Kim-Jong-un testa paciência da China
Pequim luta para controlar um jovem líder valioso
Por JANE PERLEZ
PEQUIM - Enquanto Kim Jong-un, o jovem líder da Coreia do Norte, se consolida no poder, a China dá sinais de frustração diante do comportamento beligerante de seu antigo aliado. Desde que sucedeu o pai, Kim Jong-il, seis meses atrás, Kim rapidamente alienou o governo Obama e colocou a Coreia do Norte no caminho para desenvolver uma ogiva nuclear que poderia atingir os EUA dentro de alguns anos, segundo analistas.
Mais surpreendente, porém, é como Kim desprezou a vontade da China, cuja generosidade econômica mantém o governo na superfície. Por exemplo, pouco depois de Kim assumir, um vice-ministro das Relações Exteriores chinês visitou a capital norte-coreana e o advertiu duramente para não proceder com um teste de míssil balístico. O novo líder foi em frente mesmo assim.
Agora, o governo Obama e o governo chinês, que se consultam preocupadamente sobre a Coreia do Norte, esperam para ver se Kim vai seguir as pegadas de seu pai e realizar o terceiro teste nuclear da Coreia do Norte. Os testes anteriores foram em 2006 e 2009. Em junho, a agência de notícias norte-coreana disse que não havia planos para um terceiro teste "no momento", declaração que, segundo analistas, sugere que Kim espera um momento mais adequado.
"Nós deixamos isso absolutamente claro para eles: somos contra qualquer provocação", disse Cui Tiankai, outro vice-ministro chinês das Relações Exteriores, em uma entrevista recente, quando perguntado sobre um possível terceiro teste nuclear da Coreia do Norte. "Nós lhes dissemos de maneira muito direta, e diversas vezes, que somos contra."
O comportamento errático de Kim se revelou cedo. No final de fevereiro, seu governo assinou um acordo com os Estados Unidos para congelar seus programas de armas nucleares e de mísseis balísticos, dando esperança de que ele seria mais aberto a mudanças que seu pai. Mas, seis semanas depois e sem informar a China, Kim ordenou o teste de míssil. Washington viu a situação como um teste para o lançamento de uma arma nuclear.
O teste realizado em abril foi um fracasso, mas isso não serviu para aliviar as preocupações do governo Obama de que Kim está decidido a seguir em frente com seu programa de armas nucleares. Desde então, Kim formalizou a Coreia do Norte na Constituição como um "Estado nuclearmente armado".
Kim, cuja idade exata é desconhecida (acredita-se que tenha 28 ou 29 anos), assumiu o poder imediatamente depois da morte de seu pai e afastou as primeiras suposições de que seu mandato seria principalmente conduzido por seus parentes mais velhos.
Para se recuperar do embaraço do teste de míssil fracassado, Kim deslanchou uma advertência beligerante à Coreia do Sul, no final de abril, ameaçando que uma equipe "de ação de operações especiais reduzirá a cinzas a liderança de rato" do presidente Lee Myung-bak.
Apesar da obstinação de Kim, a China impede que a economia desabe. Logo depois de Kim assumir o poder, por exemplo, a China deu à Coreia do Norte 500 mil toneladas de alimentos e 250 mil toneladas de petróleo cru, segundo o Grupo Internacional de Crise. Isso ajudou a superar o que uma autoridade de ajuda alemã disse que foi a pior seca em 60 anos. Até agora, a ajuda parece ter evitado o desastre.
A generosidade da China não comprou sua imunidade contra o rancor norte-coreano. Cerca de 25 pescadores chineses foram mantidos em cativeiro durante duas semanas pela Coreia do Norte em maio. Depois de sua libertação, um dos pescadores contou que seu barco foi abordado por homens da marinha norte-coreana portando armas. Os barcos e os homens foram saqueados, e os homens ficaram só de cuecas, disse o pescador.
Esse comportamento despertou protestos em sites chineses, e analistas chineses normalmente calmos que acompanham a Coreia do Norte disseram que estavam furiosos. Não obstante, altas autoridades chinesas "não ousam usar a vantagem econômica da China" contra a Coreia do Norte, disse Shi Yinhong, um professor de relações internacionais na Universidade Renmin, em Pequim. Isso porque um colapso do governo norte-coreano poderia resultar em uma Coreia unida aliada aos EUA.
De fato, enquanto a China se preocupa mais com o que considera os esforços de contenção redobrados dos EUA contra a China -incluindo o posicionamento de mais navios de guerra no Pacífico-, menos inclinada ela é a ajudar os EUA sobre a Coreia do Norte, disse Yun Sun, um analista chinês em Washington.
"A China não ajudará os EUA e a Coreia do Sul a solucionar o problema da Coreia do Norte ou a acelerar uma solução não amistosa com a China, já que a China se considera a próxima na lista'", escreveu em um artigo no final de junho.
E, sobretudo, há motivos históricos para a proteção da China à Coreia do Norte, disse um experiente diplomata americano e especialista em China. "Pequim desaprova todos os aspectos da política norte-coreana", escreveu em um artigo em junho J. Stapleton Roy, um ex-embaixador americano na China e hoje vice-presidente da Kissinger Associates.
Mas, com as memórias da Guerra da Coreia e de como o Japão usou a península para lançar sua invasão e ocupação de grande parte da China de 1937 a 1945, "Pequim tem um enorme interesse", escreveu Roy, "em manter a influência em Pyongyang e em não permitir o predomínio de outras potências.
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