segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Um jogo sobre o ciclo de vida dos "smartphones"


Já previa punição, diz autor de jogo banido

Apple tira do ar game polêmico que traz críticas às condições de trabalho para a fabricação de smartphones

Criadores de Phone Story prometem doar valor arrecadado a ONG de defesa dos direitos trabalhistas


CARLOS OLIVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Soldados gritam com mineiros escravos no Congo, seguranças usam uma rede elástica para impedir suicídios de um prédio e trabalhadores recolhem lixo eletrônico em condições deploráveis.
Esses são alguns estágios do jogo Phone Story, aplicativo polêmico que se propõe a mostrar o ciclo de vida de um smartphone.
Lançado na semana passada na loja virtual da Apple por US$ 0,99 (R$ 1,69), Phone Story foi banido quatro horas após ser anunciado e depois de ter sido baixado por cerca de mil usuários.
No dia seguinte, foi lançado em uma versão para Android, sistema operacional do Google para portáteis.
Criado pela desenvolvedora italiana MolleIndustria e idealizado pelo núcleo ativista Yes Lab, o jogo faz alusões à Apple e aos suicídios em 2010 na fábrica chinesa Foxconn, que produz componentes para Apple, HP e Dell.
Também traz referências às acusações de extração por escravos do minério Coltan, usado em dispositivos eletrônicos devido à sua resistência a calor, na República Democrática do Congo.
Michael Pineschi, do Yes Lab, falou à Folha sobre o desenvolvimento de Phone Story. "Lançamos o jogo como aplicativo para smartphones, porque isso cria uma interação direta: o telefone fala com você sobre o ciclo de vida dele", argumenta.
Sobre a menção à Apple no aplicativo, Pineschi diz que "todos os smartphones (e dispositivos eletrônicos) sofrem desses problemas, mas a Apple é o grande arquétipo".
O ativista admite que a retirada do jogo da Apple Store não foi surpresa. "Esperávamos que ele seria banido em algum momento".
Segundo o desenvolvedor Paolo Pedercini, da MolleIndustria, o jogo foi criado em pouco mais de dois meses, durante o "tempo livre", com auxílio financeiro do festival britânico de cultura digital AND (Abandon Normal Devices) e da bienal de design de Gwangju (Coreia do Sul).
"Mas tudo será doado, então o orçamento foi zero". O programador diz que as doações, que serão registradas no site da MolleIndustria, irão para a Sacom, ONG que defende direitos trabalhistas baseada em Hong Kong, assim que Apple e Google enviarem o dinheiro.
A versão para o Android está disponível no Android Mar-ket brasileiro por R$ 1,71. Segundo o programador, ela foi construída na madrugada seguinte ao banimento. Cerca de 3.000 pessoas baixaram essa versão do app.
A MolleIndustria é especializada em jogos com críticas ao capitalismo. Além de Phone Story, já fez Oilgarchy, sobre a indústria do petróleo, e McDonald's Videogame, sobre a rede de fast-food.



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