O conflito entre Israel e Palestina não existe mais. Ele foi tirado do noticiário internacional, expulso das manchetes da imprensa, ignorado pelos jornais de TV. Ele desapareceu, relegado à posição de questão secundária, subalterna, para não dizer resolvida. Não é um bom sinal. Toda vez que foi assim, o confronto entre israelenses e palestinos mandou lembranças ao mundo – em geral, de maneira violenta.
A Assembleia Geral da ONU, um dos fóruns onde esse conflito era mais debatido, onde suscitava furor, dissensões e batalhas retóricas, encerrará sua sessão de outono. Ali mal se falou na busca pela paz entre israelenses e palestinos. Em 2011, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, tentou voltar para o primeiro plano da agenda diplomática. Ele anunciou sua intenção de fazer com que a ONU reconheça o esboço de um Estado palestino. Os “Grandes” se puseram a bombardear discretamente essa iniciativa: por uma razão ou outra, ela irritava muita gente. Pelo menos atraiu um momento de atenção para o conflito.
Este ano, quase nada. Abbas voltou, sim, à tribuna da Assembleia. Ele falou, visivelmente nos mesmos termos que em 2011. A continuidade dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e na parte oriental de Jerusalém a cada dia enfraquece um pouco mais a solução defendida pela ONU, pelos Estados Unidos, pela Rússia, pela China, pela Europa etc. – a chamada solução dos “dois Estados”, que teria um Estado da Palestina coexistindo pacificamente ao lado de Israel. Essa política, ele acrescentou, também mina a Autoridade Palestina, esboço desse futuro Estado. Mahmoud Abbas foi ouvido educadamente.
Binyamin Netanyahu falou pouco depois. O primeiro-ministro israelense dedicou menos de nove linhas de seu discurso à questão da paz com os palestinos. Com a ajuda de um croqui, ele focou sua fala no perigo que, segundo ele, mais ameaçaria Israel: até o verão, o Irã será capaz de montar uma arma nuclear, disse “Bibi” Netanyahu.
O presidente Barack Obama e o orador russo, o ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, mencionaram a questão israelense-palestina de passagem, em uma maneira quase ritual: uma forma de cortesia em um lugar, a Assembleia Geral, intimamente ligada à história do conflito.
Os “Grandes” estão saindo do jogo. Mas anos de conversas diretas entre os dois protagonistas não trouxeram avanços para a paz. Não há nenhuma perspectiva de uma negociação séria em vista; tanto em árabe quanto em hebraico, isso se chama impasse.
Até poucos anos atrás, falava-se na “centralidade” do conflito israelense-palestino. Este estaria no coração da tormenta do Oriente Médio, a causa de todas as patologias regionais. Há de se acreditar que a “centralidade” se deslocou. Depois das “primaveras árabes”, o grande divisor que abala o Oriente Médio e derrama muito sangue mudou de lugar. É a oposição entre a ala majoritária do islamismo, o sunismo, e sua ala minoritária, o xiismo. Ela explica a guerra civil iraquiana provocada pela invasão americana desse país: dezenas de milhares de mortos de 2003 a 2011, e os confrontos estão voltando.
Essa guerra de religião no centro do Islã estrutura os lados na tragédia síria. Esta não opõe somente um dos regimes mais cruéis da região a uma insurreição que em breve terá dois anos. A Síria é o campo fechado – por enquanto – de uma batalha mais ampla.
Do lado da rebelião, dominada pelos sunitas, aqueles que se pretendem os porta-bandeiras do Islã majoritário: a Arábia Saudita, o Qatar, a grande família da Irmandade Muçulmana que se instalou no poder no Egito e em outras partes do mundo árabe; o Hamas palestino, que rompeu com Damasco; alguns jihadistas; por fim, fora do mundo árabe, a Turquia, ambiciosa potência reemergente.
Do outro lado, em apoio a um regime de Damasco dominado pela minoria alauíta, o Irã da República Islâmica, o Iraque do primeiro-ministro Nouri al-Maliki e o Hezbollah libanês, enfim, a coalizão xiita do Oriente Médio.
A parceria que ele fez há vinte anos com a Síria dos Assad é a principal porta de entrada do Irã para o mundo árabe. É o instrumento de uma influência regional que a República Islâmica quer preponderante e que facilitaria ainda mais o domínio da militarização nuclear.
Nesse grande conflito, o abcesso israelense-palestino aparece como um mal menor. Um erro. Ainda que não seja “estratégico”, ele continua sendo “central” à sua maneira – mesmo que hoje se trate de um chamado conflito de “baixa intensidade”. Ele concentra uma parte do rancor dos árabes contra os ocidentais.
Ele estabelece um sentimento de humilhação, justificado ou não, que mantém no Oriente Médio um antiamericanismo latente, sempre pronto a explodir em surtos de violência eruptiva, como acabamos de ver no Egito e na Líbia. Por fim, ele alimenta uma parte do discurso jihadista. Não é secundário.
Negligenciá-lo é ainda mais fácil se pensarmos, como os Estados Unidos, Israel e a Europa, que a ameaça regional mais pesada é a de um Irã em posse da arma nuclear.
É uma questão de física elementar: quanto mais a questão palestina for na direção de um desfecho feliz, mais o mundo árabe aderirá a uma política de maior pressão sobre o Irã. Mesmo se os regimes árabes, sobretudo os do Golfo, quiserem a destruição do programa nuclear de Teerã, suas opiniões públicas reagirão mal a uma operação militar israelense ou israelense-americana. Elas verão ali mais uma agressão ocidental contra o mundo muçulmano. Mas elas aceitarão mais facilmente uma estratégia de contenção da República Islâmica se esta vier acompanhada de uma solução para o conflito entre Israel e Palestina.
O republicano Mitt Romney já disse que ele não faria nada a respeito; esse deverá ser o programa do segundo mandato de Barack Obama.
Texto de Alain Frachon, para o Le Monde, reproduzido no UOL. Tradução de Lana Lim.
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