sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Em nome da Copa


O estádio do Maracanã, na zona norte, fica numa confluência de bairros -São Cristóvão, Tijuca, Vila Isabel, Grajaú, Benfica, Estácio, Riachuelo, Andaraí, Rio Comprido-, todos densamente povoados e a distâncias que dispensam condução. Até há pouco, em dia de clássico, era emocionante ver a massa indo a pé, de chinelo, para o estádio -aos milhares, em passo acelerado, com as camisas dos dois clubes vestindo vizinhos de bairro ou de rua.
E, para quem morasse longe, nunca faltaram trens, táxis e, depois, o metrô. O carro particular sempre foi a última opção. Em 50 anos de Maracanã, posso contar as vezes em que fui num deles ao estádio.
Leio agora que, em nome da Copa e por ordens da Fifa, as violências que já se cometeram contra o Maracanã se estenderão ao seu entorno, a começar pela demolição do Estádio de Atletismo Célio de Barros e do Parque Aquático Julio Delamare. Esses dois equipamentos, em cujas pistas e raias surgiram tantos atletas brasileiros, irão ao chão para dar lugar a um estacionamento. Mais uma vez, o esporte é atropelado pelo mais arcaico e egoísta dos meios de transporte, o automóvel.
As picaretas atingirão ainda o Museu do Índio, prédio de 1865, que o poder público reduziu a cortiço. Em seu lugar, surgirá uma área de escape, permitindo que o Maracanã se esvazie em oito minutos em caso de terremoto, tsunami ou tufão. E, ao lado, a Escola Municipal Friedenreich, admirada por sua eficiência, também será demolida, para que surjam quadras de aquecimento de atletas.
Para a Fifa, o novo frequentador do Maracanã, depois de estacionar seu Cooper ou Jaguar, fará compras nos shoppings do estádio, se acomodará num belo camarote, discutirá Kant com os convidados da CBF e, de vez em quando, dará uma espiada no jogo pelo janelão que o separa dos verdadeiros torcedores.


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