Foi inútil, como se poderia antecipar, a pressão de um punhado de países europeus para que Israel abandone o projeto de construir mais 3.000 residências para colonos judeus na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, territórios que pertencem aos palestinos, de acordo com a legislação internacional.
Na semana passada, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu já havia dado uma solene bofetada na legalidade internacional, com a sua frase sobre a decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas de conceder à Palestina o status de Estado observador.
Disse Netanyhau: "Não há decisão da ONU que possa romper 4.000 anos de vínculos entre o povo de Israel e a terra de Israel".
Dane-se a legalidade internacional. O que vale é exclusivamente a vontade "do povo de Israel".
Uma frase com esse desprezo pela única legalidade global disponível (as decisões da ONU), se pronunciada por um líder muçulmano, mais ainda se fosse iraniano, provocaria uma tempestade de condenações no Ocidente (e em Israel).
E seria justo porque, se se desrespeita o que decide a organização internacional mais legítima de que o planeta dispõe, resta apenas a lei do mais forte --e os judeus já experimentaram em carne própria o que significa a lei do mais forte.
Pena que Israel se dedique nos últimos muitos anos a adotar o seu próprio arbítrio. Não cumpre resoluções da ONU desde 1967, pelo menos, quando a organização internacional determinou que deveria devolver os territórios ocupados na guerra daquele ano.
Despreza também uma das convenções de Genebra, que veda a implantação de populações em territórios conquistados.
O número de colonos que Israel foi implantando em território palestino beira os 350 mil, sem contar os 200 mil instalados na parte oriental de Jerusalém, legalmente árabe.
Pior ainda: boa parte desses colonos dedica-se ao exercício de hostilizar os palestinos, conforme recente relatório do Comitê de Política e de Segurança da União Europeia. "Os ataques são cada vez mais severos e, em algumas áreas, mais coordenados", diz o texto, além de mais frequentes (aumentaram 32% em 2011 sobre 2010).
As hostilidades afetam homens, mulheres, crianças, campos agrícolas (10 mil árvores já foram arrancadas) e lugares de culto (só este ano, dez mesquitas foram destruídas). Não cabe aqui o argumento israelense de que, como Israel é atacada por foguetes lançados de Gaza, não pode ficar de braços cruzados. Ao contrário de Gaza, na Cisjordânia ocupada, os palestinos não disparam foguetes contra judeus.
A frase de Netanyahu torna inútil qualquer peroração legalista ou moralista a respeito da ocupação.
O que conta, na prática, é apenas o seguinte: a violação da legalidade internacional funciona para Israel?
Por enquanto, está funcionando. Mas o crescente isolamento internacional do país e o crescente alcance dos foguetes do Hamas/Jihad Islâmica sugerem que a "terra de Israel" não pode indefinidamente impor sua vontade imperial.
Reprodução da coluna de Clóvis Rossi, na Folha de São Paulo. Destaque do blogueiro.
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