Morreu Eric Hobsbawm.
Foi um grande historiador.
Marxista.
Aos 95 anos, já era um bom velhinho.
O seu marxismo cheirava a naftalina,
Um cheirinho incômodo, mas inofensivo.
A sua maioria contribuição ao debate intelectual foi a consagração da tese de que toda tradição é inventada.
Isso gera duas reações: nenhuma tradição pode ser criticada, pois todas seriam igualmente produzidas, um olhar do presente sobre o passado, uma reconfiguração dos fatos, uma transfigurtação e, ao contrário, a ideia de que tudo é falso.
A tradição gauchesca comemorada atualmente foi inventada aos final dos anos 1940 por Barbosa Lessa e sua turma.
Inventar significa construir.
Feito um arqueólogo, a partir de cacos, retalhos, valorizando isto ou aquilo.
A História é sempre o olhar do presente sobre o passado.
Sem ficção.
Mas com dramatização, iluminação, ênfases diferenciadas e releituras.
Algums tradições são mais inventadas do que outras.
Amanhã será 3 de outubro, data da maior revolução que o Brasil já teve, aquela que, comandada por civis, tirou o Brasil da pré-história e, com métodos oscilantes, jogou-o no começo da modernidade, arrancando-o do torpor agropastoril.
Não há comemoração.
Não é feriado.
Passa quase em branco.
Pouca gente sabe o que aconteceu nesse dia há 82 anos.
Essa tradição não foi inventada.
Não se construiu.
Por quê?
Logo essa revolução, liderada por gaúchos, que ganhamos.
Foi a maior vitória gaúcha no Brasil.
Foi a maior vitória do Brasil em relação a si mesmo.
Uma revolução que os paulistas tentaram melar em 1932.
Uma revolução que os comunistas tentaram atropelar em 1935.
Uma revolução que os fascistas tentaram engolir em 1938.
Uma revolução que mordeu o próprio rabo em 1937.
Hobsbawm sabia que os homens precisam de mitos.
Revoluções derrotadas podem ser mais inspiradoras de imaginários vitoriosos.
Uma revolução vencida em menos de um mês, quase sem sangue, não tem futuro.
Só presente.
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