quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Governo da China está cada vez mais impotente diante das imolações de tibetanos

A nova equipe de dirigentes nomeada em novembro para a liderança do PCC (Partido Comunista Chinês) não dá nenhum sinal de abertura diante da crise tibetana. Pelo contrário: uma virulenta campanha de imprensa foi lançada na mídia oficial. Forças ocultas são acusadas de incitar as imolações por fogo. O grande orquestrador da série de imolações que vem atingindo o Tibete e as regiões tibetanas da China ocidental não podia ser outro: o dalai-lama, que de acordo com o "Diário do Povo", "está tentando enganar o mundo com sua ‘aposentadoria política’ para abrir mais uma página de seu projeto" de independência do Tibete.

Pouquíssimo informado sobre os acontecimentos nas regiões tibetanas, o público chinês, indiferente em sua maior parte, recebe do jornal "Global Times" a "prova" de que "o bando do dalai-lama está envolvido nas imolações" com a prisão - em Aba, região de Sichuan, onde houve a primeira imolação em 2009 – de um monge de 40 anos e de seu sobrinho, acusados de terem incitado oito pessoas a se imolarem. Esses ataques atiçam um pouco mais a indignação das populações tibetanas, cuja principal reivindicação é poder venerar livremente seu líder espiritual e tê-lo de volta ao Tibete.

Um impressionante arsenal de medidas, sob forma de "parecer sobre o tratamento das imolações" tem sido empregado desde novembro, por iniciativa do Supremo Tribunal e do Ministério da Segurança Pública. Ele dá a aparência de uma base legal para os processos em caso de imolação, detalhando os crimes – entre eles, de homicídio e de perturbação da ordem pública – dos quais podem ser acusados os que se imolam por fogo, mas também qualquer pessoa que "segure em seus braços" o indivíduo que tenha se imolado, ou impeça a polícia e os socorristas de intervir, bem como os que se aglomeram para assistir aos atos. 


Até hoje, as manifestações e as cerimônias associadas às imolações muitas vezes não puderam ser impedidas pelas forças policiais. "Essas novas diretivas são muito concretas. Os tibetanos que fizerem doações [às famílias dos imolados] ou forem aos funerais poderão ser condenados severamente. As empresas podem investigar seus funcionários e dispensá-los ou puni-los se eles participarem", confirma Tsering Woeser, escritora e blogueira tibetana. No entanto, ela duvida que isso vá acabar com as imolações, cuja frequência tem se acelerado nas últimas semanas: foram contabilizadas 28 em novembro.     

"Cada vez mais laicos"    


Tsering Woeser publicou, no dia 10 de dezembro em seu blog, a cifra de 100 imolações desde 2009, contando três casos fora da China. De volta há alguns dias de uma longa viagem pelo Tibete e pela província vizinha do Qingshai, ela constata que o perfil daqueles que se imolam pelo fogo está se diversificando: "Há cada vez mais laicos; há nômades, um pintor de Thangka [diagramas místicos], taxistas, vários colegiais".

Instaurada desde a revolta das regiões tibetanas em 2008, a repressão se tornou ainda mais sistemática desde o início do ano na região autônoma tibetana, constata a ONG International Campaign for Tibet, associada à diáspora, em um relatório publicado no dia 10 de dezembro sobre a onda de imolações.

Dezenas de milhares de membros do partido e policiais foram enviados para as zonas rurais e urbanas para controlar a população. As fiscalizações de autorização de residência e de circulação são rigorosas. Há apelos para que as regiões tibetanas das províncias chinesas, onde vivem a maior parte dos tibetanos, sejam dominadas e exploradas.

Só que o espírito de resistência é feroz ali. "Os membros do partido têm um pouco de medo de vir até os monastérios", explicou durante uma passagem por Pequim um monge de escalão intermediário de um monastério de Qinghai. "Os oficiais tibetanos estão constrangidos e não sabem muito bem como agir sem se indispor com a população", ele diz. Ele teme que surjam formas de violência terrorista. "Um número crescente de pessoas tem dito que as imolações não levam a nenhum resultado", ele nos diz. "Isso pode sair de controle."

Reportagem de Brice Pedroletti, para o Le Monde, reproduzido no UOL. Tradução de Lana Lim.

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