A coluna de hoje não é recomendada para leitura durante refeições. Seu assunto é o ânus de Jair Bolsonaro e os desarranjos de seu governo. Desculpe o calão intestinal, mas faz parte da linguagem com que, pela primeira vez no Brasil, um presidente da República passou a se expressar.
O leitor se lembra. Pouco depois de sua posse, Bolsonaro confessou ter feito xixi na cama até os cinco anos de idade. Por algum motivo, disse também que o brasileiro não sabia lavar o pênis com água e sabão e, num arroubo de modéstia, declarou para uma plateia extasiada que continuava “na ativa e sem aditivos”.
Dias depois, no Carnaval, protagonizou o extraordinário episódio do golden shower, postando um vídeo em que dois rapazes se urinavam. Com essa fixação fálica e urinária de Bolsonaro, só a diplomacia explica que os outros chefes de Estado continuassem lhe apertando a mão.
Mas Bolsonaro, para quem “porra” é vírgula, evoluiu —levou seu governo à fase fecal e anal. Na inesquecível reunião ministerial de abril, chamou dois governadores e um prefeito de “bostas” e, referindo-se aos processos movidos pelo STF, alertou: “O que esses caras querem é a nossa hemorroida!”.
Como não se sabia que o presidente sofria de dilatação venosa em região tão delicada, ficou ainda mais dolorosa a recente afronta a ele dirigida por seu mentor Olavo de Carvalho, que, defecando para uma condecoração com que Bolsonaro o distinguira, mandou-o “enfiar a condecoração no *”. Foi a ordem mais chocante dirigida até hoje a um presidente no Brasil e, pelo silêncio presidencial como resposta, não se sabe se foi cumprida.
Agora, com a prisão de Fabrício Queiroz, volta à tona a desesperada advertência do velho amigo ao chefe que parecia tê-lo abandonado: “O Ministério Público tem uma pica do tamanho de um cometa pra enterrar na gente!”
Decididamente, este é um governo para entrar nos anais.
Texto de Ruy Castro, na Folha de São Paulo.
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