Esses países, antes de começar a epidemia, fecharam tudo. Mesmo com o sucesso do isolamento, continuam alertas, com cuidados. As muitas diferenças entre o Brasil e esses lugares não são justificativas para tantos erros, descasos e irresponsabilidades.
Tenho vontade de ir à Nova Zelândia, pois lá há uma primeira-ministra competente, firme, corajosa, que gosta da ciência, do diálogo e que comanda o país e a epidemia. Quando aparece alguém infectado, há uma intensa investigação dos contatos, dos contatos dos contatos, e assim sucessivamente.
Tenho, às vezes, vontade de ir para outro lugar, mas não vou, pois aqui é meu país, aqui tem pão de queijo com cafezinho, tem, principalmente, o carinho de pessoas queridas.
Tenho, às vezes, vontade de ir para outro lugar, mas não vou, pois aqui é meu país, aqui tem pão de queijo com cafezinho, tem, principalmente, o carinho de pessoas queridas.
PARTIDA MAIS PERIGOSA
Dia 17 de junho, 50 anos atrás, o Brasil ganhou do Uruguai por 3 a 1 e foi para a final da Copa de 1970. Foi a partida mais perigosa, por ser mata-mata e porque o Uruguai, que tinha a melhor defesa do Mundial, fez o primeiro gol.
Existe, no Rio de Janeiro, uma tradicional pelada, fundada pelo craque Gerôncio, jogada no campo do Piraquê, com juiz, times uniformizados e tudo mais. Um dos participantes é o professor de engenharia da UFMG Luiz Rafael Palmier (Rafa), que viveu muito tempo no Rio. Ele escreveu um delicioso livro, que, brevemente, será publicado com o nome “A melhor pelada do mundo –50 anos em 50 crônicas dentro de campo”.
Segue o texto de uma das crônicas, “A morosidade genial do rei da área”: “Jorge avança pela lateral esquerda. Está no mesmo lugar do campo em que o craque Tostão se encontra no estádio Jalisco, de Guadalajara, ao dar o fantástico passe para o gol do Clodoaldo, no jogo entre Brasil e Uruguai. Em décimos de segundos, Jorge, inspirado por Tostão, dá o passe com o requinte e o preciso cálculo de que a bola deveria primeiro quicar, para que ficasse à feição para o arremate do genial João, o rei da área, com o pé direito. Mais ainda, por ter cantado o passe, ele supera em muito aquele de Tostão”.
Eu não tenho o talento de Jorge, mas, em minha pretensa sabedoria técnica, suspeito que, sem pensar, inconscientemente, eu tenha, como Jorge, calculado a velocidade da bola e percebido o momento em que ela iria quicar, para chegar, no instante exato, para Clodoaldo finalizar. Existe um saber que antecede ao pensamento.
O segundo gol da seleção contra o Uruguai é o símbolo do futebol revolucionário para a época. O Uruguai atacava, e o Brasil tinha os 11 jogadores recuados. Jairzinho recuperou a bola, e ele, eu e Pelé trocamos passes no próprio campo, e Jairzinho foi receber meu passe na intermediária do Uruguai. Uma aula de contra-ataque moderno.
Naquele gol, como no primeiro, tenho a soberba impressão de que, sem pensar, calculei para que a bola chegasse à frente de Jairzinho e atrás do marcador, já que os dois corriam olhando para gol, e o zagueiro estava dois metros à frente de Jairzinho. Se desse o passe mais longo, o zagueiro chegaria primeiro.
O ser humano, narcisista, enamorado de si mesmo, deseja na vida ter seus momentos de heroísmo, mesmo que seja para os outros algo banal, rotineiro. Os três passes que dei contra o Uruguai, dois para gols e o terceiro para Pelé fazer o quase gol mais bonito da história, foram meus grandes momentos de heroísmo na Copa.
Existe, no Rio de Janeiro, uma tradicional pelada, fundada pelo craque Gerôncio, jogada no campo do Piraquê, com juiz, times uniformizados e tudo mais. Um dos participantes é o professor de engenharia da UFMG Luiz Rafael Palmier (Rafa), que viveu muito tempo no Rio. Ele escreveu um delicioso livro, que, brevemente, será publicado com o nome “A melhor pelada do mundo –50 anos em 50 crônicas dentro de campo”.
Segue o texto de uma das crônicas, “A morosidade genial do rei da área”: “Jorge avança pela lateral esquerda. Está no mesmo lugar do campo em que o craque Tostão se encontra no estádio Jalisco, de Guadalajara, ao dar o fantástico passe para o gol do Clodoaldo, no jogo entre Brasil e Uruguai. Em décimos de segundos, Jorge, inspirado por Tostão, dá o passe com o requinte e o preciso cálculo de que a bola deveria primeiro quicar, para que ficasse à feição para o arremate do genial João, o rei da área, com o pé direito. Mais ainda, por ter cantado o passe, ele supera em muito aquele de Tostão”.
Eu não tenho o talento de Jorge, mas, em minha pretensa sabedoria técnica, suspeito que, sem pensar, inconscientemente, eu tenha, como Jorge, calculado a velocidade da bola e percebido o momento em que ela iria quicar, para chegar, no instante exato, para Clodoaldo finalizar. Existe um saber que antecede ao pensamento.
O segundo gol da seleção contra o Uruguai é o símbolo do futebol revolucionário para a época. O Uruguai atacava, e o Brasil tinha os 11 jogadores recuados. Jairzinho recuperou a bola, e ele, eu e Pelé trocamos passes no próprio campo, e Jairzinho foi receber meu passe na intermediária do Uruguai. Uma aula de contra-ataque moderno.
Naquele gol, como no primeiro, tenho a soberba impressão de que, sem pensar, calculei para que a bola chegasse à frente de Jairzinho e atrás do marcador, já que os dois corriam olhando para gol, e o zagueiro estava dois metros à frente de Jairzinho. Se desse o passe mais longo, o zagueiro chegaria primeiro.
O ser humano, narcisista, enamorado de si mesmo, deseja na vida ter seus momentos de heroísmo, mesmo que seja para os outros algo banal, rotineiro. Os três passes que dei contra o Uruguai, dois para gols e o terceiro para Pelé fazer o quase gol mais bonito da história, foram meus grandes momentos de heroísmo na Copa.
As memórias são do craque e cronista esportivo Tostão, na Folha de São Paulo.
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