Cresce a demanda mundial pelo carvão
Disponibilidade e custo do carvão o deixam atrativo
Por PETER GALUSZKA
O carvão continua sendo um componente crítico da matriz energética mundial, apesar de sua imagem negativa. Na China, a demanda por carvão em 2010 provocou um engarrafamento de 120 quilômetros formado por mais de 10 mil caminhões carregando suprimentos para a Mongólia Interior (região autônoma chinesa).
A Índia, que depende do carvão para 55% de sua energia elétrica, luta para manter os suprimentos e está aumentando as importações. O mesmo vale para a Europa, onde o gás natural é mais caro, gerando demanda por mais importações de carvão dos EUA.
O carvão pode parecer um estranho candidato em um mundo onde as fontes de energia renovável, como a solar, a eólica e a hidrelétrica, chamam a atenção. Uma heresia para os ambientalistas, porque gera muita poluição, o carvão ainda tem as vantagens inegáveis de estar amplamente disponível e ser fácil de transportar e de queimar.
Mas sua maior atração é o baixo custo. Segundo muitas estimativas, queimar carvão ainda custa cerca de um terço do valor de energias renováveis.
O carvão facilmente supre a demanda básica de eletricidade dos consumidores, sem interrupção. O mesmo acontece com a energia nuclear, mas esta ainda sofre as consequências do desastre de março de 2011 na central de Fukushima Daichi, no Japão.
A demanda por carvão deverá alcançar 8,1 bilhões de toneladas até 2016, contra 7,2 bilhões de toneladas neste ano, com a maior parte da nova demanda vinda da China, segundo a companhia de carvão Peabody Energy. Em quatro anos, a China deverá ganhar o equivalente a 160 novas usinas movidas a carvão, além das 620 que operam hoje. A Índia acrescentará 46.
Além da grande demanda por carvão térmico, que é queimado em usinas de energia, o uso de carvão siderúrgico (o coque), usado nos altos-fornos, também deverá mais que duplicar na China, para cerca de 1,7 bilhão de toneladas em 2016, enquanto as siderúrgicas do país produzem mais aço para automóveis, arranha-céus e produtos de exportação, segundo um estudo da Peabody.
O coque terá demanda crescente em outros centros produtores de aço, como o Brasil e a Índia, levando as empresas a explorar novas reservas em lugares como Botsuana, Mongólia e Moçambique.
Ao todo, o uso do carvão deverá aumentar 50% até 2035, diz Milton Catelin, executivo-chefe da Associação Mundial do Carvão, em Londres. "No ano passado, o carvão representou 30% da energia mundial. Esta foi a mais alta porcentagem atingida desde 1969", disse.
Dentro de um ou dois anos, o carvão vai superar o petróleo como o principal combustível do planeta, prevê Catelin.
Por enquanto, o carvão parece ter evitado um sério empecilho potencial para sua utilização: os acordos internacionais que restringem as emissões de gases do efeito estufa. Até agora, os acordos para evitar a mudança climática foram ineficazes.
A China pretende colocar equipamentos de redução de emissões de carbono em novas usinas.
Mas a China e outros grandes produtores de carvão ainda têm um longo caminho a seguir em segurança de minas. Em média, cerca de 2.500 mineiros de carvão chineses morrem em acidentes todos os anos. Autoridades da indústria dizem que a segurança vai melhorar com o desenvolvimento de novas tecnologias.
Analistas do setor estão procurando novas fontes de carvão, notadamente o coque. A Shenhua Energy, da China, a Peabody Energy e outras empresas japonesas, russas e sul-coreanas são as principais interessadas em desenvolver o depósito de Tolgoi, na Mongólia.
Grandes planos de exportação estão em curso na Colômbia e na África do Sul. O Grupo Abhijeet da Índia tem um novo contrato de US$ 7 bilhões para o "carvão vapor" de Kentucky e da Virgínia Ocidental.
Mas os planos de expansão enfrentam desafios. Na Mongólia, os depósitos estão em áreas remotas e em condições climáticas extremas. A África do Sul tem tendência a inquietações trabalhistas.
A Austrália é o maior exportador de carvão do mundo, mas novos regulamentos poderão aumentar seus preços, diz Jimmy Brock, o principal diretor operacional da Consol Energy, sediada em Pittsburgh, na Pensilvânia.
Os reguladores australianos temem que a Grande Barreira de Recifes possa ser danificada pela passagem de navios. Os portos também estão sujeitos a danos de tempestades e inundações.
As companhias de carvão americanas querem exportar o produto das minas de Wyoming e Montana, mas não há como despachar o carvão. Planos de enviar o minério a 2.400 quilômetros de distância por trem para cinco portos planejados no noroeste do Pacífico e no Canadá enfrentam intensa oposição ambientalista.
Mas, em longo prazo, o futuro do carvão depende da China e da Índia. Suas perspectivas parecem excelentes, principalmente porque ele é mais barato que seus concorrentes.
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