Pertenço a uma categoria de pessoas insuportáveis. Tendo a buscar racionalidade em tudo. A utilidade de algo me parece mais importante do que a sua marca. Salvo se esta comprovar, ou me convencer, que faz melhor. Um amigo me disse que usa o Uber Comfort. Fiquei estupefato. Para quê? Qual o sentido de pagar mais, numa corrida curta, por um carro suspostamente melhor? Quando o Uber chegou ao Brasil prometia, e até entregava, serviço melhor por preço menor. Não é mais assim. Ao menos, nas minhas experiências. O táxi cobra 18 reais da minha casa até a faculdade. Uber, em horários de pouca demanda, tipo três e meia da tarde, tem cobrado 25. Além disso, chegam a acontecer dois ou três cancelamentos. Para que insistir nisso?
É verdade que os aplicativos fizeram os táxis melhorar. E como os preços dos táxis são regulados, e estão congelados, o preço passou a ser mais interessante. Há quem reclame da “falta de educação” dos taxistas. Nunca tive grandes problemas. Tenho amigos taxistas. Chegava a pagar mais, quando o Uber era barato, para andar com eles. Falo do Ivan e do Alexandre, do ponto da PUCRS, ou do Everaldo e de outros do ponto do HPS. Tem motorista de aplicativo legal também. Claro. Mas o deslumbramento dos modernos tecnológicos pelos aplicativos me faz rir. Ficar obcecado controlando o celular para ver onde o carro está, quantos minutos faltam, se não cancelou, parecem coisas de comédia. Sei que falando assim me faço rotular de rabugento, velho e atrasado.
Prefiro sair de um lugar e encontrar um carro parado sem precisar chamá-lo. Sou utilitarista. Só me interessa o deslocamento. Claro, com um bom serviço, eficaz, barato, limpo. Nas minhas experiências com táxi, 80% das vezes é assim. Com aplicativos o nível de satisfação é o mesmo. Sofro, porém, com a exploração das pessoas por uma empresa multinacional. Se o cara bater o carro ou ficar doente, não tem proteção alguma. Sempre critiquei também a exploração dos taxistas por proprietários dos carros e de licenças. O moderno tecnológico não concebe que alguém pare um carro levantando a mão. Se antes usava o preço mais baixo como justificativa, agora aceita pagar mais caro para continuar se sentindo superior aos que andam de táxi.
Nunca duvidei de que as balinhas desapareceriam e os preços subiriam. Sei que há ainda muitos momentos de corridas mais baratas. Quando preciso, chamo o Uber. Outro dia, três cancelaram às nove da noite. Só voltei para casa graças ao ponto de táxi do Hospital São Lucas. Atravesso a passarela e encontro um carro disponível. Este é um mundo estranho. Li que se pode comprar um tênis por 85 mil reais. Para mim isso só tem um nome: estupidez. Aplicativos permitem a pessoas em dificuldade ganhar o sustento com muito esforço e horas de trabalho. Mas estão longe de ser o que o discurso tolo dizia: liberdade, autonomia, trabalho sem patrão, jornada a bel-prazer. Monopólio tem muitos defeitos. A utopia da liberdade tecnológica, por outro lado, pode ser uma triste ilusão. Que mundinho! Tênis a preço de carro.
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O deslumbrado com uma nova moda acha que toda ressalva ao seu entusiasmo infantil é resistência de velho ou de reacionário.
Reprodução do blogue do Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo.
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