Ausência
Por pouco
e a minha mãe teria
casado
com o senhor Zbigniew
B. de Zduńska Wola.
Se tivessem uma filha -
não seria eu.
Talvez com a memória
para nomes, rostos
e canções ouvidas uma
só vez - melhor que a minha.
Distinguindo sem erro
um pássaro do outro.
Com excelentes notas de
física e química,
de polonês nem tanto,
mas escrevendo poemas
às escondidas,
logo muito melhores que
os meus.
Por pouco
e naquela mesma época
meu pai teria casado
com a senhorita Jadwiga
R. de Zakopane.
Se tivessem uma filha -
não seria eu.
Talvez mais teimosa e
intransigente.
Saltando sem medo na
água funda.
Suscetível ao que
comove as massas.
Vista em vários
lugares ao mesmo tempo,
poucas vezes com um
livro, muito mais com a bola,
jogando com meninos nos
pátios e ruas.
As duas poderiam ter se
encontrado
na mesma escola e na
mesma classe,
mas sem afinidades,
nenhum parentesco,
e na foto da turma, bem
afastadas entre si.
Fiquem aqui, meninas
- diz o fotógrafo -,
as pequenas na frente,
as mais altas atrás.
E sorrisos bonitos
quando eu der o sinal.
Verifiquem ainda,
não falta ninguém?
- Sim, senhor, estamos
todas aqui.
Poema de Wisława
Szymborska, poeta polonesa, Prêmio Nobel de Literatura de 1996,
recentemente falecida, traduzido por Henryk Siewierski, visto na
revista Piauí,
edição 66, de março de 2012, página 74.
Nenhum comentário:
Postar um comentário