quarta-feira, 6 de junho de 2012

Costa e Silva foi acusado de nepotismo


Sopa de letrinhas
Vão ser abertos os arquivos militares da ditadura. Ponto para a transparência. Assim, como historiador, sociólogo, escritor e jornalista que sou, poderei deixar o papel chato de ter de revelar às pessoas coisas que elas viveram e não lembram ou não ficaram sabendo. Viver numa época não é garantia de conhecimento dos fatos. Dou exemplos. Uma citação do historiador Carlos Fico, em “Como eles agiam – os subterrâneos da ditadura militar: espionagem e polícia política”, para quem acha que Castelo Branco foi boa praça: “No que se refere a Castelo Branco, bem caberia uma revisão da sua biografia, pois a fama de liberal e moderado discrepa da sem-cerimônia com que se serviu de atos de força, sempre que necessário”.
Quem identifica de cara toda esta sopa de letrinhas aparentemente inocentes: SISSEGIN, SISNI, CONDI, CODI, DOI, ADI, SADI, OBAN, CIEX, CENIMAR, CIE, CISA e ZDI? São aparelhos de informação ou repressão inventados pela ditadura. As ZDI eram Zonas de Defesa interna. Tem muito mais. Quase um delírio de siglas. Todas preocupadas com a tranquilidade interna, uma utopia autoritária em que as pessoas viveriam sem ideologias, e com a boa imagem do Brasil no exterior. Até a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA foi acusada de promover uma “tenebrosa campanha difamatória” contra o Brasil e seu povo.
Tudo por dizer que havia tortura no país dos generais, “presidentes” por rodízio de modo a satisfazer os americanos, que não queriam ditaduras explícitas.
Um relatório de onze volumes preparado por uma dessas siglas, em 1970, garantia que “jamais foi presa ou processada no Brasil qualquer pessoa que tenha manifestada ideias politicas contrárias ao governo”. O superior resolveu não utilizar o material. Poderia parecer uma falsificação da realidade. Uau! Agora, para desiludir mais alguns lacerdinhas, uma informação sobre o impoluto general Costa e Silva. Segundo Thomas Skidmore, em “Brasil, de Castelo a Tancredo”, Costa e Silva foi acusado pelo general Moniz Aragão “de obter favores para seus parentes”. Como diz a música, cai o rei de ouro, cai o rei de copas, cai, não fica nada”. Costa e Silva ficou fulo com o seu ministro do Exército, Lira Tavares, que não soubera manter a disciplina da tropa. Aragão, que era chefe do Departamento de Provisão Geral do Exército, perdeu, depois da sua carta-bomba, o cargo. Quem mandou ser linguarudo. É incrível como os melhores clichês dos lacerdinhas sempre encontram algum desmentido na História.
Vale outro bom clichê: ninguém é santo mesmo.
Não provaram nada? Ah, bom! Contra Jango também não. No caso de Costa e Silva, tentar provar era muito perigoso. Ele não sabia de nada? Que coisa! Parece uma maldição dos poderosos. Eles nunca estão a par dos principais acontecimentos dos seus governos. É por isso que a minha avó dizia: “Guri, não bota a mão no fogo por ninguém”. Daí a minha sugestão aos interessados: arranjem novos argumentos, parem de copiar e colar dos lacerdões e lacerdinhas da Veja, da Folha e do PIG em geral. Quem diria, nem Costa e Silva escapou de uma suspeita. Com ele, o acusador é que era punido.
Tão chato ter de estragar as ilusões dos outros. Que fazer? É minha sina.

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