sexta-feira, 1 de junho de 2012

Proposta de barragem ameaça índios do Peru


Proposta de barragem ameaça índios do Peru

Por AARON NELSEN

BOCA SANIBENI, Peru - Ao longo do rio Ene, em um vale remoto nas verdejantes encostas orientais dos Andes, o zumbido de um motor de lancha atrai o olhar das crianças ashaninkas.
Com o assédio de colonos e especuladores, e depois de uma guerra devastadora contra a guerrilha Sendero Luminoso, uma década atrás, os ashaninkas estão em situação precária. E agora enfrentam um novo perigo: a proposta da barragem hidrelétrica de Pakitzapango, de 2.200 megawatts, que inundaria grande parte do vale do rio Ene.
O projeto faz parte da proposta de construção de até cinco represas, que gerariam mais de 6.500 megawatts para serem exportados para o Brasil. As represas deslocariam milhares de pessoas nesse processo.
Antonio Metzoquiari, 59, considerou as implicações para sua comunidade. "Esta é uma questão grave", disse. "É um retorno à violência, mais uma guerra. Não sei onde ou como, mas teríamos de encontrar um novo lugar para viver."
As usinas hidrelétricas perderam a preferência em algumas partes do mundo, mas continuam atrativas em grande parte da América Latina, onde vários países têm muita água e carecem de outras fontes de energia.
Por enquanto, o projeto está parado no Congresso peruano. O presidente Ollanta Humala não assumiu uma posição clara sobre a proposta das represas, mas isso provavelmente mudará quando a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, visitar o Peru, o que deverá acontecer em breve.
Apesar das alegações de que o bem-estar das comunidades afetadas é uma alta prioridade, vários projetos aprovaram estudos de viabilidade antes que os moradores fossem informados de que o governo já tinha feito concessões da terra. Em resposta, a Central Ashaninka do Rio Ene, que representa essa população indígena, foi ao tribunal para obrigar o Ministério das Minas e Energia a revelar todos os estudos de viabilidade.
Depois que o projeto foi anunciado, a organização reuniu 17 comunidades ashaninkas para explicar que uma barragem inundaria algumas comunidades e secaria outras. Muitas pessoas serão obrigadas a deixar suas casas, afirmam os críticos, citando memórias da guerra do Peru contra os rebeldes de inspiração maoísta Sendero Luminoso, que oficialmente terminou em 2000, mas dizimou os ashaninkas.
Das 70 mil pessoas que foram mortas durante duas décadas, 6.000 eram ashaninkas, disseram especialistas. Outras milhares foram desalojadas.
O orador final na reunião, Dimer Dominguito, 25, que estava acompanhado de sua mulher e cinco filhos, resumiu a revolta dos ashaninkas.
"Na cidade eles ganham dinheiro e compram o que precisam, mas aqui nós vivemos segundo nossos costumes, nosso mercado, comendo o que plantamos e somos felizes", disse. "Queremos defender nosso direito ao que é natural, defender nosso mercado, e apoiamos o governo, mas quem nos apoia?"



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