quarta-feira, 18 de abril de 2012

Ausência


Ausência


Por pouco
e a minha mãe teria casado
com o senhor Zbigniew B. de Zduńska Wola.
Se tivessem uma filha - não seria eu.
Talvez com a memória para nomes, rostos
e canções ouvidas uma só vez - melhor que a minha.
Distinguindo sem erro um pássaro do outro.
Com excelentes notas de física e química,
de polonês nem tanto,
mas escrevendo poemas às escondidas,
logo muito melhores que os meus.

Por pouco
e naquela mesma época meu pai teria casado
com a senhorita Jadwiga R. de Zakopane.
Se tivessem uma filha - não seria eu.
Talvez mais teimosa e intransigente.
Saltando sem medo na água funda.
Suscetível ao que comove as massas.
Vista em vários lugares ao mesmo tempo,
poucas vezes com um livro, muito mais com a bola,
jogando com meninos nos pátios e ruas.

As duas poderiam ter se encontrado
na mesma escola e na mesma classe,
mas sem afinidades,
nenhum parentesco,
e na foto da turma, bem afastadas entre si.

Fiquem aqui, meninas
- diz o fotógrafo -,
as pequenas na frente, as mais altas atrás.
E sorrisos bonitos quando eu der o sinal.
Verifiquem ainda,
não falta ninguém?

- Sim, senhor, estamos todas aqui.





Poema de Wisława Szymborska, poeta polonesa, Prêmio Nobel de Literatura de 1996, recentemente falecida, traduzido por Henryk Siewierski, visto na revista Piauí, edição 66, de março de 2012, página 74.

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