quinta-feira, 18 de novembro de 2021

O candidato Sergio Quadros de Mello vem aí


Sergio Moro vem aí. Deu o aviso de seu regresso ao Brasil e à política na cerimônia em que assinou a ficha do Podemos e fez praça de discursar para o país, anunciando que está de volta para retomar a cruzada contra a corrupção e combater a "degeneração da vida pública" promovida pelos que colocam "interesses pessoais e partidários" acima de tudo.

Sua fala o situa na mais autêntica tradição da direita populista que, de tanto em tanto, irrompe na cena nacional, de espada em punho contra os partidos e todo o sistema político: Jânio Quadros com sua vassourinha para "varrer a bandalheira"; Fernando Collor de Mello denunciando os "marajás"; e, por último, Jair Bolsonaro esbravejando "contra tudo isso daí".

Variando em torno do mesmo tema, apresentaram-se como não políticos, embora tivessem todos longas carreiras durante as quais pularam de legenda em legenda conforme, aí sim, seus "interesses pessoais e partidários".

Foram sobretudo hábeis em explorar o desamparo dos eleitores e sua descrença em governos e siglas. A corrupção na política —que realmente existiu, existe e desnatura a democracia— tem enorme potência simbólica e apelo eleitoral. Aos olhos das gentes, escancara a imensurável distância entre as oportunidades e formas de vida das elites políticas e as do cidadão comum.

Não se conhecem medidas efetivas de qualquer espécie para combater esse grande mal da política que tenham sido tomadas pelos cruzados da fronda anticorrupção alçados ao poder. E é sintomático que, depois de tanto tempo dedicado à tarefa, Sergio Moro, nos 49 minutos de sua alocução, não tenha apresentado uma única ideia valiosa sobre o que faria caso lhe fosse dada a oportunidade de agir —a não ser retomar a controversa proposta de prisão para os condenados em segunda instância.

A retórica da antipolítica, embelezada pela denúncia da corrupção supostamente generalizada na vida pública, é boa para ganhar votos, mas inútil para criar capacidade de governar. Não por acaso foram abreviados os mandatos de Quadros e Collor, enquanto Bolsonaro permanece porque arrimado no que de pior nosso sistema político produziu.

É sintoma do desgaste do ex-capitão que venha perdendo apoio entre aqueles que, por oportunismo eleitoral em estado bruto ou rejeição ao PT, contribuíram para elegê-lo. A volta de um Moro antibolsonarista —de fala mansa e propostas frouxas— é disso a melhor prova. Mas que tenha voltado para ser mais um populista com redação própria diz muito sobre a qualidade da nova liderança de direita que o ex-juiz aspira a exercer.


Texto de Maria Hermínia Tavares, na Folha de São Paulo

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