O presidente Jair Bolsonaro editou um decreto para incentivar a "mineração artesanal" na Amazônia. O objetivo da ação, segundo o decreto, é estimular o "desenvolvimento da região".
Organizações de defesa do meio ambiente criticaram a medida. Para as entidades, o decreto é uma forma de driblar as leis ambientais e incentivar o garimpo ilegal na região Amazônica.
Assim como batizam abacate de "avocado na casqueta" e jaca de "jackfruit pulled meat", chamaram o garimpo predatório, clandestino e ilegal de "mineração artesanal". Foi uma forma gourmetizada de dizer: "Vamos acelerar a destruição do país, agora acabando com a fauna e a flora de rios e igarapés".
Para ficar coerente com o nome da atividade, garimpeiros passarão a usar barba, coque samurai, sandálias de couro e usarão peneiras de crochê. Mineradoras clandestinas vão ter nomes como "Garimparia da Villa Gourmet" e "Envenenazione di Fauna Artesanelle".
Já é uma prática do governo dar nomes pomposos para maquiar falcatruas e desastres administrativos.
Assim como chamam salada de "caminha de goma de mandioca rústica", corrupção, agora, é "orçamento secreto" e "golpe de 1964" é "movimento".
A pandemia foi rebatizada como "gripezinha" e mensalão como "rachadinha". Saudação nazista virou "mal-entendido", "fui mal interpretado" e "a declaração foi tirada do contexto".
Agrotóxico agora se chama "defensivo agrícola", nome que até faz sentido, pensando que os produtos "defendem" a morte de animais e seres humanos por envenenamento.
Seguindo a tradição de trocar nomes para disfarçar ações criminosas, o governo já planeja rebatizar outras ações.
Desmatamento se chamará "poda rústica de mata nativa para marcenaria". As queimadas de florestas serão rebatizadas como "arvoredos na brasa grill gourmet". Grilagem se chamará "reescritura artesanal de documentos para apropriação selvagem de terras".
A milícia se chamará "Serviço Militar Artesanal Não Voluntário" ou "Assassinaria Rústica de Humanos Selecionados".
Já a atual gestão do governo se chamará "desgovernaria familiar de destruição artesanal de um país gourmet".
Texto de Flavia Boggio, na Folha de São Paulo.
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