Desenhar para aprender
Em manifesto, pesquisadores defendem o uso do desenho para melhorar a compreensão de conceitos científicos
RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON
Um grupo de professores e psicólogos de países de língua inglesa tem feito crescer um movimento para que atividades de desenho com estudantes rompam as fronteiras da educação artística e entrem nas aulas de ciências.
Uma série de novos estudos tem mostrado que os alunos são capazes de construir melhores interpretações de conceitos científicos quando eles próprios se envolvem na produção de imagens para representá-los.
Iniciativas nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália têm tido sucesso tanto com crianças de dez anos quanto com estudantes de graduação em faculdades.
"Quando alunos desenham para explorar, coordenar e justificar sua compreensão da ciência, eles se sentem mais motivados a aprender do que com o ensino convencional", escreve o trio de pesquisadores que assinou um manifesto na edição de 26 de agosto da revista "Science", o periódico científico mais influente dos EUA.
A razão para o sucesso dos professores de física, química ou biologia que estimulam os alunos a produzirem imagens não é apenas o aspecto lúdico da atividade. Segundo os pesquisadores, um dos motivos é que o desenho torna mais fácil para o docente identificar noções erradas sobre o que é ensinado.
"Quando você produz um desenho, é preciso ser muito explícito e ter claro aquilo que quer transmitir", disse à Folha Shaaron Ainsworth, psicóloga da Universidade de Nottingham (Inglaterra), que encabeça o manifesto. "Não há onde se esconder quando você tem de expor sua compreensão sobre determinado assunto com um desenho."
Segundo a pesquisadora, dinâmica semelhante ocorre quando os alunos têm de produzir um texto, mas alguns tópicos são mais sensíveis ao poder gráfico (que impede que estudantes apenas recitem frases de manuais).
O desenho em aulas de ciência é mais que uma ferramenta de avaliação da aprendizagem, mas também é tem impacto no seu próprio processo. Seu uso mais importante, defendem os educadores, é dar oportunidade de construir raciocínios visuais.
"Após a apresentação de conceitos científicos, fazemos com que os alunos criem suas próprias representações antes de mostrar as imagens dos livros", diz Ainsworth.
PINTANDO O MANUAL
Um evento que mobiliza cerca de 1.500 instituições no Reino Unido, o Campaing for Drawing (campaignfordrawing.org), tem incluído temas de ciência em um mutirão de desenho organizado todos os anos, e professores adotam cada vez mais a ideia de expandir o universo além das aulas de artes plásticas.
O desenho também tem sido usado para que estudantes possam ensinar outros.
É a abordagem de Felice Frankel, pesquisadora do uso da imagem para comunicação da ciência nos EUA. O resultado está registrado em um banco de dados de desenhos de estudantes de graduação, o "Picturing to Learn" (picturingtolearn.org).
Trabalhando com universitários em cursos de ciência, ela pedia que expressassem os conceitos que aprendiam em desenho, como se estivessem explicando teorias a um estudante de ensino médio.
"Quando desenham, estão aproveitando para clarear as próprias ideias", diz Frankel.
Em iniciativas no ensino fundamental, um dos exemplos de sucesso é o projeto RiLS (Role of Representation in Science), coordenado pelos australianos Russell Tytler e Vaughan Prain, ambos da Universidade La Trobe.
Usando uma abordagem similar à de Frankel, eles obtiveram melhorias na aprendizagem de crianças de 10 a 12 anos. "As escolhas visuais que faziam indicavam uma reflexão engajada em criar uma representação coerente do fenômeno", escrevem os autores na "Science".
O que muitos educadores se perguntam agora é se vale criar disciplinas especiais para que alunos desenvolvam a habilidade de desenho e percam a inibição. Um consenso é que, com ou sem horário reservado para isso, deve-se gastar mais tempo pondo estudantes para desenhar.
O prestigioso MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), por exemplo, trará Frankel, já no próximo semestre, para dar aulas de desenho em um curso projetado para estudantes de engenharia química.
Em manifesto, pesquisadores defendem o uso do desenho para melhorar a compreensão de conceitos científicos
RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON
Um grupo de professores e psicólogos de países de língua inglesa tem feito crescer um movimento para que atividades de desenho com estudantes rompam as fronteiras da educação artística e entrem nas aulas de ciências.
Uma série de novos estudos tem mostrado que os alunos são capazes de construir melhores interpretações de conceitos científicos quando eles próprios se envolvem na produção de imagens para representá-los.
Iniciativas nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália têm tido sucesso tanto com crianças de dez anos quanto com estudantes de graduação em faculdades.
"Quando alunos desenham para explorar, coordenar e justificar sua compreensão da ciência, eles se sentem mais motivados a aprender do que com o ensino convencional", escreve o trio de pesquisadores que assinou um manifesto na edição de 26 de agosto da revista "Science", o periódico científico mais influente dos EUA.
A razão para o sucesso dos professores de física, química ou biologia que estimulam os alunos a produzirem imagens não é apenas o aspecto lúdico da atividade. Segundo os pesquisadores, um dos motivos é que o desenho torna mais fácil para o docente identificar noções erradas sobre o que é ensinado.
"Quando você produz um desenho, é preciso ser muito explícito e ter claro aquilo que quer transmitir", disse à Folha Shaaron Ainsworth, psicóloga da Universidade de Nottingham (Inglaterra), que encabeça o manifesto. "Não há onde se esconder quando você tem de expor sua compreensão sobre determinado assunto com um desenho."
Segundo a pesquisadora, dinâmica semelhante ocorre quando os alunos têm de produzir um texto, mas alguns tópicos são mais sensíveis ao poder gráfico (que impede que estudantes apenas recitem frases de manuais).
O desenho em aulas de ciência é mais que uma ferramenta de avaliação da aprendizagem, mas também é tem impacto no seu próprio processo. Seu uso mais importante, defendem os educadores, é dar oportunidade de construir raciocínios visuais.
"Após a apresentação de conceitos científicos, fazemos com que os alunos criem suas próprias representações antes de mostrar as imagens dos livros", diz Ainsworth.
PINTANDO O MANUAL
Um evento que mobiliza cerca de 1.500 instituições no Reino Unido, o Campaing for Drawing (campaignfordrawing.org), tem incluído temas de ciência em um mutirão de desenho organizado todos os anos, e professores adotam cada vez mais a ideia de expandir o universo além das aulas de artes plásticas.
O desenho também tem sido usado para que estudantes possam ensinar outros.
É a abordagem de Felice Frankel, pesquisadora do uso da imagem para comunicação da ciência nos EUA. O resultado está registrado em um banco de dados de desenhos de estudantes de graduação, o "Picturing to Learn" (picturingtolearn.org).
Trabalhando com universitários em cursos de ciência, ela pedia que expressassem os conceitos que aprendiam em desenho, como se estivessem explicando teorias a um estudante de ensino médio.
"Quando desenham, estão aproveitando para clarear as próprias ideias", diz Frankel.
Em iniciativas no ensino fundamental, um dos exemplos de sucesso é o projeto RiLS (Role of Representation in Science), coordenado pelos australianos Russell Tytler e Vaughan Prain, ambos da Universidade La Trobe.
Usando uma abordagem similar à de Frankel, eles obtiveram melhorias na aprendizagem de crianças de 10 a 12 anos. "As escolhas visuais que faziam indicavam uma reflexão engajada em criar uma representação coerente do fenômeno", escrevem os autores na "Science".
O que muitos educadores se perguntam agora é se vale criar disciplinas especiais para que alunos desenvolvam a habilidade de desenho e percam a inibição. Um consenso é que, com ou sem horário reservado para isso, deve-se gastar mais tempo pondo estudantes para desenhar.
O prestigioso MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), por exemplo, trará Frankel, já no próximo semestre, para dar aulas de desenho em um curso projetado para estudantes de engenharia química.
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