avança por meio da quebra das leis. Ela reconhece que ações hoje vistas como criminosas possam ser, na verdade, portadoras de exigências mais amplas de justiça. Foi assim, por exemplo, com as greves -compreendidas durante muito tempo como crimes, e aceitas hoje como direito de todo trabalhador. Vale a pena lembrar desse ponto porque vimos no Egito e no Paraguai situações exemplares do uso da lei contra a democracia.
No Egito, um tribunal constitucional dissolveu o primeiro Parlamento democraticamente eleito da sua história por julgar inconstitucional uma lei parlamentar que proibia membros do regime ditatorial de Mubarak de participar de eleições. Não só a lei aprovada pelo Parlamento era justa, como o ato de dissolvê-lo por julgar inconstitucional uma de suas ações é claramente uma aberração. Mas tal golpe foi feito na mais clara "legalidade" e sem nenhuma manifestação da comunidade internacional.
Já no Paraguai, o Congresso votou o impeachment do presidente em um processo sumário, que durou algumas horas e sob a acusação nebulosa de incompetência (há de perguntar qual parlamentar escaparia de uma acusação dessa natureza). Tal lei serve apenas para tornar o presidente refém de um Congresso que, há mais de cem anos, representa as mesmas oligarquias. Um processo sério de impeachment exigiria amplos direitos de defesa e esclarecimento. Mas tudo foi feito "legalmente".
Diga-se, de passagem: até o golpe de Estado brasileiro (1964) foi feito "legalmente", já que o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vacante a Presidência por Goulart ter "abandonado" o governo ao procurar abrigo no RS, tomando posse o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli. O que demonstra como nem sempre estamos protegidos pelas leis.



Sistema de punição disciplinar atemoriza elite política da China Por ANDREW JACOBS PEQUIM - Ser membro do Partido Comunista chinês encerra várias vantagens. Mas, quando os membros do partido são flagrados desobedecendo as regras -ou simplesmente quando desagradam um superior-, eles podem ser arrastados para as malhas de uma máquina disciplinar opaca, de estilo soviético, conhecida como "shuanggui", que inclui tortura física e interrogatórios brutais. É exatamente isso o que parece ter acontecido com Bo Xilai, que foi um dos políticos mais carismáticos e ambiciosos da China. Bo não é visto em público desde meados de maio, quando foi destituído de seu cargo de chefe do partido no município de Chongqing, no sudoeste da China. Mais tarde, foi acusado de "violações disciplinares" e afastado do Politburo. Poucos que são arrastados para dentro do sistema emergem dele ilesos, quando emergem. Nos últimos dez anos, centenas de funcionários cometeram suicídio, segundo relatos na mídia noticiosa estatal, ou morreram em circunstâncias misteriosas durante meses de confinamento em locais desconhecidos. Especialistas dizem que, quando os interrogadores obtêm uma confissão satisfatória, os detidos muitas vezes são destituídos de seus bens e da condição de membros do partido. Casos selecionados são entregues a promotores do governo para serem submetidos a julgamentos sumários e fechados. "A simples palavra 'shuanggui' basta para fazer funcionários do governo tremerem de medo", comentou Ding Xikui, um conhecido advogado de defesa em Pequim. A "shuanggui" tem suas origens no sistema de justiça imperial e foi empregado pelo Exército Vermelho durante a guerra civil para punir soldados que desobedecessem às ordens. Algumas diretrizes lançadas pelo partido já restringiram alguns dos excessos da "shuanggui", cujo principal objetivo é arrancar confissões dos acusados de violar regras partidárias, na maioria dos casos devido à corrupção financeira. Flora Sapio, acadêmica visitante na Universidade Chinesa de Hong Kong, disse que o sigilo visa proteger o público de detalhes que poderiam prejudicar a imagem do partido e limitar quaisquer danos secundários a autoridades em cargos superiores. "É como se a pessoa tivesse caído num buraco negro legal", disse Sapio. "Uma vez que ela é chamada, quase nunca sai dali em liberdade", diz. A Fundação Dui Hua, organização de San Francisco que promove mudanças no sistema penitenciário chinês, diz que afogamentos simulados, queimaduras com cigarros e espancamentos são táticas comuns para fazer os detentos falarem. Um antigo funcionário do setor de propaganda política da província de Zhejiang foi sujeito a interrogatórios uma década atrás. Ele contou que passou quase dois meses confinado a uma série de quartos de hotel. Foi espancado com uma antena de TV e impedido de dormir durante 12 dias, até começar a sofrer alucinações. Os vidros ficavam cobertos por papel escuro, e uma lâmpada vermelha ficava acesa 24 horas por dia. "No final, eu estava tão exausto que concordei com todas as acusações, apesar de serem falsas", disse ele, que pediu anonimato. Existem poucos estudos oficiais sobre esse sistema de detenção, mas, de acordo com a agência de notícias oficial, Xinhua, mais de 880 mil membros do partido foram punidos entre 2003 e 2008. Bo Xilai fez uso abundante do sistema em Chongqing durante a repressão que moveu contra criminosos e supostos adversários políticos, levando a milhares de detenções e várias execuções. Embora considere perturbadoras as confissões obtidas após coerção, He Jiahong, diretor e docente da Faculdade de direito da Universidade Renmin, em Pequim, disse que a "shuanggui" é uma ferramenta vital no combate à corrupção. Isso porque ela opera à parte dos tribunais locais -facilmente manipulados pelos funcionários partidários que controlam suas verbas. "Embora critiquemos a shuanggui por ela estar fora do contexto legal, é um sistema bastante eficaz", disse He. "Como reza o ditado, tudo o que precisam é de uma folha de papel, uma caneta e suas bocas." Em vista do ódio da população pela corrupção em círculos oficiais, é difícil encontrar muita compaixão popular pelas pessoas presas no sistema. Reportagem do The New York Times, reproduzida na Folha de São Paulo, de 25 de junho de 2012.


Sistema de punição disciplinar atemoriza elite política da China

Por ANDREW JACOBS

PEQUIM - Ser membro do Partido Comunista chinês encerra várias vantagens. Mas, quando os membros do partido são flagrados desobedecendo as regras -ou simplesmente quando desagradam um superior-, eles podem ser arrastados para as malhas de uma máquina disciplinar opaca, de estilo soviético, conhecida como "shuanggui", que inclui tortura física e interrogatórios brutais.
É exatamente isso o que parece ter acontecido com Bo Xilai, que foi um dos políticos mais carismáticos e ambiciosos da China. Bo não é visto em público desde meados de maio, quando foi destituído de seu cargo de chefe do partido no município de Chongqing, no sudoeste da China. Mais tarde, foi acusado de "violações disciplinares" e afastado do Politburo.
Poucos que são arrastados para dentro do sistema emergem dele ilesos, quando emergem. Nos últimos dez anos, centenas de funcionários cometeram suicídio, segundo relatos na mídia noticiosa estatal, ou morreram em circunstâncias misteriosas durante meses de confinamento em locais desconhecidos. Especialistas dizem que, quando os interrogadores obtêm uma confissão satisfatória, os detidos muitas vezes são destituídos de seus bens e da condição de membros do partido. Casos selecionados são entregues a promotores do governo para serem submetidos a julgamentos sumários e fechados.
"A simples palavra 'shuanggui' basta para fazer funcionários do governo tremerem de medo", comentou Ding Xikui, um conhecido advogado de defesa em Pequim.
A "shuanggui" tem suas origens no sistema de justiça imperial e foi empregado pelo Exército Vermelho durante a guerra civil para punir soldados que desobedecessem às ordens. Algumas diretrizes lançadas pelo partido já restringiram alguns dos excessos da "shuanggui", cujo principal objetivo é arrancar confissões dos acusados de violar regras partidárias, na maioria dos casos devido à corrupção financeira.
Flora Sapio, acadêmica visitante na Universidade Chinesa de Hong Kong, disse que o sigilo visa proteger o público de detalhes que poderiam prejudicar a imagem do partido e limitar quaisquer danos secundários a autoridades em cargos superiores. "É como se a pessoa tivesse caído num buraco negro legal", disse Sapio. "Uma vez que ela é chamada, quase nunca sai dali em liberdade", diz.
A Fundação Dui Hua, organização de San Francisco que promove mudanças no sistema penitenciário chinês, diz que afogamentos simulados, queimaduras com cigarros e espancamentos são táticas comuns para fazer os detentos falarem. Um antigo funcionário do setor de propaganda política da província de Zhejiang foi sujeito a interrogatórios uma década atrás. Ele contou que passou quase dois meses confinado a uma série de quartos de hotel. Foi espancado com uma antena de TV e impedido de dormir durante 12 dias, até começar a sofrer alucinações. Os vidros ficavam cobertos por papel escuro, e uma lâmpada vermelha ficava acesa 24 horas por dia. "No final, eu estava tão exausto que concordei com todas as acusações, apesar de serem falsas", disse ele, que pediu anonimato.
Existem poucos estudos oficiais sobre esse sistema de detenção, mas, de acordo com a agência de notícias oficial, Xinhua, mais de 880 mil membros do partido foram punidos entre 2003 e 2008. Bo Xilai fez uso abundante do sistema em Chongqing durante a repressão que moveu contra criminosos e supostos adversários políticos, levando a milhares de detenções e várias execuções.
Embora considere perturbadoras as confissões obtidas após coerção, He Jiahong, diretor e docente da Faculdade de direito da Universidade Renmin, em Pequim, disse que a "shuanggui" é uma ferramenta vital no combate à corrupção. Isso porque ela opera à parte dos tribunais locais -facilmente manipulados pelos funcionários partidários que controlam suas verbas. "Embora critiquemos a shuanggui por ela estar fora do contexto legal, é um sistema bastante eficaz", disse He. "Como reza o ditado, tudo o que precisam é de uma folha de papel, uma caneta e suas bocas."
Em vista do ódio da população pela corrupção em círculos oficiais, é difícil encontrar muita compaixão popular pelas pessoas presas no sistema.



A ascensão da pílula da boa-nota


A ascensão da pílula da boa-nota

Alunos tomam estimulantes para melhorar seu desempenho nas provas
Por ALAN SCHWARZ

Nas escolas de segundo grau dos EUA, a pressão por boas notas e a concorrência por vagas em universidades estão incentivando estudantes a abusar de estimulantes vendidos com receita médica. Os adolescentes dizem que obtêm os estimulantes de amigos, os compram de traficantes, também estudantes, ou falsificam sintomas para que médicos lhes deem receitas médicas.
"Isso acontece em todos os colégios particulares daqui", comentou a psicóloga nova-iorquina DeAnsin Parker, que atende adolescentes de bairros de alto padrão como o Upper East Side de Manhattan. "Não é como se houvesse apenas um colégio com esse problema. Esse é o padrão."
A DEA (o órgão dos EUA responsável pela repressão e o controle de drogas) classifica estimulantes vendidos com receita médica, como Adderall e Vyvanse (anfetaminas) e Ritalina e Focalin (metilfenidatos), como substâncias controladas de "Classe 2" -a mesma da cocaína e morfina-, que têm utilização médica, mas que provocam dependência.
Esses estimulantes também encerram altos riscos legais: poucos adolescentes compreendem que dar um comprimido de Adderall ou Vyvanse a um amigo é o mesmo que vendê-lo e pode ser qualificado como crime.
Esses medicamentos tendem a acalmar as pessoas com transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Já para aquelas que não apresentam a síndrome, apenas um comprimido pode lhes dar energia e concentração suficientes para uma noite inteira de estudo na véspera de uma prova. "É como se o remédio estudasse por você", disse William, que se graduou recentemente no colégio Birch Wathen Lenox, no Upper East Side.
Mas o abuso de estimulantes pode levar à depressão e a mudanças repentinas de humor (decorrentes da privação de sono), taquicardia e exaustão aguda ou psicose durante a abstinência, dizem médicos. Psicólogos que trabalham com dependentes químicos dizem que, para alguns adolescentes, os comprimidos conduzem ao abuso de analgésicos e soníferos.
Paul L. Hokemeyer, terapeuta familiar do Centro de Tratamento Caron, em Manhattan, ponderou: "O córtex pré-frontal dos adolescentes ainda não está plenamente desenvolvido, e esses medicamentos mudam a química cerebral. Se você tem uma deficiência real, isso é uma coisa -o remédio é realmente importante. Mas se sua deficiência consiste em não entrar na Universidade Brown, o uso de remédios é perigoso".
A quantidade de prescrições de medicamentos para TDAH dadas a pessoas de 10 a 19 anos de idade nos EUA aumentou 26% desde 2007, chegando a quase 21 milhões de prescrições por ano. A informação é da empresa de informações médicas IMS Health.
Médicos e adolescentes de mais de 15 escolas de padrões elevados nos EUA estimaram que de 15% a 40% dos alunos dessas escolas tomam estimulantes para ajudá-los nos estudos.
"São os alunos que tiram nota A ou B, os bons alunos", disse um estudante do último ano do colégio Lower Merion, em Ardmore, subúrbio de alto padrão da Filadélfia. Ele contou que ganha centenas de dólares por semana vendendo medicamentos a colegas de classe, geralmente por US$ 5 a US$ 20 o comprimido.
O uso de medicamentos para o TDAH se difunde em todo o mundo. Um estudo feito pela Universidade da Califórnia em Berkeley em 2007 constatou que os gastos globais com esses medicamentos se multiplicaram por nove em dez anos entre um grupo de países que inclui França, Suécia, Coreia do Sul e Japão. O aumento foi atribuído à chegada de medicamentos mais caros e de ação prolongada, como Concerta, Strattera e Adderall XR.

AGRADANDO A TODOS

Madeleine contou que costumava pedir à professora de sua escola católica em Bethesda, Maryland, para sair para tomar água. Então engolia uma cápsula de 40 miligramas de Vyvanse. O efeito aparecia em meia hora: atenção concentrada, memória instantânea e resistência para encarar qualquer prova.
"As pessoas nunca imaginariam que eu usasse drogas -eu não era esse tipo de pessoa", falou Madeleine, que acaba de concluir o primeiro ano numa faculdade de alto nível e continua a usar estimulantes ocasionalmente. "Não foi uma decisão difícil. A escolha foi: 'Quero dormir só quatro horas e ficar acabada, ir mal na prova e na partida de hóquei? Ou quero agradar os professores, o treinador, conseguir boas notas, entrar numa faculdade ótima e deixar meus pais felizes?'"
Madeleine estima que um terço de seus colegas no colégio recorria a estimulantes para melhorar seu aproveitamento escolar.
Muitos estudantes em todo os EUA fizeram estimativas semelhantes em relação às suas próprias escolas. Mas há poucos dados sobre esse tipo específico de abuso de drogas.
O Instituto Nacional de Abuso de Drogas informou que, entre alunos do ensino médio do país, o abuso de anfetaminas vendidas com receita médica diminuiu em relação aos anos 1990 e permanece relativamente constante, em 10%. Mas alguns especialistas observam que a pesquisa do instituto não enfocou os locais onde o abuso cresce sem parar -os colégios de alto nível, onde a pressão sobre os estudantes é grande. Além disso, os mesmos especialistas lembram que muitos adolescentes mal sabem que os medicamentos, chamados de "drogas de estudo", são anfetaminas ilegais. "Isso não é como uma vitamina?" indagou um colegial de Eastchester, um subúrbio de Nova York.
Um representante da Shire, que fabrica as cápsulas de Vyvanse e Adderall, disse que estudos não indicam nenhuma ligação entre o uso prescrito dos medicamentos e seu posterior abuso.
Uma garota que vende estimulantes a seus colegas na Long Beach High School, em Long Island, a 45 km a leste de Nova York, falou: "Quando as pessoas vão fazer exames, a primeira coisa que perguntam é 'com quem vou conseguir Adderall?'."
Douglas Young, um porta-voz do Distrito Escolar Lower Merion, sente-se frustrado pelo fato de tantos pais ignorarem o problema. "Muitas notas A e altos escores no SAT parecem ótimos no papel, mas não refletem a saúde e o bem-estar do estudante."

ENGANANDO OS MÉDICOS

Os remédios entram nas escolas através de estudantes que os conseguem legalmente, embora nem sempre legitimamente.
Os medicamentos mais antigos contra TDAH vinham em doses que precisavam ser tomadas a cada poucas horas. Para que os alunos não ficassem com as drogas, a enfermeira de cada escola ficava com os comprimidos e os dava aos alunos. Versões mais novas dos medicamentos, com efeito prolongado -como Adderall XR e Vyvanse- permitem que os pais deem a seus filhos uma dose única pela manhã.
Muitas vezes, eles não têm consciência de que as pílulas podem ser guardadas no bolso da calça em vez de engolidas. Alguns alunos disseram que tomavam os comprimidos apenas durante a semana e davam as pílulas do fim de semana a amigos.
A mãe de um aluno do condado de Westchester, ao norte de Nova York, disse que todas as manhãs observava seu filho tomar sua dose de Ritalina. Um dia ela percebeu que a cápsula estava muito leve e a segurou contra a luz. Estava vazia. "Houve algumas vezes em que faltaram comprimidos no mês, e eu não entendia o porquê", contou a mãe, cujo filho estava na oitava série na época. "Nunca percebi a razão, até encontrar aquelas cápsulas vazias.Ele estava vendendo o remédio."
Vários adolescentes entrevistados riram da facilidade com que conseguem receitas para TDAH. A definição do transtorno exige que o déficit de atenção, a hiperatividade ou a falta de controle de impulsos provoquem "prejuízos clinicamente importantes" em pelo menos dois ambientes (na escola e em casa, por exemplo), segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Um dado crucial é que parte desse prejuízo precisa ter estado em evidência aos sete anos de idade. Segundo vários médicos, um diagnóstico correto de um adolescente que afirma ter TDAH requer que sejam entrevistados pais, professores e outros para confirmar que os problemas já estavam presentes muito tempo antes.
Muitos adolescentes com receitas médicas disseram que seus médicos apenas ouviram o que eles relataram e já tiraram seus blocos de receitas. A médica Hilda R. Roque, de Nova Jersey, disse que nunca prescreveu remédios para TDAH, mas que muitos pais pressionam os médicos tanto quanto fazem seus filhos para pedir medicamentos, dizendo: "Meu filho não está se saindo bem na escola. Ouvi dizer que há remédios que ele pode tomar que o deixarão mais inteligente."
Um aluno do último ano em Connecticut que já tomou o Adderall de um amigo comentou: "Esses remédios são esteroides acadêmicos. Só que geralmente não são os pais que conseguem esteroides para a gente."
O lado negativo dos medicamentos estimulantes se manifesta depois de eles terem propiciado benefícios competitivos de curto prazo. Foi o caso de um estudante da McLean High School, na Virgínia, um dos melhores colégios públicos da região de Washington.
No final de seu segundo ano no colégio, o rapaz queria melhorar sua média, que era B. Então disse à sua psicóloga o que ela precisava ouvir para ele receber um diagnóstico de TDAH. Em pouco tempo, ele recebeu 30 comprimidos mensais de Adderall de dez miligramas. A droga funcionou. Ele passou a estudar até tarde da noite, sua concentração nos exames melhorou, e sua nota média subiu para A-. Quando começou seu último ano no colégio, ele estava tendo dificuldades em se concentrar. O médico prescreveu 30 miligramas por dia. Quando chegou a fase das tentativas de ingresso em faculdades, ele passou a comprar comprimidos adicionais, por US$ 5 cada, de uma garota na aula de francês que também tinha enganado um psiquiatra. Começou a tomar vários comprimidos em alguns dias.
Quando, finalmente, o rapaz estava matriculado numa boa faculdade (mas não ótima), ele consumia 300 miligramas ou mais para adiar a crise inevitável.
Um dia, depois de tomar 400 miligramas, ele teve uma forte taquicardia. Começou a ter alucinações e sofreu uma convulsão. Levado ao hospital às pressas, passou sete meses num centro de reabilitação de drogas. Para sua surpresa, dois dos outros pacientes da clínica também estavam ali apenas por terem abusado de estimulantes no colégio.

ISSO É ERRADO?

Jonathan Sklar, aluno da nona série em Ardsley, subúrbio de Nova York, descreveu como alguns de seus colegas abusam de estimulantes. Ele disse à sua mãe, Dodi: "Se eu fizesse isso, você não perceberia nada. Só ficaria feliz por eu estar estudando tanto."
Jonathan falou que nunca fará o que fazem esses colegas.
Indagados se usar estimulantes de modo incorreto é errado, estudantes deram respostas diversas. Alguns consideraram que as horas de estudo a mais e a concentração nas provas representam uma vantagem injusta para quem toma estimulantes. Muitos responderam que "drogas não dão as respostas" nas provas.
Mas todos concordaram que o consumo de estimulantes está se tornando mais comum e disseram que alguns estudantes que prefeririam não tomar as drogas seriam obrigados a fazê-lo em função da competição por notas.
Um estudante da Harvard-Westlake School, em Studio City, Califórnia, um colégio de alto nível da costa oeste americana, contou que experimentou o Adderall de um amigo, mas não gostou da sensação de ter seu coração batendo acelerado por muitas horas. Prometeu que nunca repetirá a dose.
Mas ao ver colegas abusarem de estimulantes na concorrência por vagas nas melhores faculdades, ele não tem tanta certeza. "Se necessário, posso voltar a tomar."



terça-feira, 26 de junho de 2012

Desaparece na China marido da grávida forçada a abortar


O marido da mulher chinesa que foi forçada a abortar aos sete meses de gestação, cuja foto circulou pela internet gerando uma grande polêmica, desapareceu após ser ameaçado durante vários dias por oficiais locais, disse nesta terça-feira o jornal chinês "South China Morning Post".
O diário afirma que Deng Jiyuan, 29, desapareceu no último domingo e que tanto ele como outros membros da família estavam sendo ameaçados por oficiais da cidade de Ankang, na província de Shaanxi.
As denúncias de assédio acontecem dez dias depois de as mesmas autoridades de Ankang terem pedido desculpas à vítima do aborto forçado, Feng Jianmei, chegando inclusive a destituir três funcionários e a pedir o início de uma investigação sobre o trabalho do Birô de Planejamento Familiar da província.

FOTO

O escândalo começou quando, dias atrás, foram divulgadas na internet várias imagens de Feng, 27, nas quais ela aparecia deitada na cama de um hospital junto ao corpo do feto. A mulher contou que foi forçada a abortar e a assinar um documento de consentimento.
Feng não podia pagar a multa de cerca de 40 mil iuanes (cerca de R$ 13.000) que é imposta na China pelo segundo descendente em virtude da política do filho único vigente na nação asiática.
Apesar das desculpas das autoridades, o diário chinês assegura que oficiais ameaçaram os parentes da vítima e, tanto o citado diário como outros veículos digitais chineses acrescentam que dezenas de vizinhos foram às ruas em Ankang durante o fim de semana para insultar Deng e sua esposa, que foram chamados de "traidores".
A política do filho único foi instaurada na China em 1979 com o objetivo de estabelecer um controle radical da natalidade no país mais populoso do mundo.


Notícia da EFE, na Folha.com

Os males do jargão


Os males do jargão

Tempos atrás, parecia que todos os motoristas de táxi de São Paulo votavam em Paulo Maluf.
Na minha experiência, isso mudou; já conversei com taxistas a favor de Marta Suplicy e até com um que admirava o PC do B.
O que terá ocasionado essa mudança? E por que tanto malufismo nos táxis de antigamente? Uma reportagem da Folha, anos atrás, mostrava que a categoria tinha se beneficiado de várias iniciativas de Maluf quando ele era prefeito.
Era uma boa explicação. Podemos pensar em outras. Nem sempre as convicções de uma pessoa são efeito direto de seus interesses corporativos.
O malufismo em geral também declinou, fundindo-se sem contraste com seus antigos adversários. Por que fincar pé no freio malufista quando surge o convite de derrapar com Fernando Haddad?
Outra possibilidade. Será que os programas de rádio andam mais diversificados, com locutores menos opinativos e direitistas do que antes?
Não terá sido a própria origem social dos motoristas que mudou com o tempo? Há relação entre preferência malufista e níveis mais altos de instrução? Ou com melhoras eventuais no trânsito, decorrentes de novas obras?
O sindicato dos taxistas influenciava mais do que hoje o voto de seus membros? Qual era o peso do malufismo em seus dirigentes?
O número de perguntas poderia multiplicar-se, mas não é infinito. As explicações podem ser outras, mas é razoável dizer que perderia tempo quem quisesse relacionar essa mudança de mentalidade a uma alteração no nível de octanagem da gasolina. Ou à passagem de Mercúrio pelo segundo decanato no momento da entrevista.
Digo isso para assinalar pontos de interesse acadêmico, fora dos desconchavos da atual campanha.
Primeiro ponto: importante ou não, a pergunta sobre a atitude eleitoral dos taxistas faz parte de uma coisa chamada ciência social.
Segundo, essa ciência, embora menos exata do que outras, procura respostas comprováveis e fatuais. Serão aceitas até que outra melhor apareça.
Terceiro ponto: um conhecimento objetivo sobre comportamentos humanos tem, é claro, uma série de pressupostos teóricos. Por uma série de motivos, que seria ocioso explicitar, acreditamos que a octanagem da gasolina ou a órbita de Mercúrio não mudam o malufismo de ninguém.
Quarto ponto: embora localizada, a pergunta sobre o malufismo dos motoristas pode inspirar novas questões: o rádio influencia as eleições? Quanto? O sindicato de uma categoria é decisivo no comportamento eleitoral de seus membros?
Perguntas complexas, mas não desesperadoras.
Existe, contudo, uma poderosa força capaz de atrapalhar investigações desse tipo. Imagine-se o jovem sociólogo, em busca de um título de mestre ou doutor, querendo responder a essas perguntas.
A tendência seria formulá-las com mais sofisticação. E é quase certo que o conceito de "ideologia" vai entrar em cena.
Antes de qualquer pesquisa fatual, será preciso então definir o termo "ideologia". Há bibliotecas a respeito, alimentando a famosa "introdução teórica" que comparece em tantas teses acadêmicas.
Quando fiz meu mestrado, sobre (hum) "a ideologia do desenvolvimentismo" nos anos Kubitschek, tive de ler um livro sobre o assunto em que a introdução teórica tinha mais de cem páginas, revolvendo as cinzas de Gramsci. A relação daquilo com o corpo do trabalho era das mais tênues.
"O Fetichismo do Conceito", livro de Luís de Gusmão que acaba de sair pela Topbooks, faz um serviço e tanto demolindo esse tipo de superstição da linguagem acadêmica.
Doutor pela USP e professor na UnB, Gusmão demonstra detalhadamente de que modo o uso puramente ornamental dos famosos "conceitos teóricos" pode prejudicar o conhecimento sociológico; o uso da linguagem corrente, em vez do jargão, pode ser recomendado na vasta maioria dos casos.
Claro que a teoria é importante. Há teoria (lembrando uma frase de Karl Popper) até para dizer que um copo d'água está em cima da mesa. Mas seria insensato exigir a "base teórica" desse tipo de formulação.
O livro, para o qual escrevi o posfácio, haverá de ser acusado de simplismo. Quem se der ao trabalho de lê-lo, em especial a longa análise que Gusmão faz da obra de Sérgio Buarque de Holanda, verá que não há simplismo nenhum.
Sem conter ataques pessoais, o livro demonstra muita dureza polêmica. Mas seria injusto acusar de simplismo quem se dispõe, com paciência e rigor notáveis, a mostrar que o rei está nu.



Melvinia e Sally, negras americanas


Melvinia e Sally, negras americanas

CONFIRMADO: O trisavô da companheira Michelle Obama era branco. Exames de DNA provaram que ela descende do filho de um pequeno fazendeiro da Geórgia. O rapaz deveria ter seus 20 anos e, por volta de 1860, acasalou-se com Melvinia, uma escrava de seus 15.
Em 2009, a repórter Rachel Swarns, do "New York Times", revelou a existência de Melvinia, de quem Michelle nunca ouvira falar. Desde então ela colheu amostras de DNA de três parentes de Michelle, de uma bisneta do filho de Melvinia e de uma descendente branca do filho do fazendeiro. Agora publicou "American Tapestry" ("Tapeçaria Americana - A história dos ancestrais negros, brancos e multirraciais de Michelle Obama"). O e-book sai por US$ 14,99. De Melvinia sabe-se quase nada. Com as guerreiras negras de quem descende Michelle, aprende-se muito.
Numa ironia dos tempos, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos é produto da tenacidade de um casal branco do Kansas, que praticamente perfilhou o menino Barack, nascido de um casamento desajustado de sua filha com um queniano. Negro mesmo é o ramo de Michelle, com um pai zelador e a mãe, Marion, dura como rocha.
É ela quem descende de Melvinia. Mora na Casa Branca, onde cuida das netas e faz compras nos supermercados próximos.
O rastro de Melvinia é um pedaço vivo da história dos Estados Unidos. Quase todos os descendentes do sinhozinho do século 19 evitam falar do assunto, pois não lhes fica bem entrar na Casa Branca pela porta da senzala. Antes de Melvinia, os descendentes de Thomas Jefferson contestavam que ele tivesse vivido maritalmente com a escrava Sally Hemmings, com a qual teve um número incerto de filhos, talvez seis.
Antes de ser eleito presidente (1801-1809), Jefferson, viúvo, levou Sally para Paris, como criada de sua filha. A moça tinha 14 anos e era mulata muito clara. Seu pai e um avô eram brancos. Retratando a época, Sally e sinhá Martha, a mulher de Jefferson, tiveram o mesmo pai. Em 1997, exames de DNA mostraram que um homem do ramo de Jefferson era ascendente de pelo menos um filho da escrava. Sally, seus irmãos e seus filhos viveram como criados na fazenda do patriarca, em melhores condições que Melvinia.
Dolly, a fenomenal mulher de James Madison, sucessor de Jefferson, teria dito que as mulheres dos fazendeiros americanos eram as "escravas-chefe" do "harém dos senhores". Pouco se sabe de Charles, o filho do fazendeiro. Melvinia morreu em 1938 e não falava do assunto. Dos Hemmings sabe-se mais, porque um filho de Sally contou seu caso em 1873. Pena que os Jeffersons tenham queimado parte da correspondência do ex-presidente.
A história de Jefferson com Sally e sua família está em "The Hemmingses of Monticello - An American Family", um grande livro, ganhador do premio Pulitzer. O e-book sai por US$ 9,99.
O jovem professor brasileiro Bruno Carvalho escreveu na Universidade Harvard em 2005 um brilhante estudo, intitulado "Cláudio Manuel da Costa e Thomas Jefferson, dois 'Pais da Pátria' e o tema das relações inter-raciais no Brasil e nos Estados Unidos". Ele mostrou como o poeta da Inconfidência tratou a escrava Francisca Arcangela Cardoso com quem viveu por 30 anos e cinco filhos, a "bela Eulina, que é todo meu amor, o meu desvê-lo". Já os Jeffersons deletaram Sally.


Woody Allen admite não gostar de qualquer um de seus filmes


Woody Allen admite não gostar de qualquer um de seus filmes

Em seu novo filme, "Para Roma, com Amor" o cineasta criticou o título


O cineasta americano Woody Allen, que está em Los Angeles para promover o seu mais recente filme Para Roma, com Amor, confidenciou que "nunca ficou satisfeito" e "nunca apreciou qualquer filme (seu)", comparando-se a um chef de cozinha revoltado com a comida que prepara.
Para Roma, com Amor, primeira viagem do cineasta de 76 anos na Cidade Eterna, estreia na próxima sexta-feira nos cinemas brasileiros, depois de ter sido exibido na Itália em abril.
Em Los Angeles para promover seu filme, uma viagem incomum para os nova-iorquinos que nunca esconderam seu desprezo pela Califórnia em geral e pela fauna de Hollywood em particular, Woody Allen falou de sua filmografia com o humor e a auto-depreciação que o caracterizam.
— Quando você faz um filme é como um chef que trabalha em um prato. Depois de passar o dia na cozinha cortando, picando e adicionando molhos, você não quer mais comê-lo. Isto é o que sinto em relação a um filme — disse ele aos repórteres.
— Eu trabalho em um filme por um ano. Eu escrevo, trabalho com os atores, eu monto, coloco a música e depois não tenho absolutamente desejo algum de vê-lo novamente —prosseguiu.
— Eu nunca fiquei satisfeito e eu nunca gostei de nenhum dos meus filmes. Eu fiz o primeiro em 1968, Take the Money and Run (Um assaltante bem trapalhão), e eu nunca o assisti depois — disse.
— Eu sou eternamente grato ao público por amar alguns, apesar do meu próprio desapontamento. Para mim, (o resultado) sempre está longe de ser a obra-prima que eu tinha certeza de realizar — declarou.
Apesar de não amar toda a sua enorme filmografia, o cineasta não nutre pelo menos um pouco de afeição por Annie Hall (1977) ou Hannah e suas Irmãs (1986)?
— Em Annie Hall, a relação entre mim e Diane Keaton não era tudo o que me interessava. Era uma pequena parte de um projeto maior. E no final, eu tive que reduzir o filme a esta relação — conta.
Quanto à Hannah e suas Irmãs,  — foi uma grande decepção porque eu tive que fazer concessões significativas em relação a minha intenção original para assegurar a sobrevivência do filme — afirma.
O cineasta também criticou Para Roma, com Amor, sobretudo por seu "terrível título".
— Meu título original era Bob Decameron, mas ninguém sabia quem era o Decameron, mesmo na Itália — explica.
— Então eu mudei para Nero Fiddled (primeiras palavras, em inglês, de uma expressão que descreve o imperador Nero tocando lira enquanto Roma ardia), mas metade dos países do mundo dizia: 'não compreendemos o que isso quer dizer, nós não conhecemos esta expressão'. Então optei por um título genérico como Para Roma, com Amor para que todo mundo entendesse — admite, um pouco abatido.
O filme segue as histórias paralelas - e muitas vezes sentimentais - de vários casais, italianos e americanos, e conta com a presença de Penélope Cruz, Jesse Eisenberg, Ellen Page e Roberto Benigni. Woody Allen, que não aparecia em um de seus filmes desde Scoop em 2006, também retorna à tela no papel do pai de uma jovem americana a ponto de se casar com um italiano.
— Quando eu escrevo um script, se há um papel para mim, eu aceito. Mas à medida que eu fico mais velho, os papéis estão se tornando mais raros — disse.
— Quando eu era jovem, podia ter o papel principal e fazer cenas românticas com mulheres, era engraçado e eu gostava. Mas agora que estou mais velho, estou reduzido à papéis de porteiro ou de velho tio, o que não é realmente a minha praia.

Texto originário de Zero Hora

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Disputas por terras no Brasil vitimizam indígenas


Disputas por terras no Brasil vitimizam indígenas

POR SIMON ROMERO

ARAL MOREIRA, Brasil - Em um acampamento cercado por plantações de soja, perto da fronteira do Brasil com o Paraguai, os atiradores chegaram em caminhonetes durante a madrugada.
Testemunhas disseram que os homens atiraram em Nísio Gomes, 59, líder da população indígena guarani. Carregaram seu cadáver em um dos veículos e foram embora. "Queremos os ossos do meu pai", disse Valmir Gomes, 33, um dos filhos de Nísio, que presenciou o assassinato em novembro passado. "Ele não é um animal para ser arrastado daquele jeito."
Na disputa pelas terras ancestrais, os assassinatos e desaparecimentos de líderes indígenas continuam aumentando, o que deixa uma mancha sobre a ascensão econômica do Brasil. A expansão de enormes criações de gado e fazendas em regiões remotas produziu uma disputa pela terra que deixa os descendentes dos habitantes originais do Brasil desesperados para recuperá-las. Em alguns casos, eles invadem propriedades contestadas.
Enquanto isso, os proprietários de terras -muitos dos quais vivem em terras colonizadas há décadas por seus familiares nos chamados programas de colonização do governo- defendem igualmente suas reivindicações.
Os conflitos muitas vezes resultam em choques violentos, que podem terminar tragicamente para os índios: 51 foram mortos no Brasil em 2011. Vinte e quatro dessas mortes se relacionavam a disputas por terras, segundo o Conselho Indigenista Missionário, da Igreja Católica.
As mortes chamaram a atenção para um problema que ainda aflige o Brasil, que recebe a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, no Rio de Janeiro. Vinte anos atrás, antes da primeira Cúpula da Terra no Rio, as autoridades reagiram às críticas internacionais sobre a morte de indígenas ianomâmis por garimpeiros criando uma reserva de 96 mil quilômetros quadrados na Amazônia.
A presidente Dilma Rousseff se antecipou este mês com a demarcação de sete áreas indígenas muito menores. Mas Cleber César Buzatto, o secretário-executivo do Conselho Indigenista Missionário, diz que a medida foi decepcionante porque as áreas, de modo geral, não eram foco de disputas por terra.
Em alguns casos, os tribunais abriram caminho para que alguns povos indígenas -que representam menos de 1% da população brasileira, de 191 milhões de habitantes- recuperassem suas terras. Em Roraima, em 2009, a Suprema Corte do Brasil expulsou plantadores de arroz das terras de 20 mil indígenas. Neste ano, o Supremo Tribunal Federal anulou os títulos privados de 200 propriedades no Estado da Bahia, decidindo que a terra pertencia à população pataxó hã hã hãe. A decisão se seguiu a choques que deixaram pelo menos dois mortos.
A tensão também aumenta na discussão sobre uma proposta de lei que abriria áreas indígenas à mineração. Essa situação mostra como a demanda por recursos naturais no Brasil pode exacerbar as disputas por terra.
Ataques contra povos indígenas persistem no Mato Grosso do Sul, onde empresas multinacionais como a Louis Dreyfus, gigante francesa de matérias-primas, têm investimentos.
O surto de riqueza na região contrasta com o desespero dos povos indígenas do Estado - cerca de 75 mil pessoas de uma população de 2,4 milhões. Sua marginalização tem raízes em políticas implementadas nos anos 1930, quando os governantes brasileiros encurralaram os guaranis em pequenas reservas com a intenção de abrir vastas áreas para os colonizadores que vinham de todo o país.
Os resultados para os indígenas foram desastrosos. À sombra da prosperidade do Mato Grosso do Sul, líderes indígenas chamam a atenção para as mortes de dezenas de crianças guaranis por causa da desnutrição e de uma epidemia de suicídios na última década, notadamente em Dourados, uma área urbana onde milhares de guaranis vivem amontoados em pequenos terrenos.
Enquanto a investigação sobre a morte de Gomes se arrasta, os guaranis vivem com medo. As famílias dormem em tendas no acampamento. Adolescentes patrulham com arcos e flechas. Quando os visitantes recebem permissão para entrar, as crianças seguram placas dizendo: "Queremos os ossos de nosso líder, Nísio Gomes".
Alguns proprietários de terras afirmam que o complexo sistema jurídico brasileiro dificulta a resolução das disputas.
"Os direitos de todos têm de ser garantidos", disse Roseli Maria Ruiz, cuja família possui uma fazenda que foi parcialmente ocupada há mais de uma década por guaranis e onde ocorrem choques com os indígenas. "Não podemos, como não nativos, ser tratados como cidadãos de segunda classe", disse. "Também devemos ter o direito de nos defender."
Colaborou Lis Horta Moriconi, do Rio de Janeiro



Com a crise, grandes investidores não sabem mais onde aplicar o dinheiro


Com a crise, grandes investidores não sabem mais onde aplicar o dinheiro

Sven Böll e Martin Hesse
Der Spiegel

O homem que controla mais de 450 bilhões de euros (US$ 558 bilhões) está usando meias com listras roxas, rosas e vermelhas e uma gravata de bolinhas. A sua cabeça calva brilha tanto que parece ter sido polida. Ou seja, Yngve Slyngstad é um típico norueguês de aparência tranquila. Ele ri bastante e demonstra uma tendência de temperar as suas respostas com pitadas de ironia.

Então, como se sente um dos mais poderosos investidores do mundo em 2012? "Antigamente nós procurávamos lucros sem riscos". Ele pausa para aumentar o efeito da frase. "Mas atualmente nós sabemos muito bem que a opção restante são os investimentos de risco e sem lucros".

Atualmente esta é uma experiência comum para esse investidor de 49 anos de idade. O seu desafio constante é encontrar maneiras de investir uma grande quantidade de capital novo e de reinvestir capital antigo.

Como presidente do fundo soberano norueguês, Slyngstad coleta as receitas oriundas do petróleo do seu país, que atualmente são de 100 milhões de euros – por dia. O fundo deveria utilizar essas receitas para proporcionar ao país prosperidade no longo prazo. Mas a tarefa não é fácil já que o governo espera que Slyngstad e a sua equipe de mais de 300 pessoas produzam um lucro de 4% sobre o investimento.

Em ocasiões passadas, profissionais do setor de investimento teriam desprezado essa exigência, classificando-a de restritiva. Mas os tempos mudaram. Entre 1999 e 2007, o fundo soberano norueguês gerou um rendimento médio de quase 6%, mas nos últimos quatro anos esta média caiu para apenas 1%. "A situação nos mercados financeiros tornou-se extremamente difícil", explica Slyngstad. As taxas de juros estão despencando no mundo inteiro e a Alemanha, mais do que qualquer outro país, está se beneficiando do temor de que a zona do euro sofra uma implosão.

Dinheiro emprestado sem juros

Neste momento em que a saída da Grécia da união monetária passou a ser uma opção realista, em que a Espanha luta desesperadamente para preservar a sua independência financeira e os cidadãos do sul da Europa começaram a retirar todo o dinheiro das suas contas bancárias, a corrida à Alemanha – que é tida como o porto seguro da Europa – voltou a intensificar-se.

Nas últimas semanas, o ministro das Finanças da Alemanha contraiu um empréstimo de dois anos sem que tivesse que pagar um só centavo de juros. Até mesmo investidores que emprestam dinheiro ao tesouro alemão há uma década encontram-se atualmente satisfeitos com um rendimento de apenas 1,2% ao ano. E os juros sobre os títulos do Tesouro dos Estados Unidos e sobre as securities da dívida japonesa também se encontram em níveis similarmente baixos.

Mas aquilo que é útil para vários ministros das Finanças é frustrante para os investidores. Quando os atuais rendimentos baixíssimos são ajustados de acordo com a inflação, muitos investidores veem-se de fato tendo prejuízos. Investir dinheiro está virando sinônimo de destruição de ativos, já que são pouquíssimos os investimentos que produzem de fato rendimentos.

Investidores profissionais de todo o mundo estão atualmente administrando mais de 60 trilhões de euros, o que é mais do que o dobro daquilo que administravam dez anos atrás. Há quem fale de uma "emergência de investimentos" nos mercados financeiros internacionais, e o mais desconcertante quanto a isso é que o problema não está afetando tanto os bilionários ou os especuladores corporativos gananciosos quanto os maiores protagonistas do mercado financeiro: fundos soberanos como o da Noruega, companhias seguradoras japonesas e fundos de pensões dos Estados Unidos e da Alemanha.

A maioria desses protagonistas está administrando o dinheiro de pequenos investidores, bilhões de dólares em ativos com os quais eles não desejam fazer nenhuma aposta. Ao contrário, o objetivo deles é investir o dinheiro de forma que esses pequenos investidores possam pagar aos seus clientes pensões de valor considerável ou quantias referentes a apólices de seguro de vida. No entanto, isso geralmente só funciona se o dinheiro for investido de maneira segura, gerando ao mesmo tempo um rendimento de alguns pontos percentuais.

Mas, em muitos casos, tais rendimentos tornaram-se irrealistas, agora que os credores da Grécia tiveram que absorver o calote referente a uma grande parte da dívida daquele país. Como resultado, um princípio básico da estrutura de investimentos foi destruído. Os títulos dos principais países industrializados foram considerados investimentos isentos de riscos durante décadas. Mas agora ficou evidente que os investidores em títulos podem também perder o seu dinheiro. Ninguém mais sabe o que é de fato um porto seguro para investimentos.

Títulos, ações ou dinheiro

Para Friedrich von Metzler, 69, um banqueiro de Frankfurt, este é um triunfo há muito esperado. Metzler sempre recomendou modéstia aos seus clientes. Pinturas a óleo dos seus ancestrais estão dependuradas na parede da sala de conferências na sede do seu banco privado. O banco pertence à família de Metzler há quase 350 anos, e ele sobreviveu a pestes, à hiperinflação e a duas guerras mundiais. Os clientes de Metzler contam com três opções para investirem o seu capital: títulos, ações e dinheiro. "Quem achar que isso não é suficiente terá que procurar a concorrência", diz Metzler.

Essa atitude não desencoraja vários dos seus clientes ricos. Pelo contrário, os negócios estão melhores do que nunca. Recentemente, Metzler teve que reiterar o seu mantra, que vai de encontro à ganância humana, diversas vezes: "No longo prazo, preservar os ativos em termos reais já se constitui em um sucesso".

O único problema é que mesmo isso se tornou uma meta utópica para muitos investidores nos mercados financeiros. Vejamos, por exemplo, as companhias de seguro alemãs, que operam em uma indústria altamente regulamentada. Após o colapso do mercado em 2000, as companhias tiveram que vender a maioria das suas ações. Elas são obrigadas a manter pelo menos dois terços dos ativos dos seus clientes aplicados em investimentos absolutamente seguros. E isso, segundo o consenso geral, ainda significa aplicar em títulos do governo com altas classificações de crédito.

Eles só têm permissão para aplicar um terço dos ativos que administram em outros tipos de investimentos, como o mercado imobiliário, títulos de corporações e fundos de hedge. Isso se constitui, digamos, no seu "dinheiro para apostas". Mas mesmo quando essas instituições assumem altos riscos com esses ativos, o rendimento médio total para o dinheiro recém-investido está atualmente em 3,5%.

Isso gera um enorme problema no longo prazo. As companhias de seguro ainda têm vários securities mais antigos nas suas carteiras, e eles produzem rendimentos mais elevados. Mas os novos investimentos são bem menos rentáveis, e, como resultado, o retorno médio dos investimentos em geral está caindo de forma lenta, mas contínua.

Além do mais, milhões de segurados optaram por apólices que lhes garantem rendimentos anuais de 4%. Se uma companhia de seguro for incapaz de alcançar essa meta, ela será forçada a recorrer às suas reservas. Isso, por sua vez, faz com que aumente a pressão sobre o setor para proporcionar rendimentos maiores.

Descartando títulos

Este é um desafio com o qual Volker Blau está bastante familiarizado. Blau trabalha para a firma de investimento norte-americana PIMCO, onde ele administra o pagamento de seguros para seguradoras como a gigante alemã Allianz e outras companhias de seguro europeias. Blau diz que uma companhia de seguros na Alemanha é como um automóvel Porsche que só pode ser dirigido na primeira marcha. Ou seja, ela dispõe de potência abundante, mas as suas possibilidades de ação são limitadas. O valor total das apólices de seguro alemãs chega a 734 bilhões de euros.

Quando a seguradora conservadora Allianz adquiriu a PIMCO, 12 anos atrás, aquela foi uma iniciativa no sentido de fazer uma mudança de ritmo pelo menos para a segunda marcha e aceitar os riscos vinculados a uma estrada esburacada. Mas o que ocorre quando essa estrada vai se tornando cada vez mais intransitável?

E quanto aos títulos do governo? "Antes mesmo da crise do euro, muitas seguradoras começaram abandonar as aplicações em títulos governamentais, onde os rendimentos vinham sendo baixos havia vários anos", afirma Blau.

E as ações? "Os investimentos das companhias de seguro em equities encontram-se nos níveis mais baixos já registrados", diz Blau. Recentemente, o setor investiu apenas uma média de 3,3% dos seus ativos em ações. Até mesmo gigantes do setor como a Allianz e a Munich Re saíram escaldadas com o colapso do mercado de ações em 2000.

E o que fazer com todo o dinheiro? Blau mostra-se imperturbável. Existem vários investimentos de juros fixos que são quase tão seguros quanto os títulos do governo alemão, mas que geram maiores rendimentos. Por exemplo, os títulos cobertos de dez anos, conhecidos na Alemanha como Pfandbriefe, estão pagando juros de 2,5% na Alemanha, e produtos similares em outros países europeus oferecem rendimentos maiores. Mas os títulos que são segurados por imóveis espanhóis também implicam em um risco maior.

Busca por alternativas

É isso o que acontece quando se decide trilhar novas rotas. Às vezes não se sabe se esses caminhos não são apenas trilhas velhas e erradas.

No passado, o gerente de investimentos Blau não via problemas em adquirir títulos emitidos por bancos. Mas desde que o Lehman Brothers faliu e depois do desastre grego, nenhum investidor se dispõe mais a emprestar dinheiro a bancos sem exigir em troca uma garantia financeira substancial. Em vez disso, Blau está fazendo cada vez mais aqueles tipos de investimentos que os bancos costumavam fazer. Por exemplo, no setor imobiliário. Quando o Deutsche Bank vendeu as suas recém-renovadas torres gêmeas em Frankfurt para a sua subsidiária DWS no ano passado, o financiamento veio da Allianz.

Há pouca coisa que Blau não está disposto a explorar na sua busca por lucros derivados de investimentos. Ele avalia desde projetos de infraestrutura até usinas eólicas. A última moda é, por incrível que pareça, o investimento em parquímetros. Há dois anos, a Allianz e um grupo de parceiros investiram um bilhão de euros em uma companhia que opera parquímetros em Chicago. E embora os bancos se esquivem de financiar as autoridades municipais alemãs, que estão com carência de dinheiro, as companhias de seguro mostram-se cada vez mais interessadas pelos títulos municipais. A companhia alemã de seguros de vida R+V Lebensversicherung comprou recentemente 20 milhões de euros em títulos da prefeitura de Wiesbaden, uma cidade do oeste da Alemanha.

Os títulos corporativos e a dívida soberana de economias emergentes, que no passado eram coisas para os mais intrépidos, subitamente passaram a ser vistos como focos de segurança. E, se no passado os elevados déficits orçamentários, as dívidas e as poucas reservas em moeda estrangeira desencorajavam muitos investidores a aplicar o seu dinheiro em regiões de alto crescimento, atualmente países como o Brasil e a Coreia do Sul adquiriram a reputação de devedores responsáveis. "Em alguns casos, grandes companhias industriais, assim como economias emergentes, são capazes de oferecer mais segurança do que certos títulos governamentais de nações industrializadas", diz Blau.

Florestas e shopping centers

Daniel Just está sofrendo ainda mais pressões do que os gerentes das companhias de seguro para gerar rendimentos de longo prazo decentes. Just é diretor de investimentos do fundo de pensão Bayerische Versorgungskammer, que administra 55 bilhões de euros em ativos. Para os membros de diversas profissões, incluindo médicos, advogados e até mesmo limpadores de chaminés, as contribuições que eles fazem para fundos de pensões como o Bayerische Versorgungskammer são muitas vezes os seus únicos planos de aposentadoria. Se no longo prazo a Alemanha pudesse vira a ser afligida por baixas taxas de juros, para milhões de pessoas as consequências disso seria devastadora.

Não há como superestimar os efeitos de juros compostos. Se uma pessoa poupar 500 euros por mês, ela acumulará 350 mil euros em 30 anos, assumindo que a aplicação envolva um rendimento anual de 4%. Mas se os juros diminuírem para apenas 2%, o resultado final cairá para cerca de 100 mil euros.

Para fazer frente a esse problema, Just escolheu uma rota revolucionária para o Bayerische Versorgungskammer anos atrás: investir em economias emergentes. A ideia é que economias novas e em ascensão na Ásia e na América Latina financiarão as pensões de uma sociedade alemã que está envelhecendo. Devido à abordagem de Just em relação aos investimentos, atualmente a Bayerische Versorgungskammer não só é a orgulhosa proprietária de florestas nos Estados Unidos, mas também de terrenos comerciais na China e no Brasil, bem como de um shopping center no Chile.

Tudo que prometa fluxos de capital de longo prazo consistentes é considerado atraente. Uma competição entre grandes investidores por ativos reais como imóveis e projetos de infraestrutura já teve início, e os preços estão subindo proporcionalmente a isso. "Está ficando cada vez mais difícil encontrar investimentos atraentes", diz Just. De fato, o novo problema no universo de investimentos é o mesmo que o antigo. A indústria financeira é como uma manada que via de regra corre toda na mesma direção.

"Eu estou de fato gostando da situação"

"Sempre é errado fazer aquilo que todo mundo está fazendo", diz Hendrik Leber, sentado no seu escritório pouco mobiliado no distrito bancário de Frankfurt. Ele usa algumas canetas hidrográficas para ilustrar o que diz. Leber desenha uma tabela em um pedaço de papel, usando a caneta hidrográfica azul. Ele diz que cada um dos 50 compartimentos na tabela representa uma oportunidade de investimento – desde securities de governos e títulos corporativos de países em desenvolvimento até commodities como o ouro.

No momento, todo mundo está apostando em alguns poucos compartimentos, especialmente aquele que contém a dívida soberana alemã. Ele desenha um círculo em torno desse compartimento.

"A maioria das pessoas é incapaz de enxergar como o resto do mercado é altamente atraente", diz Labor, que gerencia um fundo com ativos no valor de 1,1 bilhão de euros. "Eu estou de fato gostando desta situação", acrescenta ele. Sempre que a sua política de investimentos permite, ele investe segundo o lema: Se você vai correr riscos, é melhor correr riscos grandes. Por exemplo, ele investiu em títulos emitidos por bancos irlandeses.

No momento a sua preferência recai sobre um país que todo mundo está evitando como uma verdadeira praga: a Grécia. Ele comprou ações de várias companhias gregas, incluindo aquelas de uma empresa de loterias. Leber tem uma explicação bastante racional para uma medida que pode dar a impressão de ser mais do que audaciosa: "Os gregos sempre jogaram na loteria, e eles continuarão jogando".


Tradutor: UOL