Aprender a morrer
Maria do Carmo Ferreira
Olhar compadecido para as coisas
que nunca foram vistas, por se olhar
distraidamente, tentando-se adiar
o dom da vida que se faz presente
Olhar com os olhos, mas internamente.
Olhar com o coração, mais que os sentidos
que tudo captam e tudo dão ouvidos
salvo ao mistério que circunda a gente
Olhar como uma criança desarmada
que no colo dos pais mais se abandona
ao fruir do instante que a contém e capta
toda a alegria de viver avante
Olhar intensamente para dentro,
mas com a sabedoria de quem sabe
que não se nasce para morrer, mas sempre
se morre a cada instante em que se nasce
para ressuscitar gloriosamente
em outras dimensões que não nos cabe
viver antes que a morte nos frequente
a cada passo, desde a eternidade
Na revista piauí, edição 182, novembro de 2021.
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