Durante uma dessas longas e tortuosas noites, me lembrei que as canções clássicas para fazer bebê dormir têm letras um tanto assustadoras. Segundo teóricos da internet —a noite foi longa— as músicas tinham a função “pedagógica” de adestrar os pequenos. Seria algo como “dorme logo, seu desgraçado, ou um monstro horrível vai te pegar”.
Nos dias de hoje, as crianças, com amplo acesso à informação, precisam de mais do que uma Cuca ou outra figura folclórica para se comportarem. Então aproveitei que a maternidade bateu à minha porta para fazer releituras dessas cantigas, com letras atualizadas para assustar bebês e crianças e ajudar os pais a dormirem em paz. Criançada, temei!
‘Tio Mandetta’
(antiga ‘Boi da Cara Preta’)
Foi, foi, foi
Foi o Tio Mandetta
Que mandou sumir, que esse vírus aí é treta
Não, não, não,
Não ouve o capitão
Depois o seu destino
Pode ser um caixão
‘Se Isola, Neném’
(antiga ‘Nana, Neném’)
Se isola, neném
Pra a curva achatar
Quem furar a quarentena
Não tem onde internar
‘O Corona Espalhou’
(antiga ‘A Canoa Virou’)
O corona espalhou
Está em todo o lugar
Foi porque o Jairzinho
Não quis se isolar
(antiga ‘A Canoa Virou’)
O corona espalhou
Está em todo o lugar
Foi porque o Jairzinho
Não quis se isolar
‘Cloroquina Dourada’
(antiga ‘Alecrim Dourado’)
Cloroquina, cloroquina dourada
O Bozo diz que funciona
Sem ter comprovado
Foi meu doutor que disse assim
Que se tomar sem estudo
Vai zoar o Rim
(antiga ‘Alecrim Dourado’)
Cloroquina, cloroquina dourada
O Bozo diz que funciona
Sem ter comprovado
Foi meu doutor que disse assim
Que se tomar sem estudo
Vai zoar o Rim
‘Tuitei ‘Bando de Gado-do’’
(antiga ‘Atirei o Pau no Gato’)
Tuitei “bando de gado-do”
E o Carluxo-xo
Se ofendeu-deu-deu
E a milícia-cia-cia
Digital-tal-tal
Me cancelou, me cancelou,
depois mugiu
Muuuuu!
(antiga ‘Atirei o Pau no Gato’)
Tuitei “bando de gado-do”
E o Carluxo-xo
Se ofendeu-deu-deu
E a milícia-cia-cia
Digital-tal-tal
Me cancelou, me cancelou,
depois mugiu
Muuuuu!
Essas cantigas não funcionam com bebês da extrema direita. Em breve, publico algumas para esse público. Noites em claro não faltarão. E fiquem em casa.
Texto de Flávia Boggio, na Folha de São Paulo.
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