quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Museu de horrores recorda ditadura na República Dominicana

Museu de horrores recorda ditadura

Por RANDAL C. ARCHIBOLD

SANTO DOMINGO, República Dominicana - Melba Navarro congelou diante da imagem de um homem com olhos esbugalhados e a boca aberta, em estado de terror. Ou seria de dor? Ele estava amarrado a uma cadeira elétrica.
"Como era horrível o sofrimento", disse ela diante de uma réplica da cadeira _uma cadeira simples de madeira com cinto, uma lâmpada pequena no braço e um cabo que ia de uma alavanca até uma tomada.
Chocar a consciência das pessoas é o que visa o novo Museu Memorial da Resistência Dominicana, que destaca com crueza os anos de governo repressor neste país, principalmente os 30 anos da ditadura de Rafael Trujillo, entre 1930 e 1961, considerados alguns dos mais sangrentos da América Latina.
Este museu praticamente grita para que seja ouvida a dor da época. Um holograma animado traz de volta à vida as três irmãs Mirabal, dissidentes cujo assassinato, em 1960, pelas forças de Trujillo dinamizou a oposição interna ao ditador. Anos depois, as irmãs deram o tema do romance "No Tempo das Borboletas", de Julia Alvarez. Os criadores do museu pretendem apresentar também gravações em áudio de sessões de tortura daquela época, conhecida como o Trujillato.
Pelas contas do museu, mais de 50 mil pessoas morreram no período de opressão e turbulência política de 1916 a 1978, incluindo pelo menos 17 mil haitianos em um massacre cometido na fronteira por forças dominicanas sob ordens de Trujillo, em 1937.
"Estamos resgatando a memória", disse Luisa de Peña Diaz, 44 anos, diretora e uma das fundadoras do museu. Seu pai foi morto em 1967 quando tramava uma insurreição contra o presidente da época, Joaquín Balaguer.
O governo dominicano atual apoiou a criação do museu, contribuindo com US$2 milhões, boa parte do custo de construção.
Desde sua inauguração, em 31 de maio, o museu recebeu milhares de visitantes, mas deve ter concorrência em breve.
Embora os historiadores concordem que Trujillo merece um lugar no hall da fama da tirania, sua família criou um site na internet, Museo Generalisimo Trujillo, anunciando planos para um museu em honra a ele e que vai contestar partes do registro histórico.
O museu contrário foi idealizado por L. Ramfis Domínguez-Trujillo, neto do ditador. Ele admite que seu avô foi "um ditador militar que não tolerava a liberdade de expressão", mas acha que o número de mortos que lhe é atribuído é exagerado.
"Ele cometeu vários excessos? Sem dúvida. Era humano. Ele foi um monstro? De modo algum", falou Domínguez-Trujillo, 41 anos, em entrevista concedida ao telefone desde Miami, onde vive.
Durante o governo de Trujillo, retratos e monumentos a ele pipocaram em todo o país. Uma rede de espiões seguia os passos dos dissidentes e dava cabo deles. Mulheres jovens que tinham caído nas graças do ditador tinham de se entregar a ele ou corriam risco de serem mortas.
Com a ajuda da CIA, segundo um relatório de 1975 do Senado americano, Trujillo foi assassinado em 1961 por membros do exército e civis, mas seguiram-se anos de turbulência até 1978, quando o governo emitiu um decreto libertando vários prisioneiros políticos.
Alguns dos visitantes mais entusiasmados ao museu vêm sendo jovens, que ficam chocados com os acontecimentos.
"Nossa geração não sabe o que aconteceu", comentou Mabel Rodríguez, 17 anos, quando visitou o museu um dia. "É triste e deprimente como eles torturavam todo o mundo, mas isso faz parte de nossa história. Essas pessoas que eram torturadas estavam protegendo nosso país."


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