Em festas onde não tenho intimidade com os convidados, procuro sempre estar em grupos de no mínimo quatro pessoas, contando comigo.
Grupos de três devem ser evitados sempre, porque se uma pessoa sai, você e que sobrou se veem num grupo de dois, ou seja, aprisionados numa conversa desconfortável onde abandoná-la seria indelicado e ficar seria afundar numa areia movediça de amenidades.
Em qualquer grupo de três, os que têm sensibilidade conseguem notar a tensão nos olhos dos envolvidos. Quem conseguirá sair antes do grupo de três se transformar num grupo de dois? Evito sempre grupos de três.
Numa dessas aventuras sociais, uma festa dançante onde eu não conhecia nenhuma música, nenhuma dança e nenhuma pessoa, de repente ouço algo familiar em meio ao conglomerado de dançarinos de fim de semana: é meu nome, sendo chamado por três jovens desconhecidos. Fiz as contas e tudo bem, me aproximei formando um grupo de quatro.
Em meio à música alta, consegui entendê-los perguntando se eu queria pavê. Mas que pergunta sem cabimento, é lógico que eu queria pavê, isso não é coisa que se recuse. Eles sinalizaram para que eu os seguisse, e à medida em que fomos adentrando os corredores, percebi que provavelmente estávamos nos encaminhando para o banheiro. Até aí tudo bem, quer dizer, não tudo bem, tudo bem —mas tudo bem.
O problema realmente começou quando chegamos no banheiro e para minha surpresa, não havia pavê nenhum. Aí já era demais.
Ainda disposto a comer um pavê num banheiro imundo com desconhecidos, perguntei onde estaria o tal pavê, e me foi explicado que “padê” na realidade é uma gíria jovem para cocaína. A música estava realmente muito alta.
Agradeci e me retirei, e confesso que, apesar de me sentindo enganado pelo universo jovem, fiquei aliviado porque teria muita dificuldade em digerir o pavê, se realmente houvesse um.
E aliviado também por pavê, mousse, sorvete ou mesmo jujuba não serem drogas inaláveis, porque com certeza à essa altura eu já teria tido uma overdose com estranhos num banheiro público.
No caminho de volta, me lembrei de quando a Polícia Federal apreendeu os bens da casa de Eike Batista, que incluía um belíssimo piano de cauda. Quem tocava aquele piano? Thor? Olin? Luma? O próprio Eike? Jamais saberemos.
Texto de Daniel Furlan, na Folha de São Paulo.
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