Verão de 1967. Seis modelos posam para o fotógrafo Paulo Garcez numa cobertura de Ipanema —Vinicius de Moraes, Paulo Mendes Campos, Sérgio Porto, José Carlos Oliveira, Fernando Sabino e Rubem Braga. Apesar do calor, eles vestem terno e gravata. Mas, para sorte dos leitores, sempre escreveram como quem anda de bermuda. A prova é uma antologia que acaba de sair, "Os Sabiás da Crônica".
Na foto que ilustra a capa do livro, Carlinhos Oliveira está no centro da roda de cronistas. Hoje ele é o menos badalado da turma. Seu primeiro romance, "O Pavão Desiludido" (1972), não foi bem recebido na época e, sem reedição, continua um dos maiores segredos da literatura brasileira. É sintomático que um autor que passou a vida sendo cobrado por ser uma promessa não cumprida tenha escrito um livro tão bom e ninguém tenha notado.
Carlinhos —morto em 1986, aos 51 anos, devastado depois de beber todas— afirmava que poderia escrever um romance autobiográfico de 500 páginas começando, capítulo por capítulo, da mesma maneira: "Ontem dormi tarde, bebi muito". Com 1,58 metro e 53 quilos, andar de passarinho, inimigo do chuveiro, barbicha de clochard, usando a blusa emprestada da namorada, ele fez do flerte com a morte seu pão de cada dia.
Como cronista, tinha uma pegada mais de jornalista. Em sua coluna no Jornal do Brasil, publicada quatro vezes por semana durante 23 anos ininterruptos, tratou de política, sexo, terrorismo, cultura, cidades, violência, neuroses, drogas, juventude, preconceitos. Escritor místico e panfletário, jamais abandonou seus temas preferidos: solidão, amor, amizade, desejo, morte, religião. De vez em quando falava de literatura, geralmente para espinafrar a vaidade dos colegas.
Os 15 textos selecionados em "Os Sabiás da Crônica" são um aperitivo de seu talento. Sua grande obra, no entanto, jaz na coleção do JB, um interminável romance incompleto e fragmentário.
Texto de Álvaro Costa e Silva, na Folha de São Paulo.
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