sábado, 19 de fevereiro de 2022

Se você acha que está mal, leia a história do homem atingido por sete raios


Quando a vida corre mal e eu sinto que tudo está contra mim, não faço nenhuma das coisas que os livros recomendam. Não respiro fundo, não procuro concentrar-me nos aspectos positivos, não busco refúgio junto de quem me ama. Vou ler a história de Roy Sullivan.

Roy Sullivan era guarda-florestal no parque nacional de Shenandoah, na Virgínia, Estados Unidos, e ao longo da vida foi atingido por relâmpagos sete vezes. Segundo a Wikipédia, quando Sullivan foi atingido pelo quarto relâmpago "começou a acreditar que uma força qualquer estava a tentar destruí-lo".

Não sei se estão a ver aonde quero chegar. Sullivan foi atingido uma primeira vez por um relâmpago em 1942. A probabilidade de uma pessoa ser atingida uma vez na vida por um raio é de 0,0001%. Por isso, é possível que, nessa altura, Sullivan tenha pensado apenas: "Que azar." Mas em 1969 ele foi atingido pela segunda vez. E em 1970 foi atingido pela terceira vez. Quando, em 1972, um relâmpago o atingiu pela quarta vez, aí ele começou a ficar desconfiado.

Os três primeiros relâmpagos não o inquietaram muito, apesar de o primeiro lhe ter deixado um buraco no sapato, o segundo lhe ter posto as sobrancelhas, as pestanas e o cabelo a arder, e o terceiro lhe ter queimado um ombro. Mas ao quarto relâmpago ele ficou a pensar.

No entanto, não se mudou para um lugar onde não houvesse trovoada. Aguentou firme. Um ano depois, quando o quinto relâmpago veio fulminá-lo, ele estava preparado. Assim que o raio o atingiu, ele se dirigiu ao seu carro, onde tinha um balde de água para apagar o fogo do cabelo, e depois continuou a patrulhar o parque.

Três anos mais tarde, viu uma nuvem a se formar no céu e achou melhor se afastar. Mas o sexto relâmpago, como um perdigueiro, mesmo assim conseguiu encontrá-lo. E, um ano depois disso, quando ele estava a pescar calmamente, o sétimo relâmpago queimou-lhe o peito e o estômago, além de ter voltado a lhe incendiar o cabelo.

Quando estava a caminho do carro, para ir buscar o balde, reparou que um urso tentava roubar a truta que ele tinha pescado. E então voltou, para bater no urso com um ramo de árvore.

Sullivan estimava que aquela era a 22ª ocasião na sua vida em que tinha sido forçado a bater num urso com um ramo de árvore. Parece um tormento. Mas, quando o universo conspira contra nós desta maneira, alguma importância teremos. É o universo contra nós. E nós, apesar de tudo, temos um balde.


Texto de Ricardo Araújo Pereira, o RAP, na Folha de São Paulo

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