Este é um convite a você, querido leitor, a exercitar sua imaginação e a dar um breve descanso ao seu senso crítico.
Feche os olhos e imagine comigo a seguinte situação. Não, não é para fechar os olhos de verdade porque assim você não vai conseguir ler o texto, o que eu acabei de falar? Vamos deixar a lógica de lado e mergulhar nessa narrativa fantástica também conhecida como uma argumentação de defesa de alguns assediadores em série.
A sala, na penumbra, é ocupada por um grupo de mulheres que se reuniram clandestinamente na calada da noite. O objetivo do encontro não é dos mais nobres e deve ser mantido em sigilo absoluto. Elas estão se articulando para destruir a vida de um homem. E não se trata de um homem qualquer. Um profissional renomado, um pai de família dedicado, um grande amigo.
É quando uma das participantes levanta a seguinte questão: se ele é tão gente boa, por que elas querem prejudicá-lo? Um silêncio constrangedor lambe o recinto. Sei lá, inveja do pênis? Tédio? Dívida histórica? Ou até mera maldade, já que, em uma bizarra coincidência, todas as mulheres ali presentes compartilham da mesma personalidade perversa, deixando no chinelo qualquer vilã de novela das nove.
A estratégia proposta é controversa. Elas pretendem acusá-lo de assédio. O que ganham com isso? Nada. Inclusive, só têm a perder. A consequência mais provável é que elas sejam expostas, perseguidas, descredibilizadas, ameaçadas, insultadas, afastadas de seus trabalhos e de seus círculos sociais, processadas judicialmente e às vezes hostilizadas a ponto de ter que se mudar de cidade e começar uma nova vida.
Importante lembrar que, apesar de todo esse sacrifício, não existe nenhuma garantia de que o plano dará certo. É estatisticamente comprovado que a maioria dos assediadores sai impune por seus atos. Que dirá um indivíduo inocente, sujeito, claro, a eventuais deslizes decorrentes de uma estrutura patriarcal que o beneficia, mas, nesse caso específico, vitimado por uma conspiração cujo objetivo principal é destruí-lo?
A vitória é certa? De forma alguma. A jornada será agradável? Em nenhum aspecto. No geral, parece uma boa ideia? Definitivamente não. Mas elas topam, entoando, em uníssono, seu grito de guerra: Morte ao pênis! Assim termina essa fábula amoral que, inacreditavelmente, ainda encontra eco nos dias de hoje.
Texto de Manuela Cantuária, na Folha de São Paulo.
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