Woody Allen admite não gostar de qualquer um de seus filmes
Em seu novo filme, "Para Roma, com Amor" o cineasta criticou o título
O cineasta americano Woody Allen, que está em Los Angeles para promover o seu mais recente filme Para Roma, com Amor, confidenciou que "nunca ficou satisfeito" e "nunca apreciou qualquer filme (seu)", comparando-se a um chef de cozinha revoltado com a comida que prepara.
Para Roma, com Amor, primeira viagem do cineasta de 76 anos na Cidade Eterna, estreia na próxima sexta-feira nos cinemas brasileiros, depois de ter sido exibido na Itália em abril.
Em Los Angeles para promover seu filme, uma viagem incomum para os nova-iorquinos que nunca esconderam seu desprezo pela Califórnia em geral e pela fauna de Hollywood em particular, Woody Allen falou de sua filmografia com o humor e a auto-depreciação que o caracterizam.
— Quando você faz um filme é como um chef que trabalha em um prato. Depois de passar o dia na cozinha cortando, picando e adicionando molhos, você não quer mais comê-lo. Isto é o que sinto em relação a um filme — disse ele aos repórteres.
— Eu trabalho em um filme por um ano. Eu escrevo, trabalho com os atores, eu monto, coloco a música e depois não tenho absolutamente desejo algum de vê-lo novamente —prosseguiu.
— Eu nunca fiquei satisfeito e eu nunca gostei de nenhum dos meus filmes. Eu fiz o primeiro em 1968, Take the Money and Run (Um assaltante bem trapalhão), e eu nunca o assisti depois — disse.
— Eu sou eternamente grato ao público por amar alguns, apesar do meu próprio desapontamento. Para mim, (o resultado) sempre está longe de ser a obra-prima que eu tinha certeza de realizar — declarou.
Apesar de não amar toda a sua enorme filmografia, o cineasta não nutre pelo menos um pouco de afeição por Annie Hall (1977) ou Hannah e suas Irmãs (1986)?
— Em Annie Hall, a relação entre mim e Diane Keaton não era tudo o que me interessava. Era uma pequena parte de um projeto maior. E no final, eu tive que reduzir o filme a esta relação — conta.
Quanto à Hannah e suas Irmãs, — foi uma grande decepção porque eu tive que fazer concessões significativas em relação a minha intenção original para assegurar a sobrevivência do filme — afirma.
O cineasta também criticou Para Roma, com Amor, sobretudo por seu "terrível título".
— Meu título original era Bob Decameron, mas ninguém sabia quem era o Decameron, mesmo na Itália — explica.
— Então eu mudei para Nero Fiddled (primeiras palavras, em inglês, de uma expressão que descreve o imperador Nero tocando lira enquanto Roma ardia), mas metade dos países do mundo dizia: 'não compreendemos o que isso quer dizer, nós não conhecemos esta expressão'. Então optei por um título genérico como Para Roma, com Amor para que todo mundo entendesse — admite, um pouco abatido.
O filme segue as histórias paralelas - e muitas vezes sentimentais - de vários casais, italianos e americanos, e conta com a presença de Penélope Cruz, Jesse Eisenberg, Ellen Page e Roberto Benigni. Woody Allen, que não aparecia em um de seus filmes desde Scoop em 2006, também retorna à tela no papel do pai de uma jovem americana a ponto de se casar com um italiano.
— Quando eu escrevo um script, se há um papel para mim, eu aceito. Mas à medida que eu fico mais velho, os papéis estão se tornando mais raros — disse.
— Quando eu era jovem, podia ter o papel principal e fazer cenas românticas com mulheres, era engraçado e eu gostava. Mas agora que estou mais velho, estou reduzido à papéis de porteiro ou de velho tio, o que não é realmente a minha praia.
Texto originário de Zero Hora.
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