Passei a infância consumindo contos de fadas, assim como miojo da Turma da Mônica, balas Soft e Cheetos Tubo. Não é difícil apontar qual deles foi mais prejudicial à minha saúde. Quem acompanha essa coluna conhece minha obsessão por narrativas de princesas, atochadas goela abaixo da pequena Manuela junto com Biotônico Fontoura.
Mas, hoje, não quero falar das protagonistas de sagas fantásticas em busca de um marido. E sim de um detalhe fundamental: o príncipe. O objeto de desejo de nossas heroínas. Eles podem até ficar em segundo plano no pôster, mas toda a narrativa gira em torno deles, que se apresentam como a única possibilidade de um final feliz para as nossas mocinhas.
Quanto mais o tempo passa, mais improváveis se tornam essas histórias. Não só por causa dos feitiços e dos animais falantes. Mas porque, hoje em dia, ninguém em sã consciência seria capaz de correr atrás desses caras.
Começando por uma das relações abusivas mais romantizadas de todos os tempos, "A Bela e a Fera". O príncipe Adam já começa a história maltratando uma idosa em situação de rua. Preconceito. Etarismo. Ódio de classe. E ainda estamos no prólogo. Todo mundo sabe o que acontece depois. Ele é transformado em uma fera e mantém uma menor de idade em cárcere privado. Se a história se passasse em 2022, terminaria com esse homem atrás das grades.
Príncipe Philip também seria fichado na delegacia da mulher. Um boy lixo capaz de beijar a jovem Aurora desacordada, sem o consentimento dela. E ainda matou o dragão que guardava o seu castelo. Corre aqui, Luisa Mell.
Aladdin, o famoso 171, ganharia um exposed no Twitter em dois minutos. Segue o fio: um golpista, estelionatário, que praticava falsidade ideológica para seduzir jovens ricas. Eric, o menino dos olhos de Ariel, a Pequena Sereia, sem dúvidas renderia uma reportagem no Datena por matar a tia de sua amada.
Isso sem falar do colono John Smith e seu relacionamento com a nativa Pocahontas. Smith ensinou à princesa indígena uma série de costumes dos homens brancos, dando um show macabro de colonialismo e mansplaining. E foram cancelados para sempre.
Texto de Manuela Cantuária, na Folha de São Paulo.
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