Tristeza, e não ciência, no fim do mundo
TERRENCE RAFFERTY
ENSAIO
ENSAIO
"Alguns dizem que o mundo vai acabar em fogo. Alguns dizem que é em gelo", escreveu Robert Frost há quase cem anos. Porém, para os cinéfilos do século 21, esses fins tornaram-se um pouco banais.
As últimas interpretações fílmicas do tema do fim do mundo são mais íntimas e menos espetaculares do que "O Dia Depois de Amanhã" (2004). Tampouco são sagas de sobrevivência pós-desastre, como "A Estrada" (2009). O pré-apocalíptico é o novo pós-apocalíptico.
"Seeking a Friend for the End of the World" [Em busca de um amigo para o fim do mundo], de Lorene Scafaria, assim como "Melancolia" (2011), de Lars von Trier, apresenta a destruição da Terra por meio de uma colisão com outro grande corpo celeste. Essa é uma imagem forte e comum na ficção científica. A diferença é que nesses novos filmes não há ciência: nenhuma equipe de homens e mulheres que trabalham 24 horas para evitar o desastre, nem missões desesperadas. Em filmes dos anos 1950, como o maravilhoso "O Fim do Mundo" (1951), de Rudolph Maté, sempre há pelo menos uma fagulha de esperança e uma sensação bastante dramática de que os frágeis humanos estão todos juntos nessa terrível situação.
Nem esperança nem solidariedade da espécie pairam sobre as atuais versões do apocalipse. Em "Em Busca de um Amigo", "Melancolia" e no recente "4:44 Last Day on Earth" [O último dia na Terra], de Abel Ferrara (que usa uma catástrofe ecológica não especificada para acabar conosco), a destruição do mundo é uma conclusão predeterminada.
A sensação de resignação nesses filmes é assombrosa, mesmo quando, como em "Em Busca de um Amigo", os personagens tentam espremer mais algumas gotas de prazer terrestre nos dias que lhes restam. O tom do filme de Scafaria é mais leve que o de "Melancolia" ou "4:44". É um romance em que Steve Carell e Keira Knightley encontram o verdadeiro amor em uma nesga de tempo. Mas seus subtons são totalmente escuros.
Nossa visão do fim da Terra no século 21, ao que parece, é quase totalmente voltada para dentro. Não apenas faltam cientistas nesses filmes, como líderes políticos, militares e religiosos inexistem. A desilusão com as instituições que um dia poderiam ter oferecido alguma esperança de salvação é abrangente, universal e absoluta.
O mundo desses filmes também parece estranhamente despovoado, como se o apocalipse já tivesse acontecido e os sobreviventes vagassem pela paisagem calcinada como os peregrinos solitários de "A Estrada".
"Melancolia", que se passa em uma propriedade de campo isolada, na verdade usa o enorme planeta que se choca com o mundo, também chamado Melancolia, como uma metáfora para o estado mental perturbado de sua protagonista. Tudo o que acontece no filme não parece ter mais importância, ou tem menos, do que os estranhos pensamentos que se chocam em seu cérebro.
Se você for fazer um filme sobre o fim de tudo, é bom buscar algum tipo de, você sabe, significado. Isso é mais fácil quando o medo é muito específico, como foi na era da proliferação nuclear. O temor de hoje é muito mais amorfo, uma nuvem de inquietação que se condensa sobre economias abaladas, instituições disfuncionais, mudança climática: os céus estão cheios de más profecias. O que está errado com o mundo, o que poderia terminá-lo e por quê, são perguntas mais difíceis hoje em dia. O planeta está em um clima muito deteriorado, e os remédios não parecem estar funcionando.
Os novos filmes de espera pelo fim, embora alguns sejam muito hábeis, parecem especialmente evasivos. Um apocalipse totalmente personalizado é, para colocar de modo simples, um apocalipse pequeno demais.
Aqui em 2012 nossas cabeças podem estar explodindo -ou congelando- de dúvida, confusão, ansiedade. No entanto, afinal, não é o fim do mundo.
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